Arnaldo Antunes lança DVD gravado entre amigos

Há tempos Arnaldo Antunes vem acalentando a ideia de fazer um show em casa para convidados. Em agosto, juntou a antiga vontade com a comemoração de seus 50 anos, montou um palco no terraço em cima de seu escritório, na ala do quintal, e registrou o show da bem-sucedida turnê de “Iê Iê Iê”, um dos melhores álbuns de 2009. O DVD “Ao Vivo Lá em Casa”, com direção de Andrucha Waddington, foi filmado em HD, teve patrocínio do projeto Natura Musical, e tem show de lançamento domingo no Citibank Hall.

A festa reuniu gente de diversas gerações, bem como canções que versam sobre a questão do tempo, como “Envelhecer”, “Sou Uma Criança”, “Não Entendo Nada” (de Erasmo Carlos, que cantou com o anfitrião), “Já Fui Uma Brasa” (samba de Adoniran Barbosa e Marcos César que abre o show numa roda de fundo de quintal com os Demônios da Garoa) e “As Melhores Coisas”, tema do filme “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, sobre adolescentes. Além de Erasmo, Jorge Ben Jor e Fernando Catatau participaram do show como convidados. Com exceção de seu contemporâneo Edgard Scandurra, a banda que acompanha Arnaldo é de músicos mais jovens (Marcelo Jeneci, Betão Aguiar, Curumin, Chico Salem). “Esse convívio entre pessoas mais velhas e mais novas tem uma riqueza bacana. Tem a ver com o fato de ser uma festa de 50 anos. É uma reflexão sobre a passagem do tempo.”

Amigos, família, artistas e outras pessoas ligadas à música – como Wanderléa, BNegão, Ortinho, Péricles Cavalcanti, o estilista Marcelo Sommer (que fez o cenário com as camisetas), Marina Lima, Paulinho Boca de Cantor, Arto Lindsay, Beto Villares – lotaram a casa na Vila Madalena para a gravação do DVD, que mistura o show com cenas da festa de 50 anos de Arnaldo. “É como se fosse a Festa de Arromba lá na jovem guarda”, brinca Arnaldo. “A graça do DVD é justamente não mostrar só o show, mas as pessoas na festa.”

Ele deu uma arrumada na casa e mexeu com a rotina da família e do bairro. “Nos cinco dias que antecederam a gravação, eles saíram da casa, tomada por uma equipe de 30 pessoas montando grua, estruturas, cenário. Parte do telhado foi retirada para a construção de uma passarela para a passagem da câmera, os quartos viraram cabines de vídeo e som. Os vizinhos foram avisados, os mais próximos, convidados para a festa, gerador de energia e caminhão de equipamentos ficaram estacionados na rua. O som deu pra ouvir a três quadras dali. Enfim, “a vizinhança inteira ficou sabendo”.

Arnaldo sempre gostou da “coisa híbrida”, desde o início da carreira, já nos primórdios dos Titãs. Então, não surpreende que hoje junte o samba de Adoniran com o samba-rock de Jorge Ben Jor (que canta suas parcerias com ele “As Árvores” e “Cabelo”), um rock novo de Erasmo (“Jogo Sujo”) e outro antigo de Luiz Melodia (“Pra Aquietar”), uma canção romântica de Odair José (“Quando Você Decidir”), outra de Frank Carlos (“Americana”, originalmente um forró) e o sambão carnavalesco “Vou Festejar” (Jorge Aragão, Noeci Dias e Dida), um dos achados do repertório, transformado em rock. “Desde os Titãs já tinha esse barato de curtir as coisas de ponta, o que era considerado alta sofisticação e o considerado lixo. E achar afinidades entre essas pontas.” Sem saudosismo, ele criou novos hits no estilo iê-iê-iê – “A Casa É Sua”, “Invejoso” (com participação do guitarrista Fernando Catatau no DVD), “Envelhecer”, as baladas “Meu Coração” e “Longe” – e trouxe canções de álbuns anteriores, como “Cabelo”, “Consumado” e “Essa Mulher” para esse formato.