Broadway às escuras por Katharine Hepburn

São Paulo

– A constelação de Hollywood perdeu uma de suas estrelas mais cintilantes. Vencedora de quatro Oscar, Katharine Hepburn morreu na tarde de domingo aos 96 anos de idade, rodeada de familiares e amigos em sua casa em Connecticut, conforme informaram fontes próximas à atriz.

A morte de Katharine comoveu os Estados Unidos. Admiradores colocaram buquês de flores na rua onde morava, e houve uma cerimônia na Calçada da Fama. Em homenagem inédita, as luzes da Broadway serão apagadas hoje para homenagear a atriz. As luzes já tinham sido apagadas em respeito aos mortos do atentado de 11 de setembro, mas é a primeira vez que isso acontece em honra de alguém do show biz. Retrospectivas prometem a revisão de seus filmes mais famosos e seus recordes históricos são lembrados a todo instante: 12 indicações para o Oscar (feito igualado apenas recentemente por Meryl Streep) e quatro estatuetas de melhor atriz, este não superado.

Dificilmente se terá idéia, no exterior, daquilo que Katharine Hepburn representou para seu país. Costuma-se dizer que ela não foi um furacão das telas como Marilyn Monroe ou Rita Hayworth, e há quem acredite que nunca atingiu o nirvana da interpretação. Suas atuações eram consideradas “frias” – mas sendo assim seria preciso rever com urgência A Longa Jornada Noite Adentro, que Sidney Lumet adaptou de Eugene O?Neill. Neste filme ela está magnífica como a matriarca da família em dissolução.

Katharine agia – e era -uma grande dama, vinda de família aristocrática de Hartford, Connecticut, onde nasceu em 9 de novembro de 1909. Filha de um cirurgião famoso e de mãe feminista avant la lettre, Katharine era mulher de beleza sólida nada agressiva, mas que parecia olhar o mundo de cima para baixo. Uma beleza de nariz em pé. Com apenas 24 anos recebeu um Oscar, por Manhã de Glória, de George Cukor. Os outros vieram por Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981). São obras-primas? Não. No entanto, cada um desses filmes é percorrido e marcado pelo toque de classe de Katharine.

Foi a carreira de uma grande dama e ela sempre quis ser vista como tal. Soube, até mesmo em razão da segurança propiciada pelo background familiar, colocar-se a salvo daquela máquina de moer carne chamada Hollywood. A indústria do cinema, que triturou muita gente frágil como Marilyn Monroe, em nada atingia Katharine. Viveu como quis e não dava bola para fofocas. Foi assim que manteve sem problemas a ligação com Spencer Tracy, casado com outra, católico, e que nunca se separou da esposa oficial, a atriz Louise Treadwell. Ela mesma achava que sua vida se dividia em duas: antes e depois de conhecer Spencer Tracy. Ficaram juntos durante 27 anos e nove filmes, até 1967, quando o ator morreu, logo depois das filmagens de Adivinhe Quem Vem para Jantar. Depois da morte de Tracy, Katharine caiu em depressão. Mas não perdeu a classe.

Essa classe não incluía o que se costuma chamar de o glamour hollywoodiano. Ela preferia vestir calças compridas, não gostava de se maquiar e era avessa a entrevistas. A grande dama gostava de ter vida privada, o que parece uma excentricidade hoje em dia.

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