As Panteras pirotécnicas

São Paulo

– Em sua edição de maio, Cahiers du Cinéma lista cem diretores americanos da nova geração e observa que, há apenas dez anos, a maioria ficou fora de outra lista de talentos emergentes, estabelecida pela própria revista, pelo simples motivo de que ainda não haviam feito nada. McG é um deles. É o pseudônimo de Joseph McGinty Nichol, de 33 anos, que fez As Panteras e assina agora As Panteras Detonando, que estréia hoje com 277 cópias em 283 salas de todo o País.

Cahiers define McG como a coqueluche atual de Hollywood. Diz que As Panteras é um filme meio dândi, meio democrático, de um diretor que tem prazer de filmar e leva suas atrizes, belas e sexies, a também se exibirem diante das câmeras cantando, dançando e batendo com igual prazer e desenvoltura. Só para lembrar: essa mesma euforia era o que seduzia os críticos de Cahiers, por volta de 1960, em diretores hoje obscuros como Riccardo Freda e Don Weis, do sublime As Aventuras de Haji Baba.

Se algum espectador quiser ver As Panteras Detonando em busca de arte, é bom passar antes pelo psiquiatra para ver como anda a cabeça. O filme é para quem gosta de movimento e barulho. A história gira em torno de um evento qualquer no passado da personagem de Drew Barrymore, que fez com que ela trocasse de identidade, e agora a lista de favorecidos pelo programa de proteção a testemunhas do governo americano está ameaçada de cair em mãos hostis.

Desista de querer entender. A história vai do nada para o lugar nenhum e, nos EUA, desagradou ao público, faturando US$ 37 milhões no primeiro fim de semana. A cifra é inferior à do fim de semana de estréia do primeiro filme, e ainda despencou no segundo, o que caracteriza um fracasso. Pode ser um fracasso, mas não aborrece.

Talvez se possa arriscar uma interpretação de fundo sociológico para a rejeição do público. A América conservadora de George W. Bush não deve, realmente, ter muito interesse por heroínas pós-feministas que submetem ao ridículo a falocracia dominante (mesmo que sejam teleguiadas por um homem que não aparece nunca, o Charlie de quem elas são os anjos).

Tanto isso é verdade que Bad Boys 2, de Michael Bay, que estréia em setembro no Brasil e já está em cartaz nos cinemas americanos, é muito pior, mas seu misto de machismo e preconceito contra latinos é mais sedutor para a massa de espectadores, e o filme registra números melhores do que os de As Panteras Detonando.

McG veio do videoclipe. É obcecado por efeitos vertiginosos, edição acelerada de imagens e muito barulho. Faz um cinema para os olhos, não para o olhar. Como é versado na trívia da cultura pop, ele recheia seu relato com referências e citações. Diverte, mas você já está esquecendo antes mesmo que o filme termine. Aliás, é bom que não desperdice tempo pensando. Reserve isso para o Hulk de Ang Lee, que também foi mal na bilheteria, mas segura a onda de uma análise bem mais funda.

Demi e Santoro

Para o espectador americano, um dos interesses dessa versão do velho seriado cult dos anos 70 deveria ser a presença de Demi Moore no elenco. Afastada do cinema há cinco anos, ela volta fazendo a vilã sarada, a ponto de deixar as moçoilas das academias roxas de inveja. No Brasil, o interesse da galera teen feminina é a participação de Rodrigo Santoro. Sim, ele entra mudo e sai calado, mas também exibe um físico de atleta, que esculpiu surfando.

Numa entrevista realizada no Rio, Santoro disse que cansou de querer entender a mídia. Foi a imprensa que fez de sua ida a Hollywood uma festa – ele garante que ficou zen – e agora revela prazer em destruí-lo. Personagens importantes da dramaturgia universal ficam de bico calado. O problema não é esse e nem há comparação possível, posto que As Panteras Detonando é só um produto descartável.

Santoro faz um vilão, o papel é pequeno e ele realmente não fala. Falava, mas o diálogo foi cortado porque o diretor McG achou que o personagem ficaria mais misterioso se entrasse sem falar e saísse de forma inesperada, sem dizer exatamente a que veio. Com o sucesso de Santoro em Mulheres Apaixonadas, a expectativa da distribuidora Columbia é que o público da novela das 8 migre para os cinemas e as panteras, aqui, detonem na bilheteria.

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