Breve história da escravidão

Os primeiros indícios da escravidão foram encontrados na Antigüidade egípcia. A economia egípcia apoiou-se na servidão coletiva: “Os camponeses eram obrigados a realizar grandes obras de irrigação, coordenadas pelo Estado, além de construírem depósitos de armazenagem, templos, palácios e monumentos funerários” (Vicentino e Dorigo, 2001). A servidão coletiva, no entanto, ainda não pode ser interpretada como escravidão. Anderson (1986) comenta que “as cidades-Estado gregas tornaram a escravatura pela primeira vez absoluta na forma e domínio na extensão, transformando-a desse modo de recurso subsidiário em modo de produção sistemático”. Foi no período arcaico (VIII a.C.-VI a.C.) que surgiram as poleis (cidades-Estado) e com elas as oligarquias, grupos dominantes em cada cidade.

No Brasil, a discriminação se fez presente com os primeiros negros advindos da África (“negros da Guiné”), entre os anos 1549-1550, para atender às necessidades dos senhores de engenho. Fausto (2003) esclarece que o negro foi considerado ser de raça inferior. No séc. XIX, “teorias pretensamente científicas reforçaram o preconceito: o tamanho e a forma do crânio dos negros, o peso de seu cérebro, etc. ?demonstravam? que se estava diante de uma raça de baixa inteligência e emocionalmente instável, destinada biologicamente à sujeição”. Lembro que, antes dos negros, se tentou escravizar os índios, mas foi inviável.

Embora o sociólogo Gilberto Freire (1933) tenha se referido a uma relação harmoniosa entre dominadores e dominados (escravidão bondosa), ela não ocorreu. Os quilombos comprovam isto, principalmente o quilombo dos Palmares no interior de Alagoas. Lopez (1983) diz: “Humilhado, espezinhado, maltratado, submetido a vexames e até sadismos inimagináveis, como salgamento de feridas produzidas por chicotadas, castração, corte de seios, quebra de dentes a martelada e emparedamento vivo, o negro nunca aceitou a sua condição docilmente, como tantas vezes se propalou. Nas palavras de Arthur Ramos, o negro foi bom trabalhador e mau escravo. Reagiu sempre que pôde e como pôde: fugindo, assassinando, rebelando-se”. Foram quase 400 anos de humilhações. A escravidão chegou ao seu final somente em 1888.

E hoje, qual é a postura diante do preconceito? Existem diversidades de opiniões e ações, mas opto por relatar um exemplo do que se fez, na prática, para resgate histórico da cultura afro. Por intermédio da diretoria, supervisão, professores, alunos e funcionários da Escola Estadual Professora Rosa Frederica Johnson-Ensino Fundamental, situada à rua João Antunes de Lara, 47, Almirante Tamandaré-PR, foi realizada a semana de aprofundamento da Cultura Negra, entre os dias 7 e 10 de outubro de 2003, na qual os alunos apresentaram danças, relembraram o sofrimento dos escravos, por intermédio de apresentação teatral, e capoeira, além de saborear uma feijoada, que “teve origem no aproveitamento da buchada e das partes do porco jogadas fora no abate (que na época visava apenas o fornecimento de carne e gordura), que os escravos das fazendas acrescentavam ao feijão durante o seu cozimento”. (Larousse Cultural, 1998).

Em 2 de outubro, para preparar o ambiente da Semana Cultural no turno matutino da escola, Aramis Chain, historiador e livreiro, realizou palestra que rememorou fatos da história dos negros, desde sua chegada até as questões raciais atuais, Chain afirma que, “no Brasil, a segregação se dá por dinheiro e que existe uma falsa moral na sociedade”. Na verdade, não interessa se o indivíduo é negro. Se ele tem dinheiro no bolso, é respeitado e estimado; se não tem, é discriminado.

Sem dúvida, vive-se o ápice do capitalismo com valorização extremada do ter em contraposição ao ser. Porém, muitos negros continuam submissos e discriminados, basta analisar a polêmica sobre o acesso deles nas universidades.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva

é professor, pesquisador, historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (
queirozhistoria@terra.com.br).

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