Brasil ganha destaque no Festival de Cannes

A partir de hoje e até o dia 23 a nata do cinema mundial – la crême de la crême, como dizem os franceses – desfila pelo tapete vermelho do 57.º Festival International du Film, em Cannes. O mais importante festival de cinema do mundo organizou uma seleção para cinéfilo nenhum botar defeito.

A mostra será vitrine de lançamento para os novos filmes de alguns dos maiores ou mais badalados diretores do mundo – o documentarista americano Michael Moore, os diretores de ficção Emir Kusturica, Wong Kar-wai e Kore-Eda Hirokazu, o primeiro duas vezes vencedor da Palma de Ouro (por Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, em 1985, e Underground – Mentiras de Guerra, em 1995), os outros dois ainda tentando a primeira Palma.

A grande festa do cinema será inaugurada amanhã com La Mala Educación, de Pedro Almodóvar, com Gael García Bernal, o ator de Diários de Motocicleta, fazendo um travesti. Almodóvar promete arrebentar na Croisette com o filme que evoca seus verdes anos na moviola, quando o fim da ditadura do generalíssimo Francisco Franco promoveu o desbunde geral no país.

Será um ano muito especial para o Brasil. Cannes vai colocar o foco sobre o cinema brasileiro, homenageando o Cinema Novo numa mostra especial, além de incluir filmes ligados ao País – o longa Diários de Motocicleta, de Walter Salles, o curta Quimera, de Erik Rocha e Tunga – na competição. O foco não estará só no Brasil. A América Latina ganha uma importância extraordinária, com diversos filmes participando da competição ou sendo exibidos em mostras paralelas. Diários, embora produzido com capitais da Inglaterra e da França, é um filme latino. La Niña Santa, de Lucrecia Martel, da Argentina, com participação francesa, é outro título importante da competição.

Será também um festival marcado pela política. Michael Moore, que usou a vitrine de Cannes para promover Tiros em Columbine há dois anos, assumindo-se como liderança contra o presidente George W. Bush – o maior alvo de seus ataques -, com certeza não vai perder a oportunidade de fazer do novo documentário, Fahrenheit 911, a ponta de lança de sua pregação contra a reeleição do presidente americano.

Mais de 3.500 filmes – exatamente 3.562 – foram apresentados à comissão de seleção coordenada por Alain Frémaux e ele selecionou os 56 que compõem a seleção oficial, nas mostras competitiva de curta e longa-metragem e na prestigiada seção Un Certain Regard. Cada vez há mais controvérsia na avaliação dos critérios dessa seleção.

Enfim, Cannes não seria a mesma coisa sem controvérsia. O festival é suficientemente amplo para fazer coexistir, com a parte artística, a dimensão comercial do cinema. Há um mercado no qual o que menos se discute é qualidade – o que importa, ali, é se o filme vai dar dinheiro ou não.

Manifestantes estão na surdina

A organização do maior festival de cinema do mundo chegou a um acordo de última hora, na terça-feira, com os atores e técnicos franceses que trabalham em regime de tempo parcial e que ameaçavam perturbar o Festival de Cinema de Cannes. Na véspera da abertura oficial, os organizadores anunciaram que deram aos manifestantes uma plataforma na qual declarar suas reivindicações em relação ao corte dos benefícios de desemprego. Os trabalhadores receberão as boas-vindas oficiais na noite de gala de abertura, na quarta-feira, no Palais des Festivals. Eles vão promover suas coletivas de imprensa próprias e terão encontros com atores e diretores para discutir seu futuro.

A vitrine do cinema internacional vinha sendo ameaçada de caos pelos trabalhadores que, no verão passado, conseguiram forçar o cancelamento de vários importantes festivais de arte franceses. O acordo de última hora representou um alívio imenso para Cannes, que durante doze dias vai abrigar grandes nomes do mundo do cinema.

Tróia estréia sexta em busca de milhões

Filmes épicos estão na moda. Hollywood sabe disso e como os investidores do cinema não perdem tempo nem dinheiro, investem pesado para ir buscar gordos lucros. Ou prejuízos fatais. Tróia custou 250 milhões de dólares e é um risco, apesar do apelo de Brad Pitt, que está sozinho no pôster oficial do filme.

A história é conhecida, vale a produção, os efeitos especiais e o capricho da direção de arte e da fotografia.

Para quem não conhece, na Grécia antiga, a paixão de um dos casais mais lendários da história, Páris, príncipe de Tróia (Orlando Blum) e Helena (a bela Diane Kruger) rainha de Esparta, desencadeia uma guerra que irá devastar uma civilização. Páris rouba Helena de seu marido, o rei Menelau (Brendan Gleeson) e este é um insulto que não pode ser tolerado. A honra da família determina que uma afronta a Menelau seja considerada uma afronta a seu irmão Agamenon (Brian Cox), o poderoso rei de Micenas, que logo une todas as tribos da Grécia para trazer Helena de volta, em defesa da honra do irmão. A chave da derrota ou da vitória sobre Tróia é um único homem: Aquiles (Brad Pitt), tido como o maior guerreiro vivo. Arrogante, rebelde e aparentemente invencível, Aquiles não tem lealdade a nada nem a ninguém, a não ser à sua própria glória. É sua sede insaciável pelo eterno reconhecimento que o leva a atacar os portões de Tróia sob a bandeira de Agamenon, mas será o amor que acabará por decidir seu destino.

Dois mundos entrarão em guerra por honra e poder. Milhares perecerão em busca de glória. E, por amor, uma nação será reduzida a cinzas. Tróia é inspirado na Ilíada, obra épica de Homero, poeta da Antigüidade considerado o mais original mestre da literatura do Ocidente. Especialistas consideram que ele escreveu a obra no oitavo século A.C. e que a cidade-estado de Tróia tenha sido devastado uns 4 séculos antes.

A estratégia da Warner é demoníaca ? muita propaganda, e lançamento antes das férias e do verão no hemisfério norte, mas simultâneo em todo mundo. Será nesta sexta-feira, Brasil incluso.

Spielberg está de volta

Não são apenas os fãs de Steven Spielberg e Tom Hanks que aguardam a nova produção da dupla depois de Prenda-me se for capaz. A estréia de The terminal, marcada para 18 de junho nos Estados Unidos e 10 de setembro no Brasil (um dia antes de abrir o Festival de Veneza), é esperada ansiosamente também por pelo menos 40 cadeias de lojas e companhias americanas. O motivo: juntas, elas gastaram milhões e milhões de dólares construindo réplicas realistas de suas instalações para aparecerem no filme ambientado no Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York.

Entre as lojas que pouparam milhões da DreamWorks estão Burger King, Starbucks, Discovery Store, Godiva Chocolatier e American Express, entre outras. Nenhuma delas sabe o papel que vai representar no filme, nem se vai aparecer, já que Spielberg ainda está na fase de edição, como informou sua produtora.

Por enquanto sabe-se que Tom Hanks é o personagem principal de The terminal, um imigrante do leste europeu que se vê preso no Aeroporto JFK devido a uma guerra que atinge seu pequeno país, invalidando seu passaporte. Ele acaba fazendo do aeroporto seu novo lar e, ao que consta, passa muito tempo em várias das lojas e dos restaurantes cujas réplicas foram erguidas no set de filmagem da DreamWorks.

Caso real

Spielberg não confirma, mas sua inspiração pode ter vindo da história bizarra e real de Merhan Karimi Nasseri. Expulso do Irã por questões políticas em 1981, ele se refugiou na Bélgica, mas decidiu viver na Inglaterra, onde teve seu passaporte e seus documentos extraviados. Quando chegou a Londres, foi preso e enviado de volta para o último país no qual o avião havia feito uma escala: a França. Os oficiais franceses, por sua vez, tentaram prendê-lo por entrar ilegalmente no país, mas, como não encontraram documento algum, não sabiam para que país ele deveria ser deportado. Isso ocorreu em 1988.

Ao que tudo indica, é esse clima que o personagem de Hanks vai viver em The terminal. Aliado, claro, a muita emoção e doses de humor. Tudo isso dentro do mundo fantástico de Spielberg.

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