Morreu na noite deste sábado, 29, aos 70 anos, o cantor e compositor Belchior, em Santa Cruz, cidade do Rio Grande do Sul. O artista estaria há cerca de um ano e meio vivendo na cidade com sua companheira.

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Os familiares do músico nascido em Sobral, no Ceará, confirmaram a morte para o jornal cearense O Povo, o primeiro a informar o falecimento. Pouco tempo depois, o governador do Estado, Camilo Santana, se pronunciou no Facebook e decretou luto oficial no Ceará por três dias.

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Conforme uma informação da Brigada Militar, a possível causa da morte de Belchior foi apneia, enquanto dormia. Segundo outras fontes policiais, ele teria morrido mesmo de causas naturais, pois já estava doente há algum tempo. Até o início da tarde deste domingo, 30, o corpo aguardava, em casa, liberação, para ser levado ao Ceará, onde será velado.

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Belchior vivia na Residência Bom Padrão, no bairro Santo Inácio. Conforme relato de testemunhas que estão em frente à residência esperando mais informações sobre o ocorrido, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada por volta das 7 horas. Mas, ao chegar no local, os paramédicos já encontraram o compositor sem vida.

Belchior estaria morando recluso. Alguns vizinhos, inclusive, nem sabiam que ele estava morando no local. Entretanto, sabe-se que o cantor possuía amigos na cidade.

Ele morava em Santa Cruz do Sul há cerca de um ano. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que, enquanto estava desaparecido, Belchior morou durante três semanas na Ecovila Karaguatá, uma comunidade alternativa no distrito de Rio Pardinho, a 156 quilômetros de Santa Cruz do Sul.

“Recebi com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense Belchior. Nascido em Sobral, foi um ícone da Música Popular Brasileira e um dos primeiros cantores nordestinos de MPB a se destacar no país, com mais de 20 discos gravados”, diz o texto publicado na rede social de Camilo Santana, que segue: “O povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil. Que Deus conforte a família, amigos e fãs de Belchior.”

Homenagem

Realizado na região da Praia de Iracema, em Fortaleza, desde terça-feira, 25, o festival gratuito Maloca Dragão promoverá o show “Viva Belchior – tributo dos artistas cearenses ao rapaz latino americano”, que não integrava a programação inicial do evento.

A apresentação em homenagem contará com artistas da cena local, com artistas conhecidos como “pessoal do Ceará”, movimento de uma cena que contou com Rodger Rogério, Amelinha e Fausto Nilo. Nomes como Nayra Costa, da nova geração, também integrará a programação.

Onde está Belchior?

Em 2006, o cantor e compositor, criador de hinos da MPB, como Alucinação, Apenas um Rapaz Latino Americano e Como Nossos Pais, sumiu sem deixar (muitos) vestígios.

Na celebração dos 40 anos de lançamento do disco de estreia do músico, chamado Alucinação, a equipe do Caderno 2 buscou informações sobre o paradeiro dele. As últimas informações davam conta de que Belchior havia sido visto no Rio Grande do Sul, Estado onde ele morreu, e que ele havia desaparecido propositalmente por conta de dívidas que não conseguia pagar.

Belchior deixou o flat onde morava com a mulher Ângela Margareth Henman Belchior e os dois filhos na zona sul da capital paulista no final de 2006, quando os problemas financeiros ficaram mais intensos. Ele também abandonou os dois carros.

O Sonata Hyundai branco, deixado no Aeroporto de Congonhas, continua no mesmo local. A reportagem tentou ter acesso ao veículo, mas, por causa de processos judiciais, não conseguiu vê-lo.

Segundo levantamento feito pela reportagem na época da sua publicação, em 8 de maio de 2016, as dívidas com a administradora SAO Parking ultrapassam o valor de R$ 200 mil. O outro carro, uma Mercedes, abandonado em um estacionamento próximo ao seu apartamento, foi localizado no pátio Presidente Wilson.

O veículo está no local desde o dia 24 de junho de 2011 e soma, aproximadamente, R$ 3 mil em multas. Já com o estacionamento na zona sul onde ele havia sido deixado, as multas passam de R$ 70 mil.

Belchior se autoexilou. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que até suas palavras foram minguando nos últimos anos. Era pontual, chegava no escritório às 8 horas, tomava pó de guaraná, lia. O produtor Célio Silva foi chamado, certa vez, para socorrê-lo quando Belchior foi ameaçado pelo pedreiro que cobrava mais dívidas.

A Silva, Belchior explicou o desejo de aumentar o cachê dos seus shows, comparando-se a Zeca Baleiro, que, segundo ele, ganhava mais dinheiro do que ele. Os chamados para apresentações, contudo, minguaram. De 15 apresentações mensais, ele passou a ter dificuldade para encontrar contratantes dispostos a tê-lo no palco.

As dívidas cresciam e, encurralado, Belchior sumiu. Passou a se disfarçar. Escondia-se. Até o velório da mãe, Dona Dolores, ele perdeu para não ser encontrado.