Bonito é fazer arte assim

Arte, cultura e meio ambiente. O slogan do 4.º Festival de Inverno de Bonito, no Mato Grosso do Sul, traduz exatamente o que os visitantes da cidade puderam experimentar na última semana. O evento, que terminou sábado com o show de Zé Ramalho, reuniu artistas de todas as áreas e foi usufruído, segundo estimativas dos organizadores, por 50 mil pessoas. O Estado foi o único veículo paranaense presente, a convite da organização.

A questão do meio ambiente é o que diferencia o festival de Bonito dos demais festivais culturais de inverno, como o de Campos de Jordão e de Antonina. Bonito ficou conhecida, nos últimos anos, como o paraíso do ecoturismo. A beleza de suas nascentes lapidadas pelos fundos de formação de calcário, que dão à água um tom azul turquesa, e a vegetação típica do Pantanal, transformaram a cidade, distante a 400 km de Campo Grande, em destino certo para aqueles que desejam curtir belezas naturais.

A relação estreita com a natureza fez com que fosse posta em prática uma proposta diferenciada no festival. Paralela aos espetáculos culturais e artísticos, é oferecida à população um série de mesas de debates sobre temas ambientais. Na edição de 2003, o tema escolhido foi A Água e o Futuro do Planeta, numa referência ao ano internacional da água. “Trouxemos palestrantes engajados nesta questão, como forma de cumprir a proposta de discussão de temas ligados ao meio ambiente. A água é um recurso esgotável e é preciso debater meios de poupá-la”, explicou o diretor do evento, Nilson Rodrigues, que está à frente da organização desde a primeira edição. “Levar cultura à população local e atrair turistas para conhecerem a cidade são as propostas essenciais”.

Diversidade

Todas as expressões artísticas tiveram espaço no festival: artes plásticas, fotografia, artesanato, teatro, cinema, dança e música. E grande parte delas esteve diretamente ligada às belezas naturais e culturais de Bonito. “O objetivo maior do festival não é lucrativo. É cultural. Por isso, fizemos questão de reunir artistas de todas as áreas, com o maior número de atrações possíveis”, diz Rodrigues.

Ao todo, estiveram envolvidas na organização e na programação do festival 600 pessoas. O investimento total foi de R$1,4 milhão, com participação ativa do governo do Estado, da Petrobras e do Comtur-MS (Conselho Municipal de Turismo do Mato Grosso do Sul). Com o último acorde do show de Zé Ramalho sábado à noite, foi dado início à organização do festival do ano que vem, que acontecerá mais uma vez no mês de julho. “A organização começa com antecedência para que o festival fique cada vez melhor”, conclui Rodrigues.

Cultura por todos os lados no MS

A programação do 4.º Festival de Inverno de Bonito foi uma overdose cultural para aqueles que tiveram a oportunidade de passar pela cidade na última semana. No primeiro dia do evento, 12 de julho, foram abertas as exposições de artes plásticas, fotografia e artesanato, que ficaram abertas à visitação durante todo o festival.

O diferencial, nas artes plásticas, ficou por conta do Projeto Arte Door, exposto na Praça da Liberdade, um dos points da cidade. Suspensas nas árvores da pracinha, painéis gigantes sensibilizaram e provocaram reflexões sobre A Água e o Lixo, Restos de Poluição, concebidas pelos artistas locais Beto Rothen, Fernando Marson, Patrícia Rodrigues, Júlio Cabral e Neide Ono. No próximo ano, o espaço deve ser estendido a artistas de outros estados. Os artistas plásticos sul-mato-grossenses também tiveram um espaço diferenciado em uma coletiva própria, com atenção direcionada às riquezas naturais e culturais do Pantanal.

Mas o grande destaque foi a mostra do paraguaio Julio César Alvarez, que viveu entre os anos 80 e 90 no Brasil e retornou ao seu país para assumir o Ministério da Cultura. Seu trabalho não se restringe às telas. Ele utiliza bases diferenciadas para exprimir sua arte – sempre em tons fortes, como capelas de madeira – e define a trabalho como “pinturas-objetos, objetos-pinturas…onde o sagrado torna-se profano e o profano, sagrado”.

O tema indígena, explorado na exposição de artes plásticas coletiva Os Índios e o Meio Ambiente, com artistas de vários estados, foi o mesmo explorado pelo fotógrafo José Luiz Medeiros, na mostra Tributo aos Povos Indígenas. O matogrossense expôs seu trabalho em grandes painéis, traduzindo a integração entre natureza e beleza dos costumes do povo indígena. As 22 fotos foram feitas em visita à aldeia Moigu, dos índios Ikpeng, no Parque Nacional do Xingu.

Ao lado do trabalho de Medeiros, a mostra Do Guaicuru aos Indígenas do Século XII, com destaque para o trabalho do italiano Guido Boggiani, trouxe retratos das tribos Kadiwéu, Kaiowá, Terena, Guató e Guarani, todas da região pantaneira.

O material é do acervo de Museu da Imagem e do Som do Mato Grosso do Sul. (GKR)

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