Movidos pelo sonho de alcançar fama, reconhecimento e, de quebra, uma boa remuneração, mais de 10 mil aspirantes ao estrelato já se cadastraram na Divisão de Recursos Artísticos da Globo, no Rio de Janeiro. No SBT – que vem produzindo novelas mexicanas com elenco nacional -, a fila de candidatos toma conta de todo o prédio da emissora, em Osasco, quando está aberta a temporada de escalação. Mas, para ganhar um lugar ao sol na telinha, é preciso “sobreviver” ao funil. Ou seja, passar pelos temíveis testes de seleção.

“O teste não avalia só o talento. Mas a adequação do ator ao personagem e, até, seu controle emocional. Muitos atores bons ficam nervosos e perdem sua chance”, explica Ana Margarida Silveira, gerente de produção de elenco da Globo.

Mas até para participar de um teste na Globo, o ator precisa percorrer uma “via crucis”. A primeira etapa é despertar o interesse dos produtores de elenco, que são uma espécie de “olheiros”. Procuram novos talentos em filmes, peças de teatro, escolas de interpretação e agências de modelos. Mas também avaliam candidatos na emissora. Os que apresentam algum diferencial são chamados para testes de vídeo. Mesmo tendo o perfil procurado, o ator é avaliado por vários profissionais até ganhar um papel.

Theodoro Cochrane sabe o que é isso. O ator, que vive o farroupilha Pedro na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, de Walther Negrão e Maria Adelaide Amaral, já tinha feito testes para “Os Maias”, “Desejos de Mulher” e “O Beijo do Vampiro”. Mas não foi chamado. Até que Maria Adelaide lembrou de seu nome. “Agora vejo que foi bom. Amadureci nesse tempo e tenho mais condições de aproveitar a oportunidade que ganhei”, reconhece o filho da jornalista Marília Gabriela.

600 por novela

No SBT, o processo se concentra nas mãos do diretor de elenco Fernando Rancoleta. Ele realiza cerca de 600 testes de vídeo por novela. E jura que não faz distinção entre famosos e desconhecidos. “Misturo todos e escolho os mais adequados aos personagens. Como não temos um ?casting? de contratados como a Globo, precisamos descobrir novos talentos”, explica, orgulhoso de já ter “descoberto” atores como Caio Blat e Ana Paula Arósio.

Mas nem sempre os produtores de elenco acertam nas suas “descobertas”. Ana Margarida Silveira, por exemplo, lembra da ocasião em que a Globo resolveu abrir testes para as gêmeas Ruth e Raquel, de “Mulheres de Areia”. Ela insistiu para o diretor responsável testar uma atriz “ma-ra-vi-lho-sa”. Foi um fiasco. O “remake” da novela acabou sendo adiado até que Glória Pires, então grávida, pudesse protagonizá-la.

A maioria das oportunidades são destinadas mesmo aos jovens. A cada temporada de “Malhação”, por exemplo, uma penca de novatos debuta na Globo. Alguns chegam de mansinho. Foi o caso de Thiago Lacerda, que começou em 95 como elenco de apoio. Em 97, ganhou um personagem secundário no “folheteen” e fez teste para a minissérie “Hilda Furacão”, de Glória Perez. Depois do “remake” de “Pecado Capital”, da mesma autora, se ofereceu para participar dos testes para “Terra Nostra”, de Benedito Ruy Barbosa. Faturou o italiano Matteo, que o alçou ao posto de galã. “Thiago era muito tímido. Se não tivesse começado devagar, como elenco de apoio, dificilmente estaria apto a passar de primeira num teste”, acredita Sonaira D?Ávila, ex-produtora de elenco da Globo e diretora do Studio Escola de Atores – onde o então aspirante a ator fez três anos de curso de interpretação para tevê.

Prova de talento

Nem só os atores desconhecidos fazem fila nos testes. Na seleção para a novela “Jamais Te Esquecerei”, a próxima do SBT, bons exemplos. Danton Mello e Viviane Victoretti – que interpretou a drogada Regininha, em “O Clone” -, por exemplo, foram aprovados. Mas quem faturou a protagonista foi Ana Paula Tabalipa, que teve seu teste para “A Pequena Travessa” “repescado” para a nova seleção.

Na Globo, os testes entre os próprios contratados são comuns. E, para alguns atores, são a oportunidade de mostrar que eles podem interpretar outros tipos. Foi o que aconteceu com Cláudia Raia. Com uma série de vedetes e personagens histriônicas na bagagem, a atriz sequer foi cogitada para fazer o teste para a personagem-título da minissérie “Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados”, da obra de Nelson Rodrigues. Com o apoio da diretora Denise Saraceni, porém, gravou um teste às escondidas na Globo. O resultado surpreendeu até o diretor de núcleo, Carlos Manga. “Ele saiu pelos corredores gritando: “Gente! A Cláudia Raia é a Engraçadinha!””, delicia-se a atriz.

Só a Globo tem seis mil fitas

# A Divisão de Recursos Artísticos da Globo tem seis mil “fitas-book” só de atores que mandam material. Não há levantamento preciso do número de fitas e testes produzidos pela emissora. Mas eles ficam até dois anos disponíveis para avaliação.

# O veterano diretor Herval Rossano nunca acreditou em testes de elenco. A única vez que aplicou um, a atriz foi reprovada. Mas, ainda assim, resolveu aproveitá-la. Também escalou Lucélia Santos para a personagem-título de “Escrava Isaura”, apesar de mal conhecer a atriz – que sequer tinha o biotipo para o papel. “Uso apenas minha intuição. E quase sempre dá certo!”, valoriza.

# A Globo cadastra atores profissionais às quartas-feiras, de 11:30 h às 13 h. O endereço é Rua Lopes Quintas, n.º 303, Jardim Botânico, Rio de Janeiro/RJ.

# O SBT recebe currículos e “fitas-book” de atores profissionais. O material deve ser enviado para Avenida das Comunicações, n.º 4, Osasco/SP. CEP 06278-905.

continua após a publicidade

continua após a publicidade