O enredo, os artifícios e as reviravoltas já parecem “coisa de novela”. E a impressão é reforçada pelo elenco. Nas vésperas das eleições, astros como Patrícia Pillar, Antônio Pitanga, Francisco Cuoco e Elizabeth Savalla trocam os cenários das novelas pelos palanques e assumem o papel de cabos eleitorais.

Alguns se transformam em verdadeiras estrelas da campanha. É o caso de Patrícia, que está atarefada com os compromissos eleitoreiros do marido, o candidato a presidente Ciro Gomes, da Frente Trabalhista. Ela o acompanha em comícios e debates, organiza encontros com a classe artística e já apareceu na propaganda do PPS garantindo: “Quanto mais você conhecer o Ciro, mais vai gostar dele”. Palavras apaixonadas, certamente.

O apoio de Solange Couto a José Serra não é tão incondicional. Apesar de garantir o voto ao tucano, a atriz ainda não respondeu ao convite para participar do programa da coligação Grande Aliança no horário eleitoral gratuito. “O que eu conheço do Serra é suficiente para dar a ele o meu voto, mas não para influenciar as pessoas a votarem nele”, esclarece, acrescentando que tem medo da força de suas palavras depois do sucesso como Dona Jura, em “O Clone”. Ela só vai decidir sua participação na campanha depois de ler as propostas de governo de Serra, o que ainda não teve tempo de fazer.

Na confiança

Elizabeth Savalla e Osmar Prado também se preocupam com a influência sobre a decisão dos eleitores. A atriz, que já declarou apoio a Ciro e pretende atuar na campanha, destaca que só torna público seu voto quando confia muito no candidato. “A minha responsabilidade como artista acaba sendo maior que a de um cidadão comum”, imagina ela, que foi a apresentadora do programa de Ullysses Guimarães nas eleições presidenciais de 1989 e fez campanha pelo parlamentarismo em 1993. Já Osmar, que sempre esteve em palanques ao lado de Luís Inácio Lula da Silva, da coligação Lula Presidente, garante que nunca sofreu qualquer cobrança por seu posicionamento. “Como dizia o Mário Lago, a gente sempre esteve do lado certo”, finaliza, com a lembrança de outro ator que não abandonava a militância política pelo Partido Comunista Brasileiro.

Patrulha

Do lado certo ou não, Paulo Betti sofreu uma verdadeira “patrulha ideológica” quando, em 2001, foi ao presidente Fernando Henrique pedir apoio para o filme “Cafundó”, que tenta viabilizar há anos. A imagem do ator ainda estava muito ligada ao PT, partido do qual foi “garoto-propaganda” durante 15 anos. Desde 1994, no entanto, ele tem mantido distância das campanhas. Este ano, não pretende sequer declarar seu voto. “Tenho mais dúvidas que certezas. Não quero entrar na casa das pessoas e dizer a elas em quem votar”, garante.

Ao contrário de Paulo, muitos preferem não se envolver na campanha, mas declaram seu voto. Este ano, a lista é maior porque a Globo “recomendou” a seus contratados que se afastassem do ar, caso quisessem associar sua imagem à de algum candidato. Milton Gonçalves, Tonico Pereira, Zezé Motta e Stepan Nercessian acabaram ficando de fora da campanha. Zezé, que vai estar na próxima novela das sete, “O Beijo do Vampiro”, lamenta ter de optar entre o trabalho e a participação nas campanhas do PT. “A participação política é visceral em mim. Mas estava afastada da tevê há cinco meses e não podia mais ficar sem um salário fixo”, justifica.

Tonico, que também acatou a “recomendação” da emissora, compreende os motivos. “Caso contrário, viraria uma bagunça”, admite o ator, que apóia Lula e tem participado de seus encontros com a classe artística. Militante do PMDB, Milton Gonçalves já estava determinado a não se envolver este ano. “Não há um governo que privilegie o programa do partido. As pessoas trocam de partido e não acontece nada”, lamenta. Já Stepan ainda pretende atuar na campanha de Ciro, caso não tenha um trabalho logo após “Desejos de Mulher”, que termina no dia 24. “Mesmo no ar, vou participar de caminhadas e comícios”, assegura. Mas o ator não esconde a preocupação com a forma como os políticos se aproveitam do apoio dos artistas. “Espero que não sejamos usados, como aconteceu em todas as outras vezes. Depois das eleições, os caras viram as costas. Ou fazem aquela distribuição costumeira de cargos”, encerra, acreditando que, caso eleito, Ciro fará diferente.

Laços de família

Como Patrícia Pillar, muitos artistas têm motivos de sobra para afirmar que o eleitor vai gostar de seu candidato caso o conheça melhor. É o caso do ator Francisco Cuoco e de Ratinho, apresentador do SBT. Os dois estão fazendo campanha pelos filhos, a quem emprestam, além do nome, a imagem e os fãs. Diogo Cuoco é candidato do PMDB a deputado estadual pelo Rio de Janeiro. O ator tem acompanhado o filho semanalmente em bailes-comício e já declarou que a campanha se baseia na afetividade que conquistou em anos de tevê, “com transferência de votos mesmo”.

Ratinho já conseguiu atrair 50 mil pessoas para um comício do filho, Ratinho Júnior, que é candidato do PSB a deputado federal pelo Paraná. O apresentador, que ainda não tem candidato para presidente, assegura que vai pedir voto assim que se decidir.

Histórias das campanhas

* Uma das musas das “Diretas Já”, Christiane Torloni não quer nem ouvir falar em campanha eleitoral. A atriz declarou que não assina mais embaixo do nome de ninguém.

* O primeiro ator a participar do horário eleitoral gratuito deste ano foi Raul Cortez. Ele apareceu como garoto-propaganda do tucano José Serra.

* Zezé Motta chegou a ser presa por fazer boca de urna em local proibido. Ela pedia votos para Benedita da Silva, que se candidatava pela primeira vez a vereadora do Rio de Janeiro, em 1982. “Eu me distraí e, quando vi, estava perto de um banco onde funcionava uma zona eleitoral”, lembra a atriz, às gargalhadas.

* Milton Gonçalves, que já foi candidato a deputado federal, concorreu ao governo do Rio de Janeiro em 1994, pelo PMDB.

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