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Banderas monta sua Broadway à espanhola

Vestindo uma camiseta preta desbotada, Antonio Banderas conversa com o grupo de 16 atores e 20 atrizes numa espaçosa sala. “Cabeça para cima e posição ereta. Tem de controlar a respiração”, diz. Sem esboçar irritação ou nervosismo, ele comanda o ensaio do musical A Chorus Line. O espetáculo, um dos maiores clássicos da Broadway, marcou a inauguração na sexta, 15, do Teatro Soho CaixaBank, em Málaga, no sul da Espanha, cidade natal do astro.

Aos 59 anos, Banderas é o ator mais bem-sucedido da história do país. Desde a parceria de sucesso com Pedro Almodóvar em clássicos como A Lei do Desejo (1987), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) e Ata-me! (1990), passando pelo hollywoodiano A Máscara do Zorro (1998), ele alcançou o status de estrela internacional.

Mas em janeiro de 2017, nove meses antes de idealizar o Teatro Soho, Banderas enfrentou um grave problema de saúde: um princípio de enfarte. “O ataque cardíaco foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida. O que não era importante desapareceu e o que era floresceu: minha filha, família, meus amigos e a minha vocação”, assegura Banderas. “Veio um insight e pensei: vou comprar um teatro.”

Após se recuperar, Banderas queria resgatar ainda mais suas raízes e ficar mais perto do público. “Em uma época em que selfie é a palavra da moda e o que não está gravado não existe, fazer algo efêmero como teatro tem mais sentido”, afirma o ator, que, além de atuar, também dirige e produz A Chorus Line.

O musical conta a história de 17 dançarinos da Broadway que participam da seleção por um lugar na linha de frente de um novo espetáculo. Toda a trama se passa num teatro de Nova York enquanto os fatos que marcaram a vida de cada um dos competidores são apresentados. A Chorus Line tornou-se um dos grandes fenômenos de público e crítica nos Estados Unidos, ficando em cartaz na Broadway por 15 anos e conquistando ainda nove prêmios Tony e um Pulitzer na categoria drama.

Réplica da produção de 1975, o espetáculo de Banderas tem direção artística de Baayork Lee, bailarina que participou da montagem original ao lado do lendário diretor Michael Bennett. Musicalmente impecável e com uma coreografia vibrante, A Chorus Line cumpre a proposta do ator, que, em declarações anteriores, havia prometido “qualidade Broadway genuína”.

A interpretação vigorosa dos bailarinos talvez seja o maior trunfo de A Chorus Line. Banderas, que vive o personagem Zach, coreógrafo e diretor do musical, tem uma interpretação generosa e intensa. Perto de completar seis décadas de vida, seu vigor físico impressiona. “Estou me preparando há dois meses. Sou o mais velho daqui”, afirmou. A grande surpresa foi a artista mexicana Estibalitz Ruiz. Seus movimentos precisos na coreografia, somados a uma interpretação segura e elegante, renderam elogios da crítica. A alemã Sarah Schielke e a espanhola Kristina Alonso também se destacaram em cena. A orquestra de 22 músicos, que executou a partitura original de Marvin Hamlisch, dirigida por Arturo Diez-Moscovich, se projetou de maneira deslumbrante durante todo o espetáculo.

Embora para alguns o roteiro de A Chorus Line possa parecer desgastado, a história ainda cai como uma luva em tempos de talent shows e realities musicais. Não por acaso, de outubro de 2006 a agosto de 2008, o musical foi relançado na Broadway e voltou a fazer sucesso entre os mais jovens, arrecadando assim mais alguns bons milhões. “Esse é um dos melhores elencos da história do espetáculo”, garante Baayork Lee, que participou das audições em Málaga, Madri e Barcelona nos meses de abril, maio e junho, quando 1.800 artistas se inscreveram para participar do projeto.

O clima de Broadway tomou conta da inauguração do Teatro Soho no dia 15. Antonio Banderas chegou ao local acompanhado da namorada Nicole Kimpel. Pedro Almodóvar, amigo e responsável por levar Banderas para atuar no cinema há mais de 30 anos, também esteve no evento com o irmão, o produtor Agustín Almodóvar, e duas de suas atrizes inseparáveis: Rossy de Palma e Lolles León. Outras personalidades também estiveram em Málaga. Políticos, amigos dos EUA e cantores espanhóis consagrados como Miguel Poveda, Nuria Fergó e Ainhoa Arteta e José María Cano.

No discurso de inauguração, Banderas lembrou do enfarte e agradeceu à equipe que participou do projeto. “Não estou sozinho nessa aventura. Os teatros são entidades vivas e precisam de muitas mãos”, disse. “Nunca mais voltarei a ser jovem. O argumento da obra é saber envelhecer e morrer. Sempre soube da importância do teatro na vida de um ator. Um ator que não atua no teatro nunca será um ator completo. Sempre será vazio e com pouco a oferecer ao público.”

Após temporada de quase dois meses em Málaga, o espetáculo fará turnê por outras três cidades espanholas no ano que vem. Em fevereiro, A Chorus Line vai a Bilbao, Barcelona e Madri. Tudo indica que o destino final será Nova York, berço do musical, em meados de abril.

Foi em setembro de 2017 que Banderas alugou o espaço do antigo Teatro Alameda para transformá-lo em Teatro Soho. Um ano depois, fechou um acordo com o CaixaBank, que se tornou o principal patrocinador do projeto, que não terá fundos públicos. Ainda que as cifras não sejam oficialmente divulgadas, estima-se que o ator tenha investido cerca de ¤ 2 milhões no projeto, segundo informações do jornal El País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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