As Helenas de Christiane Torloni

Christiane Torloni recorre à sua memória da obra de Manoel Carlos para falar sobre sua personagem de “Mulheres Apaixonadas”, a sexta Helena criada pelo autor. Na opinião da atriz – que viveu Lia, filha da primeira Helena, interpretada por Lílian Lemmertz em “Baila Comigo”, de 1981 -, Manoel criou uma espécie de arquétipo feminino, que vem evoluindo desde então. “É a mesma Helena, que cresce junto com a dramaturgia dele”, teoriza.

Este argumento serve para que Christiane aponte esta como a mais moderna personagem que já interpretou na tevê. E no páreo estão tipos bastante exóticos, como a voluntariosa Jô Penteado, de “A Gata Comeu”, em 1985, e a extravagante Laila, de “Um Anjo Caiu do Céu”, de 2001. “É uma heroína, mas não a clássica heroína. Ela peca, tem conflitos, é humana”, justifica, com entusiasmo de estreante.

A atenção à trajetória profissional do autor é recíproca. Um dos grandes orgulhos da atriz é saber que Manoel tinha os olhos postos nela há tempos. Tê-la como protagonista foi condição exigida pelo autor para que estreasse a novela logo após “Esperança”. Por conta disso, ela acabou de fora de “O Beijo do Vampiro”, onde interpretaria Mina, a sanguessuga vivida por Cláudia Raia. “Ele disse que eu tinha a coragem necessária ao papel. Isso dá uma incrível sensação de confiança”, emociona-se a atriz. De fato, o autor chegou a exemplificar esta coragem pela forma como Christiane superou duras provações, como a perda do filho Guilherme num acidente com o carro que ela dirigia, em 1991.

Com uma serenidade contagiante – “resultado do budismo”, destaca – e a elegância natural que empresta a Helena, Christiane aposta na identificação do público com as dúvidas e anseios da personagem. E destaca a relação com as irmãs Hilda e Heloísa, vividas por Maria Padilha e Giulia Gam, como um dos pontos altos da trama. “São três mulheres falando de paixão, de tesão, e não dos filhos, da casa ou de moda”, justifica, sem esconder a satisfação com o trabalho. “Gosto de mulheres que vão às últimas conseqüências”, avisa, com um leve sorriso.

De volta à escola

Christiane Torloni confessa que ficou emocionada quando soube que Helena seria uma professora de História na trama de Manoel Carlos. O fato a levou de volta aos tempos em que freqüentava o Colégio Andrews, em Botafogo, no Rio de Janeiro, e assistia às aulas da cientista política Lúcia Hipólito, a professora de quem tem a mais forte lembrança. “De repente, olhei para mim e estava com uma calça jeans, camiseta e um tênis. Parecia que o tempo não tinha passado”, conta, com ar nostálgico.

A atriz se considera uma estudante nata. Em todas as etapas da sua vida, sempre conciliou dois ou três cursos diferentes com as atuações no teatro, na tevê ou no cinema. Atualmente, aos 46 anos de idade, estuda inglês, faz três aulas semanais de consciência corporal e freqüenta as reuniões do Instituto de Pesquisas Budistas Nigma. Por isso mesmo, achou que não seria necessário fazer laboratório para compor a face docente de Helena. “O máximo que faço é observar muito os meus professores”, revela a atriz, que espera conseguir continuar freqüentando os cursos durante o período de gravações da novela.

A animação com que fala das atividades é tão grande quanto a que demonstra pela personagem, que, ela garante, não foi inspirada em nenhum mestre específico. “Fazer aulas nos coloca num estado maravilhoso, pelo contato com diversas pessoas e pela sensação de prontidão”, explica, de um só fôlego. É esta “sensação” que Christiane espera passar ao público quando Helena aparecer lecionando na trama. Ela não esconde, no entanto, que não tem muita certeza de que se sairia tão bem à frente do quadro-negro. “Não sei se teria muita paciência para ensinar. Meu negócio é mesmo aprender”, diverte-se.

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