São 20 anos no ar apresentando um programa ao vivo, de segunda a sexta, na TV Globo. Inúmeras manhãs em frente às câmeras para levar ao telespectador um conteúdo que mistura culinária, prestação de serviços, entretenimento, jornalismo, além dos assuntos que repercutem nas redes sociais. Ana Maria Braga, criadora do Mais Você, que faz aniversário nesta sexta-feira, 18, empresta ao programa sua personalidade, seu jeito de ser e suas ideias, que se misturam com a atração.

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Ao atender a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo para uma entrevista exclusiva, Ana Maria Braga havia acabado de sair de uma reunião de pauta. “Estou interagindo o tempo todo. Participo desde a decisão da matéria até ficar pronta. O programa muda até amanhã de manhã. Para você ter uma ideia, a última reunião acontece às 8h”, relata. A experiência após tantos anos no ar ajuda. Porém, até mesmo quem conhece os bastidores da TV admira o poder de improviso de Ana Maria. Se a apresentadora lê o famoso TP (Teleprompter), é praticamente imperceptível. E ela confessa: “Eu sei exatamente o conteúdo que vai para o ar. Leio pouco o TP do que eu vou chamar. Fica mais natural.”

A Globo contratou Ana Maria em 1999 após o sucesso do programa Note e Anote, na Record. “Morava no Morumbi e, quando passava pela Marginal (do Pinheiros) e via a Globo sendo construída na Berrini, dizia: Um dia vou trabalhar aqui. As palavras são sementes. Você tem que projetar aquilo que quer, desde que você pense que o que está querendo é possível”, reflete. Ela conta que, após a contratação, a emissora reconsiderou a proposta de fazer um programa diário ao vivo.

“Tinha o jornalismo e o Fausto no domingo, que era no mesmo formato do Chacrinha. Mas programa de entretenimento sem ser jornalístico, ao vivo, o Mais Você foi o primeiro. Estava todo mundo inseguro. Eles falavam: Vamos gravar, é melhor. Eu dizia: Olha, eu não sei fazer programa gravado. Sempre acreditei na possibilidade do erro, do improviso. Aprendi televisão fazendo assim”, diz.

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Quando o Mais Você foi ao ar pela primeira vez, o Brasil era outro: o presidente era Fernando Henrique Cardoso, as pessoas temiam o chamado bug do milênio e acesso à internet era privilégio. E, ao longo de 20 anos, o telespectador se transformou. Com isso, a linguagem do programa também teve de se adaptar. “A comunicação mudou muito, principalmente nos últimos dez anos. Mas o foco não: o contato com quem está do outro lado da câmera. Esse não pode mudar nunca”, afirma.

A apresentadora tem um mantra que a acompanha desde sempre: “Sou de São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. Se eu falar de algum assunto que minha mãe não entenderia, não estou falando com ninguém. Mas também não posso falar o patati-patatá. Tenho que falar também com quem pode viajar para a Europa. Preciso falar de forma que todos entendam”.

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Sobre os assuntos que vão ao ar, ela pondera que é preciso saber como lidar. “Doze anos atrás, qualquer matéria que você abordasse, por exemplo, educação sexual, a gente tinha queda de audiência. Porque as pessoas não queriam ouvir. Imagine só falar de diferentes formas de se amar, né? Era impossível. A gente ainda tem grande parte da tradicional família brasileira. E eu respeito e tenho que respeitar”, avalia.

Hoje, 20 anos depois, além de um estúdio moderno, cheio de tecnologia, o Mais Você é conhecido gerador de memes na internet. E Ana se diverte: “Adoro! E o que é legal é que a gente não monta meme. A gente é tão desastrado que, de vez em quando, escapa alguma coisa e é muito divertido”, ri. Aos 70 anos de idade, a apresentadora é fascinada por tecnologia e sempre joga videogame com os netos.

Louro José. Fiel companheiro de TV, Louro José, interpretado por Tom Veiga, já estava na vida de Ana Maria antes da Globo. “Ele nasceu na Record. O Tom é um grande companheiro. Foi uma obra da graça de Deus a gente ter se encontrado lá atrás. Ele era produtor e eu inventei o papagaio. E, desde o momento em que ele seguiu o Louro, a gente nunca brigou. E olha que a gente convive todo dia! É o meu mais longo casamento”, conclui aos risos.

Seguindo o ritmo de se reinventar a cada instante, Ana Maria realizou, recentemente, um curso na renomada Cordon Bleu Paris, na França. “Nunca havia feito um caldo profissional, daqueles de restaurante, que têm os seus segredos. Acho que saber, ninguém sabe tudo. Eu aprendo todo dia.” Ela lembra como as pessoas encaravam a culinária: “Ainda na Record, era uma coisa considerada brega, sabe? Para dona de casa, cozinheira. E mesmo as mulheres não achavam chique falar que faziam uma comida legal. Ao longo do tempo, fui aprendendo que podia dar um caminho para essa culinária”.

Ana Maria ressalta que o salário mínimo no Brasil é baixo e que procura fazer receitas com ingredientes acessíveis. “Não faço ingrediente que só tenha no Nordeste, só no Sul ou que seja importado. Todos têm de ter acesso ou tenho que substituir. E tem que dar certo! A pessoa não pode fazer receita que custa R$ 30 e jogar fora esse dinheiro”, explica ela.

Com espírito em constante transformação, Ana Maria Braga revela que tem planos para os próximos anos. “Vou esperar esses 20 anos que você falou (risos). Mas, sério, tenho muitos sonhos ainda para esse nicho Mais Você. No ano que vem, não posso contar agora, mas a gente ainda vai ficar mais juntinho”, conclui a apresentadora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.