Caixa de DVD traz os curtas da Casa de Cinema de Porto Alegre

Em dezembro, a Casa de Cinema de Porto Alegre completou 18 anos. Quase duas décadas de uma história que na verdade, começou antes, pois em sua primeira fase a Casa foi uma cooperativa de 11 realizadores, reunidos em quatro pequenas produtoras. A idéia era criar um espaço comum para trabalhar a distribuição dos filmes prontos e executar os próximos. Em 1991, a Casa de Cinema virou uma produtora independente com seis sócios, sem perder o espírito cooperativo nem a vontade de continuar contribuindo para a difusão dos filmes produzidos pelo grupo original.

Tudo isso vem contado no texto que acompanha a caixa com quatro DVDs que reúnem a totalidade da produção de curtas da Casa. Três dos discos são dedicados às estrelas da Casa de Cinema – Jorge Furtado, Carlos Gerbase e Ana Luiza Azevedo. O quarto, sob o título "Outras Histórias", inclui os filmes de outros realizadores também ligados à Casa, cuja sede fica numa rua ainda tranqüila de Porto Alegre, a Miguel Tostes. Os interessados em obter mais informações sobre a produtora podem acessar o site www.casacinepoa.com.br. Os cinéfilos sabem que o melhor é desfrutar a qualidade dos curtas reunidos na caixa.

Um deles, apesar da curta duração (12 minutos), é um dos maiores filmes da história do cinema brasileiro, tendo estabelecido, sozinho, a reputação de Jorge Furtado – "Ilha das Flores". Mas o disco dedicado ao diretor traz outras preciosidades de sua produção – "Temporal" e "O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda", da época de sua parceria com José Pedro Goulart; "Barbosa", realizado em parceria com Ana Luiza Azevedo; e "A Matadeira", "Esta não É Sua Vida" e "O Sanduíche". As jóias de Ana Luiza são "Ventre Livre", "Três Minutos" e "Dona Cristina Perdeu a Memória". As de Gerbase, "Passageiros", "Deus Ex-Machina" e "Sexo & Beethoven – O Reencontro". Todos os discos são repletos de extras – depoimento de Ana Luiza e making of de "Dona Cristina"; depoimento de Gerbase, bastidores de "Deus Ex-Machina" e making of de "Passageiros"; depoimento de Furtado e making of de Dorival e "A Matadeira".

E a caixa ainda inclui "Anchietanos", que integra a série "Comédia da Vida Privada", da Globo, pois a Casa de Cinema não tem produzido apenas filmes e vídeos. Também faz programas de TV realiza cursos de roteiro e realização de filmes, promove debates e, há quatro anos, é responsável pela programação do Cine Santander Cultural, em Porto Alegre. É uma história que seria riquíssima mesmo nos grandes centros como Rio e São Paulo – e à qual se agregam os longas ("Houve Uma Vez Dois Verões", "O Homem Que Copiava" e "Meu Tio Matou Um Cara", de Furtado) -, mas que é ainda mais notável porque a Casa adquiriu toda essa importância, e reconhecimento, fora do eixo. A história do cinema no Rio Grande do Sul com certeza passa pelo endereço no bairro Rio Branco.

Desde que alguns curtas da Casa foram reunidos pioneiramente em vídeo, seus integrantes sonhavam com algo maior. A popularização do DVD, com sua alta qualidade de som e imagem, deu mais força ao sonho. "Foi um trabalho intenso", define Jorge Furtado. "Tivemos que recuperar e telecinar ou retelecinar todas as cópias, os filmes foram legendados e alguns ganharam novas trilhas, porque o "Temporal", por exemplo, tinha música do Rolling Stones, cujos direitos a gente não possuía." A própria Casa pagou pela iniciativa, que não teve nenhum apoio oficial, exceto as liberações de filmes e programas pela Globo e pela RBS. O investimento foi de R$ 80 mil. A caixa está sendo vendida a R$ 140. Se forem vendidas mil caixas, o orçamento de produção e distribuição estará coberto. Mas há coisa que não tem preço. "Com exceção do programa sobre futebol, na série da Comédia, toda a minha produção, agora falo de forma bem pessoal, está mapeada em DVD. Tudo o que fizemos, a Ana, o Gerbase, o Giba (Assis Brasil) está disponível. É genial", diz o diretor, que prepara o novo longa ("Saneamento Básico") e lança em março o romance "Trabalhos de Amor Perdido".

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