Parece incrível que uma exposição como Lasar Segall: Ensaio sobre a Cor, que será aberta nesta quinta-feira, 25, às 20h, no Sesc 24 de Maio, concebida pela curadora Maria Alice Milliet em março deste ano, tenha reunido em tão pouco tempo tantas obras importantes. E mais: em contato direto com representantes do modernismo brasileiro com os quais, voluntariamente ou não, Segall dialogou – caso de Portinari. Essa opção curatorial tem, de fato, um objetivo didático: apresentar a obra de Segall a um público não familiarizado com sua pintura, bastando lembrar que circulam diariamente pelo Sesc 24 de Maio nada menos que 10 mil pessoas.

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Um telão montado no centro da mostra introduz esses visitantes a um dos artistas que melhor retrataram o Brasil e sua gente, concedendo especial atenção aos deserdados e afrodescendentes. Homem que conheceu a dor de ser um apátrida – de origem lituana, ele testemunhou a queda de seus pares nas mãos dos nazistas -, Segall dedicou sua arte a retratar o sofrimento alheio, como lembra a curadora da mostra. A exposição, inclusive, tem um dos núcleos, o terceiro, integralmente dedicado ao deslocamento de perseguidos por regimes totalitários, fenômeno que se repete agora.

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Realizada em parceria com o Museu Lasar Segall com obras emprestadas por instituições como Pinacoteca do Estado, Masp, Instituto de Estudos Brasileiros e outras, além de colecionadores particulares, a mostra tem outro diferencial: a montagem do arquiteto Pedro Mendes da Rocha, que, a exemplo do pai Paulo, gosta de arte e convive com artistas. Preocupada com a segurança das obras e, ao mesmo tempo, com o contato corpo a corpo do público, a curadora instalou os trabalhos um pouco abaixo da linha adotada pelos museus, separando-os em ‘caixas’ que mantêm o espectador à distância.

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O agrupamento das obras, espalhadas por quatro núcleos, acabou respeitando os diferentes esquemas cromáticos que definem cada um dos períodos de atividade de Segall, desde o primeiro (meados da década de 1910), que retrata o desamparo dos refugiados, a miséria e a prostituição, até o último (décadas de 1940 e 1950), em que o pintor faz, segundo a curadora, um “exercício introspectivo de depuração que tangencia o abstrato e remete à paisagem de sua infância na Lituânia”. Nessas paisagens de Campos do Jordão, em tons baixos, Segall pinta árvores, cabanas nas florestas e bois.

Há um contraste considerável entre esse discreto cromatismo e a exuberante paleta de Segall no segundo núcleo, que reúne obras realizadas entre os anos 1924 e 1935, justamente o período em que, sob o impacto da eclosão do movimento modernista brasileiro, o pintor explora os efeitos da luz tropical sobre a paisagem. “Já livre do naturalismo, Segall experimenta uma maior liberdade cromática”, observa a curadora.

Isso é particularmente notável na tela Menino Com Lagartixa (1924), reproduzida nesta página, colocada ao lado de O Sapo (1928), pintura de Tarsila que faz referência a um poema de Manuel Bandeira (apresentado na Semana de Arte de 1922), em que a simplificação das formas da natureza ecoa essa mesma saturação cromática.

Outra modernista de primeira hora, Anita Malfatti é evocada nessa associação de Segall com os brasileiros. Seu antológico Homem Amarelo (1915-16) e suas cores antinaturalistas encontram correspondência num autorretrato de Segall (1919). Até em Portinari, de quem Segall mantinha cautelosa distância, a curadora identificou certa afinidade cromática, atestada numa relação entre sua tela Os Retirantes (1936) e os refugiados pintados na mesma época por Segall. “Um cromatismo de baixa intensidade em que predominam tons ocres e acinzentados, caracteriza a obra de ambos nesse período, em que surgem as telas monumentais de Segall”, analisa a curadora.

Além das 87 pinturas da mostra, estão reunidas séries históricas de desenhos de Segall, além de fotografias, documentos e uma única escultura, Três Jovens, concebida em pedra em 1931 e recentemente fundida em bronze (em 2001).

LASAR SEGALL: ENSAIO SOBRE A COR

Sesc 24 de Maio. R. 24 de Maio, 109, tel. 3350-6300. 3ª a sáb., 9h/21h; dom. e fer., 9h/18h. Grátis. Até 5/3/19

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.