Brasileiros invadem Festival de Cannes 2004

Vai ser a maior festa do cinema brasileiro em Cannes e isso independentemente de Diários de Motocicleta ganhar a Palma de Ouro. Há controvérsia sobre o filme de Walter Salles, produzido pelo Film Four inglês, com a participação de uma empresa francesa. Até que ponto é brasileiro? Diários deveria concorrer no festival como filme latino, já que é falado em espanhol, envolve grupos de apoio na Argentina, no Chile e no Peru e o seu tema é a descoberta da América Latina pelo jovem Ernesto Guevara, antes de virar o Che.

O que une o filme ao Brasil é o diretor. A festa brasileira ficará por conta da celebração que o maior evento de cinema do mundo faz dos 40 anos do Cinema Novo, com uma extensa programação que privilegia especialmente a figura mítica de Glauber Rocha.

Glauber vai estar em todas, em Cannes. Seu filho Erik participa da competição com o curta Quimera, um experimento de audiovisual, sem diálogos, em parceria com o artista plástico Tunga. Glauber – O Filme: Labirinto do Brasil, de Sílvio Tendler, será exibido na seleção oficial, fora de concurso, e as duas obras-primas do autor serão exibidas em diferentes seções do evento. Cannes está criando uma nova mostra, intitulada Classics, só para filmes restaurados. Terra em Transe será exibido nela. Deus e o Diabo na Terra do Sol integra outro programa -o que o próprio responsável pela seleção oficial, Thiérry Frémaux, organizou para comemorar os 40 anos do Cinema novo.

Responsável pela seleção oficial de Cannes, Thiérry Frémaux organizou (como desagravo?) a mostra de seis filmes que serão exibidos no palais. Não organizou sozinho. A homenagem que Cannes presta ao cinema brasileiro em 2004 começou a surgir no Festival do Rio do ano passado, onde Frémaux esteve, como convidado. Não por acaso, Hilda Santiago, do Grupo Estação e do Festival do Rio, trabalha atualmente 25 horas por dia para que saia tudo certo nesta festa brasileira em Cannes. “Sou uma funcionária não paga de Cannes”, ela diz, rindo.

E vai culminar numa festa de verdade, no dia 17, com a participação do ministro Gilberto Gil, da Cultura. Hilda destaca parcerias importantes, que estão ajudando a viabilizar a homenagem. O Grupo Novo de Cinema, de Tarciso Vidigal, está operacionalizando toda a logística das exibições. Cópias, legendagem, transporte, está tudo a cargo do pessoal do Grupo Novo, que há dez anos participa de festivais em todo o mundo, mostrando a produção nacional recente e também resgatando clássicos. O Grupo Novo distribui internacionalmente os filmes de Glauber. “Ele vai ser a alma de Cannes em 2004”, diz a assessora de Imprensa Internacional e coordenadora de Festivais do grupo, Suzana Schild.

Outra parceria decisiva é a da RioFilme, cujo presidente atual, José Wilker, é o ator que faz Lorde Cigano em “Bye Bye Brasil” e Vadinho em “Dona Flor”. A RioFilme Comission, formada para tornar a Cidade Maravilhosa atraente como locação para produtores de todo o mundo, vai promover cafés da manhã diários no mercado. O must será a festa do dia 17, mas esta, por enquanto, é segredo. Hilda informa apenas que o convite será assinado, conjuntamente, pelo Festival do Rio e pelo Fond Sud, que completa 20 anos de apoio à produção de filmes no Hemisfério Sul.

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