Bola dividida no Brasileirão

Para uns, a fórmula de pontos corridos, adotada pela CBF para o Brasileirão deste ano, foi um “gol de placa”. Só assim, o clube que levantar a taça vai ser aquele que teve a melhor campanha. Para outros, porém, o novo sistema de disputa não passa de uma “bola fora”. Afinal, num Brasileirão de quase nove meses e com 24 clubes, corre-se o risco de um time disparar e dificilmente ser alcançado. Nesse caso, o interesse pelo campeonato tende a diminuir: a média de público nos estádios cai, os jogadores entram em campo desestimulados etc. Por essas e outras, as emissoras de tevê estão entre os que defendem a volta do sistema de “play-offs”, mais conhecido como “mata-mata”.

Na Globo, a emissora que possui os direitos de transmissão e é uma das principais fontes de receita dos clubes, a insatisfação com o Brasileirão de pontos corridos é crescente. Embora não assumida oficialmente, a posição da emissora é radical. Não por acaso, o diretor da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto, já trabalha nos bastidores para convencer os presidentes dos clubes da Série A a derrubar a fórmula em dezembro durante reunião do Conselho Técnico do Clube dos Treze – órgão meramente consultivo da organização que reúne os principais clubes do país. A tese de Marcelo é a de que o torcedor brasileiro está acostumado às finais. “Pessoalmente, sinto falta de um jogo decisivo. Em termos de público e emoção, não dá nem para comparar. Os Estados Unidos, por exemplo, param para ver a final do Superbowl”, cita o comentarista da Globo, Sérgio Noronha.

Segundo dados do Ibope, a nova fórmula de disputa do Brasileirão ainda não interferiu na audiência das emissoras responsáveis pela transmissão. Tanto Globo quanto Record mantêm as médias de audiência do ano passado. A Globo, por exemplo, registrou os mesmos 24 pontos de média nos 33 primeiros jogos do Brasileirão de 2002. O único “porém” diz respeito à falta de perspectiva de jogos com mais de 30 pontos na reta final: no ano passado, a audiência da Globo saltou de 24 para 32 pontos em dezembro.

Mesmo assim, Globo e Record temem por uma eventual crise financeira dos clubes. O diretor de esportes da Record, Eduardo Zebini, cita o caso do Corinthians. Ano passado, o clube arrecadou nos estádios, mensalmente, R$ 1,2 milhão na primeira fase e R$ 1,5 milhão na segunda. Este ano, o time arrecadou, líquidos, R$ 600 mil. “O novo sistema está criando tanta dificuldade para os clubes que nós tememos que isso comprometa as transmissões de futebol”, acredita Zebini.

Se Globo e Record vêem com restrições a manutenção da fórmula de pontos corridos para 2004, o mesmo não se pode dizer do Première Esportes, da Globosat, o único canal que fornece serviço de “pay-per-view” no Brasileirão. No ano passado, a Globosat vendeu 234 mil pacotes. Este ano, o número subiu para 260 mil. Para 2004, a previsão é de um aumento de até 30%, algo em torno de 280 mil pacotes vendidos. “A extensão do campeonato, no nosso caso, interessa mais do que a fórmula de disputa. Oito meses está dentro do limite do razoável”, defende Elton Simões, diretor de “pay-per-view” da Globosat.

Alegria de uns, tristeza de outros. Para Milton Neves, o atual modelo não interessa em nada aos programas de debate esportivo, como o Terceiro Tempo, que ele comanda na Record. “Durante oito meses, muitos jogos não passam de amistosos. Nessa reta final, tanto faz para o torcedor do Corinthians se o Timão vai ganhar de 50 ou perder de 30… Ele já não tem mais nenhuma chance”, exemplifica. Apesar do protesto de alguns, a CBF mantém para 2004 o sistema de pontos corridos, com 24 clubes, 46 rodadas e 552 jogos. A diferença é em relação ao número de rebaixados: em vez de dois, quatro clubes vão para a Série B. Com isso, o Brasileirão de 2006 vai ser disputado por “apenas” 20 clubes.

O apresentador Juca Kfouri, da Cultura, é um dos poucos a defender a fórmula de pontos corridos, que considera a “mais justa e rentável”. Mas ele ressalva que, para ela dar certo, há de se ter paciência. “O campeonato vai melhorar ainda mais em 2006, quando vão cair quatro e outros quatro vão se classificar para a Libertadores. Dessa forma, o campeonato vai interessar a todo mundo, esteja o time dele lá em cima ou lá embaixo”, valoriza Juca.

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