Capa do livro
“Liberdade Vigiada”,
de Ruben Dargã Holdorf.

Campinas, SP – Inicialmente proibido de ser lançado, o livro “Liberdade Vigiada – Questão de Opinião”, do jornalista curitibano Ruben Dargã Holdorf, finalmente conseguiu se desvencilhar das algemas. Impedido de divulgação por um pró-reitor do Unasp, o livro fez jus ao título, pois a censura poderia desmoralizar este centro universitário localizado na Grande Campinas. Venceu a Declaração de Chapultepec.

Didático mas polêmico, “Liberdade Vigiada” foi alvo da mais vil censura prévia, comparada apenas aos tempos da ditadura no País, quando publicações recebiam o veto das autoridades. O motivo do constrangimento causado ao jornalista surgiu quando se analisou o texto “No reino da ‘malan’dragem”, publicado em O Estado do Paraná, em 96, e republicado pelo Correio Popular de Campinas, em 2000. Nele, Ruben critica veementemente ao ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, alegando “faltar com a verdade” e conduzir “com a barriga os interesses nacionais, mas com muita eficiência os negócios de norte-americanos e europeus”, rotulando-o de “burro” ou “bobo” no trato com os negócios do País. Se o artigo apresentasse problemas, esse teria sido impedido pelos próprios diretores de redação dos periódicos, Carlos Roberto Tavares (Charles) e Mário Evangelista, respectivamente. Além disso, não houve repercussão negativa contra Ruben na época.

Desrespeitando o Código de Direitos Autorais e a Declaração de Chapultepec, o pró-reitor responsável pela censura desconhece que “toda pessoa tem o direito de buscar e receber informação, expressar opiniões e divulgá-las livremente. Ninguém pode restringir ou negar estes direitos. Nenhum meio de comunicação ou jornalista deve ser censurado por difundir a verdade, criticar ou fazer denúncias contra o poder público”. Não se contentando em apontar o dedo em riste contra os artigos de política – textos produzidos em O Estado do Paraná, de 1996 a 2000 -, o censor desaprovou o prefácio do jornalista Elizeu Corrêa Lira, seu desafeto desde quando trabalharam na Casa Publicadora Brasileira, editora de livros localizada em Tatuí, interior paulista.

Coincidência

Parecia premonição quando Ruben escreveu artigo denunciando a apreensão do jornal Laboratório da Notícia do Unicenp pela Polícia Federal. “Os alunos do Positivo não são os únicos a sofrer perseguição de figurões. Incrivelmente existe em todo o Brasil preocupação generalizada com os cursos de Jornalismo”, vaticina. Na proposta de exercícios, Ruben sugere aos alunos investigar se outros cursos brasileiros de Jornalismo sofrem algum tipo de censura.

Infeliz coincidência, mas sua seleção de textos causou enjôo apenas na Pró-Reitoria do Campus Engenheiro Coelho. Quem definiu se o livro seria lançado foi o reitor Euler Bahia, que não percebeu nada de desagravo à instituição de ensino, inclusive elogiando a iniciativa pioneira do professor do curso de Comunicação Social.

Proposta didática

Tratando-se de material didático, os 102 artigos em “Liberdade Vigiada” visam estimular à reflexão os alunos de Jornalismo, com propostas de pauta ao final de cada texto. Divididos em vários assuntos, a maior seção é a de política, salientando-se críticas venenosas aos governos municipais, estaduais e federal. Alguns dos textos são verdadeiras obras da produção literária, como os da seção de crônicas.

Bem sugestivo, “Liberdade Vigiada” estampa na capa duas mãos acorrentadas digitando num teclado. “Muitos acham que o jornalismo de opinião é livre, fácil de se desenvolver. Mas você fica amarrado pela linha editorial”, explica Ruben. “Não há nada mais vigiado em um jornal do que o texto de opinião”, completa.

Quando perguntado sobre seu artigo de maior preferência e repercussão, o autor citou o “Proagindo com o HC”. Segundo ele, uma semana após a publicação deste texto, que apelava ao não-fechamento do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, a Prefeitura Municipal de Curitiba doou mais de quatro milhões de reais ao HC. “Texto de opinião não é só uma tribuna para criticar, atacar ou se defender de pessoas. O jornalista deve ter a visão de colaborar com o crescimento social”, salienta.

Apoio

Respaldado pela própria reitoria, professores e alunos, tanto o livro quanto seu autor também contaram com apoio de profissionais da área. O produtor da CBN-Recife, Heron Santana, considera “este livro como ferramenta indispensável para quem deseja dar um passo adiante na difícil tarefa de comunicador”. “A obra é um instrumento essencial para preparar os futuros profissionais a serem também bons editorialistas”, recomenda Amarildo Augusto, repórter do Mogi News.

Ruben também recebeu ampla aprovação dos ex-companheiros de redação de O Estado do Paraná. Adalberto Bueno, revisor-chefe, afirma valer “a pena ler com atenção cada página com tempo suficiente para saborear um estilo vivo, pensamentos claros e abordagem encarnada de um palavreado acessível, fazendo dele – Ruben – um comunicador sempre convincente”. O diretor executivo de Paraná OnLine, Marcos Paulo Assis, considera a empreitada resultado da “competência e ousadia” do ex-editor/criador do site de O Estado.

Segundo o geógrafo paranaense, Luís Roberto Halama, “a luta pela liberdade de expressão de forma completa e livre de pressões e censuras, posto que é um direito constitucional assegurado a todos os cidadãos, tem sido marcante na vida do jornalista e professor Ruben Holdorf”. Desde quando abraçou este ideal de liberdade de consciência e imprensa, Ruben tem sido vítima de ataques nada fortuitos, bem-direcionados. A respeito da tentativa de se impedir o lançamento do livro e a ameaça de demissão, Ruben preferiu conservar o silêncio. “O importante é que o livro será lançado e eu respeito a opinião do pró-reitor, mesmo não concordando com a possibilidade de censura e até uma eventual demissão. Ele é meu superior e minha postura ética como profissional não permite qualquer retaliação”, posiciona-se.

Lira, amigo desde a adolescência, define Ruben como “um pesquisador incansável, comprometido unicamente com a busca da verdade, um educador de vanguarda, arguto e visionário, e um jornalista competente que vive, come, bebe e respira jornalismo nos moldes dos melhores profissionais da área”. Indicado ao Prêmio Jabuti 2000, Lira julga “‘Liberdade Vigiada’ uma corajosa tomada de posição e veemente condenação aos desmandos e desvios éticos daqueles a quem exatamente cumpre o propalado dever de zelar pela feitura e aplicação de leis justas”. “Mais do que meros exercícios, a seleção de artigos com as suas respectivas pautas propicia uma rica incursão pelos temas básicos, essenciais mesmo, à constituição de uma visão real de mundo para os estudantes da área jornalística”, incentiva.

Serviço: Para adquirir a obra, solicite à Imprensa Universitária/Unaspress pelo e-mail imprensa@unasp.br ou pelo fone (019) 3858-9055.

Título: “Liberdade Vigiada – Questão de Opinião”, 287 pp., Imprensa Universitária/Unaspress, Engenheiro Coelho, SP, 2002.

Autor: Ruben Dargã Holdorf

Graduado em Jornalismo pela UFPR, especializado em Educação Superior pelo Unasp, ex-professor do curso de Jornalismo da UFPR, ex-jornalista de O Estado do Paraná, é professor do Unasp e responsável pela Agência Brasileira de Jornalismo – www.unaspress.unasp.br e www.canaldaimprensa.com.br -, além de várias revistas do centro universitário.

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