Ao pé da letra da MPB

Uma radiografia da Música Popular Brasileira no século XX, dos difíceis tempos de Ismael Silva, Noel Rosa e Ary Barroso, até os melancólicos anos 90, com a explosão do axé, do sertanejo pop e do pagode “romântico”. Assim pode ser definido o livro Brasíl Século XX – Ao Pé da Letra da Canção Popular (Editora Nova Didática, 200 páginas, R$ 37), que os professores paranaenses Luciana Worms e Wellington Costa, o Wella, lançam amanhã nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação. O evento vai contar ainda com um pocket show dos autores, que vão interpretar as canções presentes no livro.

Agraciada no mês passado com o Prêmio Jabuti de Melhor Livro Didático, a obra é fruto da paixão do casal pela música. Sentimento que acabou aproximando os dois no início dos anos 90: “Nossas conversas sobre música acabaram em namoro e depois em casamento. O gosto pela música é tanto que nossos amigos, muitos deles também já premiados com o Jabuti, brincam que só casamos para juntar nossa coleção de discos”, conta Luciana.

Capítulos

O livro, que também acaba de receber o Prêmio Clio de História, organizado pela Academia Paulistana de História, é dividido em quatro capítulos. O primeiro ? Maldito Violão ? cobre o período do início do século à renúncia de Getúlio Vargas. “O título é uma alusão à repressão que os músicos sofriam, pois quem era flagrado tocando violão na época era preso”, lembra Luciana. Segundo ela, a temática deste primeiro capítulo é a malandragem, bem representada por canções de Sinhô, Ismael Silva, Noel Rosa e Ary Barroso, entre outros.

O segundo capítulo ? Bendito Violão ? retrata o período de 1946 a 1961, época em que o instrumento, antes marginalizado, passa a ser cultuado e ganha o direito de entrar livremente nos lares. É a fase da Bossa Nova e de nomes como João Gilberto, Vinícius de Moraes e Carlos Lira.

No terceiro capítulo ? Maldita Guitarra ? destaca-se a forte rejeição que a classe musical tinha desse instrumento. “Houve até passeata para protestar contra a guitarra”, lembra Luciana. Ela lembra que de 1961 a 1979 os músicos eram divididos em três grupos: os da Bossa Nova, liderados por Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo, que mostravam-se radicalmente contra a guitarra; a turma do “sim”, composta pelos integrantes da Jovem Guarda; e pessoal do tropicalismo, formado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, Rogério Duprat e outros. Estes últimos não viam problema em usar a guitarra nas canções de MPB, desde que os acordes e o estilo fossem respeitados.

O capítulo seguinte relata o período dos anos 80 até a renúncia de Fernando Collor, marcado pelas canções de protesto e crítica de grupos como Titãs, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, e por cantores como Lulu Santos. O capítulo foi batizado de Bendita Guitarra, e mostra a valorização desse instrumento e o surgimento do movimento Pop Rock Nacional.

O livro fecha com as eleições de Fernando Henrique Cardoso, fase caracterizada pela revolução do videoclipe e dos arquivos sonoros em formato MP3. “É a fase do movimento sertanejo e de bandas de samba e pagode, em que a prioridade do mercado fonográfico não é a qualidade, mas sim as vendas. Mas também é uma época de bons nomes, como Cássia Eller, Lenine, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto”, pondera Luciana. Em outras palavras: um livro essencial para quem deseja compreender melhor a cultura popular brasileira e suas manifestações, uma enciclopédia que esmiúça o DNA da nossa MPB, herdado dos movimentos sociais e políticos de cada época.

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Lançamento amanhã, às 19h, nas Livrarias Curitiba do Shopping Estação.

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