A arte rupestre tem atraído a atenção de diferentes profissionais. Santiago Plata Rodrigues, artista plástico, viaja de bicicleta em diferentes países da América do Sul para registrar gravações nas rochas e vem Colômbia ao Brasil, mais especificamente a Curitiba, para expor seus trabalhos. João Nei de Almeida Barbosa, artista plástico, escreveu o livro Arte rupestre: a história que a rocha não deixou apagar (2004). Igor Chmyz, arqueólogo e coordenador do CEPA-Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – escreveu sobre as pinturas no Abrigo sob-rocha Cambiju (1976).
Motivações das investigações. Os três profissionais partiram para a pesquisa de campo motivados por um projeto profissional. Rodrigues, após terminar o curso de Artes Plásticas na Universidade Nacional de Colômbia, propôs-se à investigação das gravações rupestres, especialmente porque, embora existam muitos registros da arte rupestre da América do Sul, a linguagem não é acessível ao público em geral. ?A minha ambição é mais artística e emocional, de modo a buscar a identidade e a memória dos povos originais?, explicou o artista. Desde 2002 já passou por Quito, Lima, La Paz, Santiago, Buenos Aires, Montevidéu, Assunção e, agora, Curitiba.
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| Figuras representadas com pigmentos minerais no teto do Sítio PR PG 1: Abrigo sob-rocha Cambiju. |
Barbosa realizou seu projeto de pesquisa rupestre, que resultou na produção de seu livro, através da lei de incentivo municipal à cultura e com patrocínio da Siemens. Artista plástico independente e livreiro disse ter observado ?a falta desse tipo de material. Nos dois anos e meio de pesquisa, minha preocupação foi coletar imagens e apresentá-las conforme seu ambiente?.
O projeto de Chmyz orientou-se para a realização de prospecções arqueológicas em abrigos sob-rocha, especialmente o PR PG 1, denominado Cambiju e conhecido pelos moradores locais como Pedra de veado, próximo de Vila Velha; as pinturas formam um conjunto no teto do abrigo, cerca de três metros acima do solo atual, e na parte frontal das saliências ou cornijas, conseqüência de desabamentos das camadas de arenito. A realização de seu trabalho ocorreu de 1973 a 1974. ?No solo, até um metro de profundidade ocorreram evidências pré-cerâmicas: pontas-de-projétil, raspadores plano-convexos e terminais, faca e lâmina de machado. Foi tentada correção deste material com o da fase potinga, do médio rio Iguaçu, cuja cronologia relativa é de 3.000 anos do presente?, relatou.
Técnicas. Quanto às técnicas das pinturas relata Chmyz, no v. 2 da revista Estudos Brasileiros (1976), que foram utilizados pigmentos minerais da mesma tonalidade marrom-avermelhada (hematita). Entre as figuras do teto encontram-se representadas uma ema, com 35 cm de altura, um veado galhado, com 25 cm de altura, que foram preenchidos de tinta. No extremo norte da cornija mais elevada, encontra-se uma possível corça. Outra corça está representada na extremidade sul da cornija intermediária, além de outras figuras, algumas enigmáticas.
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| Santiago na Bolívia. |
As pinturas rupestres paranaenses, de acordo com Barbosa, eram executadas quase todas em vermelho com pigmento ainda encontrado facilmente. ?Sua fonte está em seixos de rocha contendo grande quantidade de minerais ferrosos alterados, trata-se da hematita em estado ferruginoso, material usado in natura ou diluído (p. 74).
E como Santiago faz para copiar as gravações da rocha? ?Pego um filme plástico de pvs e estendo sobre a gravação na pedra; sobre ele estendo a tela branca e passo carvão sobre ela, esfrego a semente de abacate partida ao meio, ou folhas de árvores, cuja clorofila impregna a tela.?
Aventura e emoção. ?Os três profissionais têm em comum o espírito de aventura e a emoção. ?É emocionante respirar aquele ar e pensar como esses ancestrais viram aquela paisagem. É toda a questão da cosmovisão, a natureza, a caça, os abrigos, a representação, essa necessidade de expressão que o ser humano tem, as divindades as crenças?, enfatizou Barbosa.
Santiago, que pinta murais para casas, restaurantes, paisagens, nos locais em que se encontra para estudo ou exposição, diz que faz ?registros subjetivos, porém conservando a imagem como está, sem intervir, sem cor, em branco e preto. ?Com este trabalho busco a identidade de todo o continente, não de um país. Apesar das naves que são construídas para viajar no espaço atualmente, não se tem consciência da universalidade, e da identidade dos países da América do Sul. Quero rastrear minhas raízes.?
Através de exposições, palestras, filmes e doação de obras suas para museus, Plata Rodrigues pretende divulgar a arte rupestre também em Curitiba, especialmente no decorrer de um mês. Além do apoio ao artista, Chmyz faz planos para comemorar 50 anos do Cepa e diz estar programando algumas exposições sobre pinturas do Paraná, do Nordeste brasileiro e de Minas Gerais.
Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. zeliabonamigo@uol.com.br




