Aos 40 anos de carreira, Osmar Prado diz que o ator tem sempre que ser o “co-autor” da obra

Osmar Prado nunca se contentou em repetir o texto que lhe chega às mãos quando interpreta um personagem de novela. Um de seus mais cuidadosos trabalhos é justamente a “adaptação” do texto ao modo como julga que o personagem falaria, com inclusão de expressões e até trechos inteiros, como acontecia com o alcoólatra Lobato, de O Clone. “Se o ator não é co-autor do personagem, é um robô, não um intérprete”, sentencia, veemente. Por conta disso, o caipira Margarido, de Chocolate com Pimenta, tem lhe dado um prazer especial. Expressões como “garre mão”, “carca mecha” e “vou me apinchar”, já incorporadas ao texto pelo autor Walcyr Carrasco, foram retiradas do vocabulário do pai do ator, que morava no interior de São Paulo e faleceu há cerca de dois anos. “Está tudo guardado na minha memória. Coloco em prática e faço uma homenagem ao ?velho?”, revela, com um sorriso emocionado.

A atuação sempre cheia de conteúdos de Osmar tem lhe valido seguidos personagens densos, como o militante Jacobino, de Esperança, ou o bizarro Tião Galinha, de O Clone.

Sempre assume um tom de indisfarçável empolgação quando fala de seu trabalho. Nesses momentos, fica até mais fácil imaginá-lo cortando a cidade do Rio de Janeiro em cima de uma motocicleta, um de seus hobbies prediletos. É com o mesmo misto de diversão e seriedade que ele encara o ofício de ator. “Toda arte tem de divertir o espectador, mas tem de ser inquietante também. Um ator deve estar sempre testando um vôo que nunca foi feito”, define, com os olhos cheios de brilho.

P – Em que aspecto o confeiteiro Margarido mais atraiu você?

R – Logo que li a sinopse da novela, percebi a possibilidade de homenagear meu pai, falecido recentemente. O Margarido é meu pai escrito. Ele era colérico, emocionalmente à flor da pele, uma pessoa como o tempo, que ora troveja, ora abre sol. Ele tinha essa coisa bem interiorana. E falava de um jeito muito interessante, a gente dava risada mesmo quando ele estava nervoso. Peguei muito do que ele falava. Só não pude pegar os palavrões, que ele falava muito também…

P – Que outras inspirações você teve na hora de criar o personagem?

R – O caráter, o orgulho que ele tem de ter conquistado as coisas com sacrifício. É um cara que tem ética, que não aceitaria nada de graça. Às vezes é um pouco moralista, como seria normal na década de 20 do século passado, mas tem ética, uma personalidade bacana. E tem a relação dele com a comida, que é uma coisa meio mágica e me influenciou muito. O universo da comida é muito bonito. Quantas vezes as pessoas vão a uma festa e não se dão conta do trabalho que deu preparar aquilo tudo? Agora, quando vou a uma festa, fico olhando com toda atenção o bolo, os docinhos. Aquilo é uma forma de arte.

P – A que você atribui os seguidos convites para personagens de grande conteúdo político e social na tevê?

R – Pode ser coincidência ou reflexo do meu comportamento como cidadão. Sou um ator de intensidade dramática. Talvez pensem em entregar a mim personagens como o Lobato, o Tião Galinha, o Jacobino, porque sabem que vou mergulhar profundamente. Todo ator projeta um pouco na carreira aquilo que ele mesmo é. Conforme o refinamento, o amadurecimento da carreira, ele se encaminha para aquilo com que mais se identifica. Eu, particularmente, tenho certa identificação com personagens que tenham uma relação direta com o que penso, ou, muitas vezes, com o contrário daquilo que penso. Fiz Hitler no teatro, assim como faria Mussolini ou Jesus Cristo.

Trajetória de quatro décadas

Ao longo de 40 anos de carreira na tevê, Osmar Prado aprendeu que não existe personagem pequeno. Hoje, a primeira coisa que avalia ao ler um texto é a “potencialidade do verbo”, algo que não tem nada a ver com a palavra falada. “Ganhei um Kikito pelo curta-metragem Um Domingo no Campo, com um personagem que não dizia uma só palavra”, destaca. Ao lado de seus personagens prediletos na tevê, como Tião Galinha, Sérgio Cabeleira, Jacobino e Lobato, o mulherengo Tabaco foi uma grata surpresa. “Quando vi que seria um motorista do Tarcísio, achei que a Globo estava me punindo”, lembra, aos risos. Foi só descobrir que Tabaco teria três mulheres, no entanto, para o ator mudar de opinião.

– Esperança, de 2002, Jacobino.

– O Clone, de 2001, Lobato.

– Os Maias, de 2001, Tomás de Alencar.

– Esplendor, de 2000, Rodolfo Bernardes.

– Meu Bem-Querer, de 1998, Barnabé de Barros.

– Sangue do Meu Sangue, de 1995, Clóvis Camargo.

– Éramos Seis, de 1994, Zeca.

– Renascer, de 1993, Tião Galinha.

– Pedra Sobre Pedra, de 1992, Sérgio Cabeleira.

– Riacho Doce, de 1990, Neco do Lourenço.

– Vida Nova, de 1988, Pietro.

– O Pagador de Promessas, de 1988, Padre Elói.

– Mandala, de 1987, Gérson Silveira.

– Roda de Fogo, de 1986, Tabaco.

– Tudo em Cima, de 1985, Osvaldinho.

– Meu Destino é Pecar, de 1984, Marcelo.

– Viver a Vida, de 1984.

– Champagne, de 1983, amigo de Nil.

– Voltei pra Você, de 1983, Joãozito.

– Mário Fofoca, de 1983, Donato Freitas.

– Seu Quequé, de 1982, Seu Quequé.

– O Amor é Nosso, de 1981, Alfredo.

– Chega Mais, de 1980, Amaro.

– Pai Herói, de 1979, Pepo.

– Te Contei?, de 1978, Edu.

– Nina, de 1977, Morungaba.

– Anjo Mau, de 1976, Getúlio.

– Helena, de 1975, Estácio.

– Senhora, de 1975, Torquato.

– A Grande Família, de 1973, Júnior.

– Bicho do Mato, de 1972, Juba.

– Bandeira 2, de 1971, Mingo.

– O Cafona, de 1971, Cacá.

– Assim na Terra Como no Céu, de 1970, Mariozinho.

– Verão Vermelho, de 1970, Bebeto.

– Os Estranhos, de 1969, Tony.

– Dez Vidas, de 1969.

– A Muralha, de 1968.

– Ilusões Perdidas, de 1965.

– Tortura D?Alma, de 1963.

Voltar ao topo