Bonitinha mas ordinária volta aos cinemas

Leticia Colin ainda tem rosto de menina, mas, aos 18 anos de idade, dez deles atuando, vai encarar um papel difícil no cinema. Em seu primeiro longa, a refilmagem de Bonitinha, mas ordinária, fará o papel de Maria Cecília, a bonitinha eternizada por Lucélia Santos no filme de 1981.

Segura, a atriz conta que não viu o trabalho de Lucélia, pois queria ?fazer algo novo?. E foi dela a iniciativa de tentar um lugar no filme, dirigido por Moacyr Góes. ?Conhecia a Cibele Santa Cruz, que é a produtora de elenco, e pedi se poderia fazer o teste. Foram cinco etapas, e concorri com mais 40 meninas.?

O texto clássico de Nelson Rodrigues conta a história de Edgard (João Miguel), namorado de Ritinha (Leandra Leal), uma mulher bonita e simples, que trabalha como professora para sustentar suas três irmãs e a mãe. Vivendo com dificuldades financeiras, Edgard é procurado pelo pai de Maria Cecília para, mediante bom pagamento, casar-se com ela, que foi violentada e precisa de um noivo. ?O Moacyr fala sempre sobre a honestidade, sobre o fato de se vender ou não, sobre os valores. O enfoque do filme é mais no caráter do personagem masculino, no dilema que ele enfrenta. Mostrará o poder de corrupção e persuasão?, conta a atriz, que na TV já fez o seriado Sandy e Junior, Malhação, o infantil TV Globinho e novelas na Band e na Record.

Leticia diz que a preparação para viver Maria Cecília foi longa e mexeu muito com ela. ?Fizemos a leitura do roteiro e mapeamos os sentimentos dos personagens. Esse processo, que levou cerca de um mês e meio, mexeu muito comigo. Foi uma grande descoberta. Às vezes, depois das filmagens, me sentia mexida, confusa.?

Entre as cenas difíceis de Maria Cecília está justamente a que ela é violentada. ?Não tive problemas com parte física, com a cena de nu. Até porque não é nu, é uma cena de violência. Mais que um desprendimento do meu corpo, tive um desprendimento da minha alma. O que ficou mais escarafunchada foi mesmo a parte sentimental?, explica Leticia.

A jovem atriz, que conhecia pouco de Nelson Rodrigues antes das filmagens, também está aproveitando a experiência para desvendar o mundo do cinema. ?Já foram duas semanas de filmagens, estamos na metade dos trabalhos. Eu acordo sempre cedinho e venho para o set, mesmo quando não tenho cenas para filmar. Fico atenta a tudo, é um mundo totalmente novo para mim.?

Moacyr Góes

Moacyr Góes roda atualmente a terceira versão no Rio, com produção de Diler Trindade. Em cinco anos, desde que fez sua livre adaptação de Dom Casmurro (Dom, com Marcos Palmeira e Maria Fernanda Cândido), o diretor teatral Moacyr Góes transformou-se no mais prolífico diretor do cinema brasileiro. Em espaço tão curto, ele conseguiu fazer quase uma dezena de filmes, a maioria com o produtor Diler Trindade.

São filmes que os críticos abominam, como os da Xuxa, mas Moacyr foi tratado a pauladas também quando dirigiu O Homem Que Desafiou o Diabo para outro produtor ?industrial? do cinema do País, Luiz Carlos Barreto. ?O Homem? possui qualidades que passaram despercebidas pelos críticos e teve a maior bilheteria, atraindo mais público que qualquer outro filme no Dia do Cinema Brasileiro que a rede Cinemark promove, tradicionalmente, em novembro.

Após tantos filmes comerciais, Góes sente necessidade de ser mais autoral. Ele diz que esse filme tem a chance de marcar uma virada na sua carreira cinematográfica. Ele conhece o teatro de Nelson Rodrigues e conhece o texto, que já dirigiu no teatro. Motiva-o a vontade de fazer da sua Bonitinha um comentário sobre a ética no Brasil atual.

Consciente de que se trata de um texto importante, Moacyr Góes fez laboratório com os atores, para dotá-los de ferramentas que lhes permitam entender não apenas seus personagens, mas também a peça como um todo.  A previsão de estréia nos cinemas é janeiro de 2009.

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