Cantora Alaíde Costa comemora 60 anos de carreira

Comemorando 60 anos de carreira, a cantora Alaíde Costa lança pelo selo Nova Estação e Gravadora Eldorado seu primeiro CD autoral, Canções de Alaíde, que traz composições suas em parceria com Antonio Carlos Jobim, Geraldo Vandré, Johnny Alf e Vinicius de Moraes, entre outros grandes nomes da MPB. Seu CD autoral será lançado em dois shows em São Paulo, o primeiro hoje, às 20 horas, no Teatro Décio de Almeida Prado, e o segundo na Galeria Olido, amanhã, no mesmo horário. Ambos os espetáculos são gratuitos.

Para marcar a data, Alaíde, que completa 79 anos no dia 8, será acompanhada nos shows por todos os músicos que tocam no CD: o pianista Giba Estevez, que assina a direção musical e a maioria dos arranjos, o tecladista Gilson Peranzetta, o flautista Vitor Alcântara, os violonistas Conrado Paulino e Fernando Corrêa, o baixista Mário Andreotti e seu filho, o cantor e violonista Marcelo Lima, que pode ser ouvido ao lado da cantora na faixa Meu Sonho, parceria de Alaíde com Johnny Alf.

Johnny Alf (1929-2010) foi, segundo o escritor e jornalista Ruy Castro, “o verdadeiro pai da bossa nova”. Já Alaíde pode ser considerada a “mãe”, pois gravou ‘Lobo Bobo’, de Carlos Lyra e Ronald Bôscoli, antes de João Gilberto em seu álbum de estreia (Chega de Saudade, 1959), quando a bossa nova ainda dava seus primeiros passos. A despeito da importância histórica de ambos para a história do gênero que fez o Brasil ingressar na modernidade musical, nem Johnny Alf – aliás, Alfredo José da Silva, carioca de Vila Isabel – nem Alaíde foram festejados como Tom Jobim e João Gilberto. Os pais oficiais da bossa nova, pelo menos, souberam reconhecer o talento da cantora em estado embrionário.

“Jobim me ouviu na casa de Vinicius (de Moraes), onde eu, uma suburbana sem vitrola, tomei conhecimento da existência de Chet Baker, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan”, lembra Alaíde, que gravou seu primeiro disco em 1957 (Tarde Demais). Admirado com sua voz, Jobim, que a descobriu na casa do poeta, amigo e parceiro, assinaria com ela a canção Você É Amor, que antecede no CD a faixa Amigo Amado, uma das duas canções que Alaíde compôs com Vinicius (a outra é Tudo o Que É Meu).

O CD Canções de Alaíde, pelos títulos das músicas, tem a inequívoca intenção de celebrar o amor. É deliberadamente monotemático e conceitual: nele, se esboça uma narrativa literária dos vários estágios amorosos, da paixão alucinada à resignação do amor fraternal, como traduz a letra de Amigo Amado, que encerra o disco com a participação muito especial de Gilson Peranzetta ao piano. Nela, muito sábio, o poetinha Vinicius diz: “Saberei ocultar o meu amor, como a noite oculta a flor/que enche de aroma/o meu jardim”.

Peranzetta participa ainda da faixa Ternura (Alaíde Costa e Geraldo Julião), como pianista e arranjador, evocando o toque suave de Shirley Horn para acentuar o lado jazzístico de Alaíde, que já foi comparada por outro pianista, o mito canadense Oscar Peterson (1925-2007), a uma outra diva do jazz, Sarah Vaughan, quando a viu cantar na boate Canto Terzo, em 1969.

Apesar disso, diz Alaíde, nunca sentiu vontade de seguir carreira nos EUA. É convidada frequentemente para festivais de jazz na Europa, gravou na França, mas também passou por dificuldades na vida, de problemas de saúde até a incompreensão dos magnatas da indústria fonográfica, que queriam obrigar Alaíde a cantar sambões, ela que tem a voz aveludada e um timbre delicado como o de Blosson Dearie e Astrud Gilberto.

“Embora gostasse de Dalva de Oliveira quando comecei a cantar em programas de calouros, nos anos 1950, meu modelo era uma cantora chamada Neusa Maria (1928-2011), que cantava suave.” Essa filha de italianos de nome impronunciável (Vasilíki Purcio) abandonou a carreira em 1960 para abrir uma confecção de maiôs, justamente quando Alaíde se mudou para São Paulo e começou a fazer sucesso em programas como O Fino da Bossa, cantando seu maior sucesso até hoje, Onde Está Você?, composição de Oscar Castro Neves e Luverci Fiorini.

Nos anos 1960 também surgiram os primeiros sintomas de uma doença progressiva que quase comprometeu sua audição, obrigando a cantora a se afastar dos palcos. Com problemas financeiros, chegou, na década de 1970, a contar com a ajuda de amigos para fazer duas cirurgias (um implante de platina que a livrou da surdez). Milton Nascimento ainda produziria um de seus melhores discos, Coração (1976), participando de outro antológico, Amiga de Verdade (que tem um elenco all star, de Johnny Alf a Paulinho da Viola, passando por Egberto Gismonti e Ivan Lins). “Nunca ouço as gravações antigas”, observa a tímida Alaíde, que gravou as canções de seu CD autoral num único take. “É difícil repetir a emoção”, justifica.

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