Aos 62 anos, Suzana Vieira está de bem com seu corpo e comemora seu novo personagem

Suzana Vieira poucas vezes esteve tão animada com um papel na tevê. E isso apesar de se dizer exausta com o ritmo de gravações de Senhora do Destino. Até receber o convite de Aguinaldo Silva para viver a sofrida Maria do Carmo, a atriz vivia dizendo que faltava à sua carreira uma mulher do povo, nordestina e cheia de fibra. E, o que é melhor, Suzana não imaginava ser o centro do principal triângulo amoroso de uma novela às vésperas de completar 62 anos de idade – ainda mais com José Wilker e José Mayer nas outras pontas. “Triângulo amoroso é para quem tem 20 anos. Como temos mais de 50, já saímos no lucro”, brinca, às gargalhadas.

No que depender de sua própria disposição, Suzana está no lucro mesmo. A atriz mantém o bom humor até ao final de um dia inteiro de gravações. E é rindo de si mesma que garante não ter tempo para mais nada – incluindo a ginástica, que, ao lado de dieta e uma lipoaspiração, a ajudou a reduzir o manequim de 44 para 38, como ela não se cansa de repetir. “Não poderia estar melhor, vestindo 38 e trabalhando na maior emissora do Brasil”, gaba-se, sem a menor ponta de modéstia.

A mesma boa dose de autoconfiança ela demonstra ao falar da composição de suas personagens na tevê. Graças aos 43 anos de carreira, Suzana garante que não precisa levar trabalho para casa. “Não fico torturada, estudando. Meu trabalho é feito no estúdio”, minimiza.

Com Maria do Carmo não foi diferente. Suzana não fez pesquisas, não se inspirou em ninguém e nem buscou ouvir histórias parecidas com a da personagem. “Sofrimento a gente não precisa pesquisar”, justifica. Sobre um detalhe, no entanto, a atriz nunca escondeu sua preocupação: o sotaque de Maria do Carmo. Depois de fazer diversas aulas com uma fonoaudióloga pernambucana, a atriz ainda temia o julgamento do público. Mas foi só a novela entrar no ar para ela deixar a insegurança para trás. “Quero ser amada por todos, porque estou fazendo este trabalho com muito amor. Quero oferecer a Maria do Carmo a todas as mulheres brasileiras”, empolga-se, com seu habitual jeito histriônico.

Longa estrada

Em 43 anos de carreira, Suzana Vieira já perdeu a conta das personagens que interpretou na tevê, no cinema e no teatro. Só em novelas, são cerca de 40. Depois de passagens pela Excelsior, pela Tupi e pela Record, a atriz está na Globo desde Pigmalião 70, de 1970. Na emissora, participou ainda de várias minisséries, como “Anos Rebeldes” e “Chiquinha Gonzaga”. Mas também não perdeu a oportunidade de fazer novelas no México, onde passou uma temporada no início dos anos 80.

Mãe em tempo integral

Assim como Maria do Carmo, Suzana Vieira adora reunir a família toda em torno de si. Só que, no caso da atriz, os encontros não são tão freqüentes. E a “prole”, não tão numerosa. Suzana tem apenas um filho, Rodrigo, pai de Rafael, de sete anos, e Bruno, de quatro. Os três moram em Miami, nos Estados Unidos. A atriz, que morre de saudades, aproveita para “tirar uma casquinha” da família da ficção. “Adoro ficar agarrando e beijando meus netos. Nesta novela, estou cheia de filhos e netos para paparicar”, comemora, risonha.

De fato, as gravações das cenas em família têm sido uma verdadeira festa. Principalmente quando Maria do Carmo consegue juntar a numerosa trupe em torno de uma mesa, para saborear as delícias preparadas por Dona Clementina, personagem de Míriam Pires. A atriz é a primeira a embarcar nas brincadeiras. Mas também faz o papel de mãezona. “Wolf, vamos ensaiar de novo porque esta não valeu. Ninguém fez nada a sério”, pedia a atriz numa das gravações, depois de o grupo passar a cena inteira às gargalhadas. “Aqui, fica todo mundo com cinco anos de idade, é uma maravilha”, conclui Suzana, satisfeita.

P

– Como você se preparou para viver a Maria do Carmo?

R

– Nunca criei minhas personagens indo a lugares, estudando um tema ou observando pessoas. Trabalho há 43 anos e sempre me entreguei ao autor e ao diretor. Meu trabalho é feito dentro do estúdio. É um exercício natural. Não vou para minha casa e fico lá, torturada, estudando. Deixo as personagens entrarem no meu corpo quase espiritualmente, aceitando o que o autor escreve e ouvindo as diretrizes dos diretores. E acho que é assim que se prepara um personagem. Ninguém conhece mais a novela e a personagem que o Aguinaldo.

Além disso, não adianta eu mergulhar profundamente numa personagem de tevê, porque muita coisa pode acontecer. As pessoas morrem no meio do caminho, as novelas acabam de repente, as televisões saem do ar. É muito diferente de se fazer uma peça ou um filme. Quando tenho uma personagem fechada, mergulho nela, estudo a respeito. Na tevê, eu não estudo. Aceito, acato e desenvolvo.

P

– Mas como você se inspirou para viver o drama de uma mulher que tem a filha seqüestrada?

R

– Eu não gosto nem de imaginar uma situação dessas. Acho isso um absurdo, não sei como uma mulher consegue viver sabendo que teve um filho seqüestrado. Mas continuo achando que para expressar sofrimento a gente não tem de pesquisar ou se inspirar. Busco dentro de mim, com a minha experiência e os meus sofrimentos pessoais.

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