Banda gaúcha lança CD em Curitiba

Enquanto as bandas brasileiras mergulhavam na new wave, nos anos 80, eles resgatavam Starman, de David Bowie, travestida de Astronauta de Mármore e colocavam acordeon no rock. Nos 90, enquanto Seattle redescobria a fúria das guitarras e o Brasil se esbaldava nos regionalismos, eles gravavam um dos primeiros “acústicos”. Quando todos se agarravam aos acústicos, eles lançavam um CD só de músicas inéditas (Histórias Reais, Seres Imaginários), pela Sony em 2001. E agora, quando todos tentam recuperar a alegria da “década perdida”, eles vêm com um novo CD acústico e ao vivo, recheado de canções melancólicas, esbanjando cítaras, gaitas, cordas e teclados. Que faz uma retrospectiva da carreira nos “abomináveis” anos 90.

Eles são os gaúchos “do contra” do Nenhum de Nós, que lançam hoje às 21h no Teatro da Reitoria o CD Acústico ao Vivo 2, recém-lançado pelo selo Orbeat Music, do Rio Grande do Sul. Ostentando um visual estranhamente clubber, o vocalista, baixista e principal compositor da banda, Thedy Corrêa, 39 anos, esteve conversando ontem com o Almanaque:

Paraná-Online: Vocês acabam de sair de um disco inédito, lançado por uma gigante do mercado fonográfico (a Sony). É muito traumático voltar a gravar por um selo pequeno?

Thedy Corrêa:

“Isso não significa muito para nós. Numa gravadora menor temos mais autonomia, e na Orbeat estamos tendo o melhor trabalho de divulgação da nossa carreira. Esse negócio de “grande gravadora? é uma espécide de ouro de tolo. Eles não te ouvem, não te levam em consideração para tocar a tua própria carreira. Sem falar que 80% do cast de uma grande gravadora quase não trabalha”.

Paraná-Online

: Você tem algum exemplo de “pisada na bola” de gravadora grande?

Thedy Corrêa

: “No nosso último disco, ao invés de lançar aqui pelo Sul, a Sony teimou em lançar em São Paulo. Ficamos 45 dias lá, e a coisa não aconteceu. E temos o melhor mercado rock do Brasil no Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.

Paraná-Online:

E o Paraná?

Thedy Corrêa

: “Infelizmente, o Paraná ainda tem muito daquela coisa de “a gente é daqui, se tiver que se misturar com alguém, vamos ficar com o pessoal de São Paulo, não com os caras do Rio Grande do Sul. E aí, para banda fazer sucesso no Paraná, tem que tocar em São Paulo. Isso é ridículo! Lá temos a Rede Atlântida, com doze rádios espalhadas pelo Rio Grande e Santa Catarina, tocando nossas músicas. O nosso público vai nos shows, as bandas tocam umas nos shows das outras, e até a mídia apóia. Tínhamos que fazer isso aqui”.

Paraná-Online

: A 96 Rádio Rock está tentando montar uma rede aqui…

Thedy Corrêa

: “Eu sei, toca muito flash-back…”

Paraná-Online

: Por que essa “incongruência” com a cena que vocês vivem? Agora que todo mundo está com saudade dos anos 80, vocês fazem um acústico dos 90, usam cítara, acordeon, solo de tango e música pós-hippie?

Thedy Corrêa

: “Simplesmente porque a gente quis fazer assim. Nunca houve no nosso trabalho essa “visão mercadológica? – isso vai funcionar, isso não. Discutimos os arranjos entre nós, vimos o que soava melhor”.

Paraná-Online

: Mesmo nas músicas mais “alegres?, o CD transmite uma melancolia, uma certa nostalgia ressentida… vocês têm alguma mágoa?

Thedy Corrêa

: “Não! Daqui a um mês vai sair o DVD, e você vai ver que eu canto todas as músicas com um baita sorriso no rosto, por estar olhando a expressão das pessoas, que ficam muito próximas no Theatro São Pedro. Acho que uma definição melhor seria “cumplicidade?, ou “identificação?. Para mim as músicas são crônicas, histórias que todo mundo vive ou já viveu”.

Paraná-Online

: O que vocês gostam de ouvir?

Thedy Corrêa

: “Eu gosto muito do rock inglês, tanto o atual – Oasis, Radiohead – quanto aquele um pouco antigo – Smiths, The Cure, Joy Division, New Order. Gosto também de alguns americanos, como R.E.M, White Strypes, Strokes…”

Paraná-Online:

E no Brasil, quem você convidaria para dividir um show?

Thedy Corrêa

: “Hummm… eu gosto da personalidade do Skank, o Maquinarama é muito bom. E talvez o Los Hermanos. Eles nunca vão dizer que a gente foi uma influência, mas há uma certa semelhança na melancolia e no lirismo das letras”.

Paraná-Online: Vocês se sentem escravos dos dois megahits da banda (Astronauta de Mármore e Camila)?

Thedy Corrêa

: “Teve gente que meteu o pau em Astronauta… disseram que a gente assassinou Starman. Eu respondia simplesmente que a gente pediu autorização pro próprio cara, e ele gostou da versão. Se o David Bowie não achou que a gente ?assassinou? a música, quem tem moral para achar? Mas a gente tem feito vários shows sem Astronauta. Aqui, se pedirem, vamos tocar, por que não? Quanto à Camila, tenho muito orgulho de ter feito essa música. E, do jeito que as coisas estão, dou graças a Deus de a gente ter essas duas músicas para chamar o público”.

Paraná-Online:

O que a galera que for hoje ao Teatro da Reitoria pode esperar?

Thedy Corrêa

: “Vamos tocar a maior parte das músicas do Acústico, e com certeza os sucessos dos outros discos”.

Escalação

O Nenhum de Nós vem com a seguinte escalação: Thedy Corrêa na voz, Carlos Stein no violão, Sady Homrich na bateria, Veco Marques na guitarra e João Vicente no teclado e acordeon, além dos convidados especiais Nico Bueno e Luciano Reis. “Permanecemos unidos e nos renovamos porque não temos disputas de ego”, atesta o vocalista.

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Hoje, às 21h, no Teatro da Reitoria. Ingressos a R$ 15 e R$ 10.

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