Affonso Beato é um dos maiores diretores de fotografia do mundo. Seu nome termina sendo a grande credencial de Jogo de Sedução, o filme de Matthew Barkhill que estréia hoje. Gael García Bernal, o jovem Che de Diários de Motocicleta, faz um brasileiro em Londres, mas Beato, natural do Rio, diz que não precisou prestar nenhuma assessoria ao ator. “Gael é talentoso e, além do mais, conhece bem o Brasil.”
Jogo de Sedução mostra uma Londres que não é turística. “Não tem ônibus vermelhos nem nenhuma daquelas paisagens a que o público está acostumado”, mas, em compensação, exibe aquele tipo de humor macabro que é a marca da grande comédia inglesa – da qual Beato, como o diretor Barkhill, é fã.
Ele defende o filme, numa entrevista por telefone, de Los Angeles, onde espera o diretor Walter Salles, que vai ao encontro dele com o corte final do filme que acabam de fazer juntos – o remake do terror japonês Dark Water. Beato acha a estrutura narrativa de Jogo de Sedução moderna. “O roteiro sofre várias reviravoltas e o que parece comédia romântica vira uma trama imprevisível, sofrendo desdobramentos que apontam para o drama e o suspense.”
Para o fotógrafo, o que confere valor intelectual e até político ao filme de Barkhill é o olhar sobre os reality shows. Há esse personagem de cineasta manipulador, que controla os destinos de todos e transforma o jogo de sedução numa teia urdida pelo dinheiro. “Matthew antecipou essa tendência dos reality shows. “Qualquer espectador percebe que ele está criticando a armação dos reality shows. Não é uma mistificação.” Não lhe parece pouca coisa.
Na trama, onde as câmeras desempenham um papel importante, o espectador tem a impressão de que há um terceiro olho registrando as cenas – além do de Beato e o de Gael, que também empunha uma mini-DV câmera. Essas imagens não são de Beato, que acha seu trabalho muito autoral, muito artístico. “Ia colocar minha cara nesses vídeos dentro do filme. Optamos por deixar um assistente captar essas imagens, para que elas se sujassem mais.”