Bisneta de flautista, atriz mergulha no universo da Música Popular Brasileira

Ao saber que sua personagem em “Sabor da Paixão” seria uma flautista, Fernanda Rodrigues foi correndo contar a novidade à família. Bisneta de um flautista, a atriz não esconde o orgulho em resgatar este capítulo da história familiar na pele de Isadora. Mas a satisfação é a mesma ao lembrar que a personagem tem mostrado aos jovens de sua idade as riquezas da Música Popular Brasileira. Aos 23 anos, Fernanda mergulhou de cabeça no estudo do instrumento e incorporou nomes como Pixinguinha e Noel Rosa ao CD player de seu carro, que está sempre ligado. “Falta às pessoas da minha geração a oportunidade de conhecer este tipo de música”, avalia, com seriedade.

As aulas de flauta serviram não só para aprender a manipular o instrumento, mas também para compor a personalidade da doce e determinada Isadora. “A flauta tem um som suave, bonito, mas exige garra e persistência. É como a Isadora: suave e sensível, mas de personalidade forte”, compara. Crítica, Fernanda garante que não consegue tocar uma única música. “Precisaria de, no mínimo, uns cinco anos para aprender”, justifica, incisiva. A dedicação às lições, no entanto, é grande. Tanto que a atriz planeja continuar investindo no instrumento após o término da novela. Mas, até agora, o grande objetivo foi assimilar a postura de uma instrumentista. “Aprendi a embocadura de quem sabe, a intimidade de quem lida com o instrumento. Não tinha como aprender realmente em tão pouco tempo”, conforma-se.

Moleca

A tranqüilidade e a consciência com que Fernanda avalia o trabalho contrastam com seu jeito “moleca”. Com fala elétrica e um sotaque tipicamente carioca, a atriz parece uma veterana ao conversar sobre suas personagens. Afinal, são quase 20 anos de carreira – ela começou aos 4 anos, num clipe de Gonzaguinha – e nada menos que nove novelas. Com Isadora, pela primeira vez ela interpreta uma mulher que já abandonou os conflitos típicos da adolescência. Mas não dá muita bola para isso. “Por eu estar mais velha, é natural ter uma personagem mais madura. Mas não tenho a preocupação de fazer da Isadora uma adulta”, afirma, incomodada com os constantes comentários sobre sua “meninice”. “Acho esta cobrança uma bobagem”, desdenha.

Atualmente, no entanto, uma frase tem deixado a atriz ainda mais chateada que a habitual: “Quando é que você vai deixar de ser a Fernandinha?”. Os conflitos da personagem, que é casada com o marceneiro Orlando e recebe os galanteios do refinado Pedro – personagens de Gustavo Mello e Duarte Guimarães, respectivamente -, também geram comentários de alguns fãs. “Fica com o português. O Orlando não é para você”, dizem. Impressionada com o preconceito embutido nos comentários, Fernanda lamenta que um amor incondicional como o de Isadora e Orlando enfrente o peso das convenções sociais mesmo na ficção. “Isso me entristece, porque vejo que as pessoas não estão prestando atenção à história. O brasileiro é muito racista”, sentencia.

O tema do preconceito tem fascinado a atriz. Ela é só elogios à abordagem de Ana Maria Mortezsohn, autora da trama. E acredita que a história dos dois supera, em muito, o assunto do relacionamento entre uma branca e um negro. “É o amor enfrentando preconceitos. Pode ser um empresário com uma faxineira, um judeu com uma católica, uma mulher mais velha com um cara mais novo”, amplia. Ela própria já passou por uma situação parecida. Há alguns anos, namorava um estrangeiro e enfrentou uma “polêmica” em casa. “Cheguei a pensar seriamente em parar tudo um pouco e ir morar com ele. Acho que, quando a gente ama, tem de viver aquele amor”, defende, com o mesmo romantismo da personagem. Apesar de abraçar a “causa”, Fernanda se esforça para manter a imparcialidade quanto ao destino de Isadora. “Meu papel é mostrar a situação para que o público decida. O que decidirem, está bom”, tenta convencer, num sorriso maroto.

Opção pela meninice

Fernanda Rodrigues cresceu nos estúdios da tevê, onde já participava de filmes publicitários desde criança. Aos 11 anos, estreou em “Vamp”, novela de Antônio Calmon, em 1992. “Era uma grande diversão”, lembra, animada. Talvez por isso, a atriz garante que nunca perdeu nada de sua infância ou adolescência por ter começado a trabalhar tão cedo. “Sempre me perguntam isso. Mas minha mãe é pedagoga, nunca me deixou perder nada em função do trabalho”, minimiza. O que ela ganhou, no entanto, sabe de cor: responsabilidade, facilidade de respeitar horários, determinação e consciência sobre a carreira artística. “Aprendi a lidar melhor com certas situações, como ficar um tempo fora do vídeo e ninguém lembrar mais de mim”, constata.

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