Aos 32 anos, Cláudia Abreu tem em Laura a sua primeira vilã

A dissimulada Laura, de Celebridade, é a primeira vilã da carreira de Cláudia Abreu. Mas a atriz resiste ao lugar-comum de dizer que estava há anos esperando a oportunidade de interpretar uma personagem mau-caráter. Ela não tem dúvidas de que a obcecada assistente de Maria Clara, vivida por Malu Mader, seja um grande papel. Só não acredita que isso se deva exclusivamente à vilania. “Nunca achei um personagem melhor que outro só por ser vilão. Nem sempre as vilãs são melhores que as mocinhas”, opina, veemente, apesar de reconhecer o talento do autor Gilberto Braga para moldar vilãs como Odete Roitman, de Vale Tudo, ou Yolanda Pratini, de Dancin?Days.

O que mais atraiu a atenção da atriz em Laura, no entanto, foram as múltiplas personalidades que ela forja, no afã de levar a melhor em cada situação. “Ela pode ser romântica para conquistar alguém, é subserviente com a Maria Clara e vulgar com o Marcos”, exemplifica. Ao lado de Márcio Garcia, aliás, Cláudia tem protagonizado algumas das mais “calientes” cenas da trama. “O sexo entre eles é bastante desvirtuado”, reconhece, com um sorriso tímido.

Extremamente reservada, a atriz de 32 anos adquire um ar de moleca ao falar do trabalho e da filha, Maria. A menina, de dois anos e meio, é um dos motivos pelos quais ela adorou o fato de Celebridade ter sido adiada. “Pude amamentá-la até um ano e dois meses e ainda fiz dois filmes”, celebra, citando O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, com quem é casada, e O Caminho das Nuvens, de Vicente Amorim. O tempo de espera também serviu para que a atriz fosse assimilando aos poucos a personagem. Cláudia jura que não fez nada além de “pensar sobre o papel das vilãs nas novelas” para compor Laura. “Não me inspirei em nada, em ninguém e em nenhum filme”, assegura, apesar da visível semelhança com a personagem de Ane Baxter em A Malvada, longa estrelado por Bette Davis em 1950. Com o trabalho no ar, ela só tem uma expectativa. “Espero que me odeiem com muito fervor”, revela, entre risos.

P – Como você lida com o fato de ser uma celebridade?

R – Obviamente, todo mundo que busca esta profissão sabe que isso é uma conseqüência. Tem de ter habilidade para lidar com a exposição, com o público, a imprensa. Acho difícil saber até que ponto faz parte do meu trabalho, até que ponto estou sendo respeitada, quando tenho direito à minha privacidade. E saber lidar com o fã carinhoso e o fã agressivo, inoportuno, invasivo, o jornalista profissional e o oportunista. Já tive várias experiências felizes e outras desagradáveis, acho que fui ganhando jogo de cintura. Mas é claro que gosto que me respeitem. Fico querendo dar um limite, até por questão de temperamento. Não tenho temperamento de me abrir muito, de falar sobre minha vida, ficar mostrando minha casa. Há pessoas que gostam de se expor só no trabalho, e este é o meu caso. Como o trabalho já nos deixa muito expostos, física e emocionalmente, é necessário algum mistério para nossa própria vida, algum recolhimento. É uma questão de equilíbrio.

Entre o cinema e a televisão

Apesar de ter feito muitos trabalhos na tevê logo no início de sua carreira, nos últimos anos Cláudia Abreu tem presença “bissexta” na telinha. Depois de Pátria Minha, de 1994, por exemplo, a atriz só voltou às novelas em 1999, com A Força de Um Desejo, após uma pequena “participação afetiva” em Labirinto, de 1998. A ausência não se deve a nenhum desinteresse pela tevê. Ao contrário, Cláudia diz adorar as novelas. Mas a empolgação de ter descoberto o cinema depois de uma longa crise na produção nacional fez com que ela emendasse um trabalho no outro desde sua estréia na telona, em Tieta do Agreste, de 1996. De lá para cá, Cláudia fez O Que É Isso, Companheiro?, Guerra de Canudos, Ed Mort, O Xangô de Baker Street, O Homem do Ano e O Caminho das Nuvens. “Saciei minha vontade de fazer cinema e ainda tive a chance de fazer participações em programas legais, como A Vida Como Ela É e A Comédia da Vida Privada”, comemora.

Na tevê, seu papel predileto é a Heloísa de Anos Rebeldes. O autor Gilberto Braga escreveu a personagem para a atriz depois de acompanhar seu trabalho durante uma visita aos estúdios de O Outro. “É meu papel mais importante. Depois disso, como recusar um convite dele?”, indaga. A relação com Gilberto faz com que ela tenha um carinho especial também por Alice, de Pátria Minha, novela que não foi muito bem. E a Clara, de Barriga de Aluguel, é responsável por boas lembranças. “Foi a primeira vez que tive de desenvolver o sentimento maternal”, lembra a orgulhosa mamãe de Maria, de dois anos e meio.

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