Ao longo dos últimos 25 anos, a consolidação da carreira do ator Murilo Benício teve o público que assiste à TV como principal testemunha. A estreia foi em um papel menor, em “Fera Ferida” (1993), na Globo, mas, dois anos depois, o ator já interpretava seu primeiro grande personagem, o vilão Juca Cipó no remake de “Irmãos Coragem”. Em 2001, o sucesso de “O Clone”, de Gloria Perez, lhe deu projeção. Outro papel importante foi o de Tufão, em “Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro, em 2012. Desde 2014, Murilo tem emendado séries: “Amores Roubados”, “Nada Será Como Antes” e “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, que ele acabou de gravar na última terça-feira.

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E o ator está aproveitando sua escalação para esse tipo de produção mais curta – que lhe consome menos tempo em relação às longas novelas – para se dedicar ao trabalho como diretor. Com o fim das gravações de “Se Eu Fechar Os Olhos Agora”, ele já se prepara para rodar, a partir do final de maio, seu segundo filme, “Pérola”, inspirado na peça de Mauro Rasi, com a atriz Drica Moraes. “As séries vieram como uma sorte para mim. Desse distanciamento das novelas, ganhei uma carreira de diretor. Foi maravilhoso para mim”, diz o ator, de 45 anos, ao jornal O Estado de S. Paulo. A estreia atrás da câmera foi no filme “O Beijo no Asfalto”, com Lázaro Ramos, Débora Falabella e Fernanda Montenegro, que foi exibido na Mostra do ano passado e deve estrear este ano. “Eu tinha os direitos do Beijo há dez anos, comprei do meu bolso, mas não consegui fazer por causa de novela. Aí perdi os direitos.” Com essa pausa nas novelas, ele conseguiu retomar o projeto.

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E o que o levou ao texto de Nelson Rodrigues para o que seria seu primeiro filme? Murilo diz que não se lembra, ao certo, do motivo. “A única lembrança que tenho é que meu pai, que lia bastante – ele era um cara muito moderno -, falava de Nelson Rodrigues quando eu era criança. Fiquei com isso na cabeça, e me lembro que, em algum momento que eu li O Beijo no Asfalto, me veio um filme na cabeça, eu já sabia como eu ia fazer. O filme é dedicado a ele.” A peça, escrita por Nelson em 1960, ainda tem um texto atual. Como a questão do beijo entre dois homens. “Ainda estamos discutindo isso”, pondera Murilo. “90% da população acha que isso é uma questão, a gente é uma minoria de achar que isso é banal, infelizmente.”

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Suspeitos

No novo trabalho na TV, a minissérie “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, de Ricardo Linhares, Murilo vive Adriano Marques Torres, prefeito da cidade fictícia de São Miguel, no interior do Rio. Com direção artística de Carlos Manga Jr., é inspirada no livro de Edney Silvestre e ainda não tem data definida de estreia. Um misterioso assassinato está no cerne dessa história ambientada no início dos anos 1960. Tudo começa quando dois adolescentes encontram o corpo da jovem Anita (Thainá Duarte) à margem de um lago. Na investigação deflagrada pela dupla, figuras importantes da cidade entram na lista de suspeitos, como o prefeito Adriano.

E descobrem que ninguém é, de fato, o que aparenta ser. “As cenas que eu tinha em Catas Altas (cidade mineira usada como locação), por exemplo, eram cenas de Instagram. Até hoje a pessoa mostra nas fotos uma vida que não é a vida que ela leva de verdade”, compara Murilo. “Esse cara é de um jeito na rua e, de repente, você vê como ele é com a mulher dele no quarto. Você vai descobrindo quem são as pessoas quando tem acesso à intimidade. E você vai ficando mais confuso ainda, porque você fala: ninguém está livre de estar envolvido no assassinato da Anita.”

Em “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, o ator contracena novamente com sua mulher, a atriz Débora Falabella, que faz o papel da primeira-dama Isabel. Foram vários os momentos dos dois juntos na TV: contracenaram como colegas em “O Clone”, iniciaram o namoro na reta final de “Avenida Brasil”, e, já como um casal, trabalharam na série “Nada Será Como Antes” e no filme “O Beijo no Asfalto” (aqui, ele como diretor e ela, como atriz). Eles costumam brincar que são os novos Tarcísio Meira e Gloria Menezes da TV, diverte-se Murilo. “Eu brincava com o Zé Villamarim. Falava: você foi malandro, chamou a gente para fazer Nada Será Como Antes, porque a gente já chega de casa estudado”, diz. “Me dou muito bem com a Débora nesse lado profissional, porque a gente tem ideias diferentes que se complementam. Às vezes, a ideia que me falta é a ideia que ela me dá. O Beijo no Asfalto, posso dizer que ela codirigiu, porque eu discutia muito com ela as ideias.”

Um dos atores de destaque de sua geração, Murilo quase emplacou uma carreira internacional. O ator conta que, depois do filme “Sabor da Paixão” (2000), que fez com Penélope Cruz, estava com uma agente em Los Angeles, que sugeriu que ele morasse durante um ano lá. Mas o ator conta que abriu mão, porque não queria ficar longe do filho pequeno. “A questão de sair daqui de perto dos meus filhos era nula. Então, falei: deixa para lá, se pintar qualquer outra coisa, pintou; se não, estou muito bem onde estou. Nem precisei refletir. Então, não existe nem: ‘puxa vida, eu podia…’. Não existe isso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.