Americano Moby lança novo disco chamado ‘Innocents’

Um dos discos de maior sucesso deste fim de ano é Innocents, o novo álbum de Moby. Com convidados como Wayne Coyne, dos Flaming Lips, do lendário Mark Lannegan e do folk singer Damien Jurado, o trabalho parece reconectar Moby com seus anos áureos – ele chegou a vender 20 milhões de discos e foi atração principal de festivais como o Glastonbury, na primeira metade dos anos 2000.

O produtor foi Mark Stent, que trabalhou com U2, Madonna, Muse, Björk.

“Cineastas, músicos, muitos artistas tentam justificar um resultado artístico por meio de um relato de sofrimento. Muitos falam de como se agrediram no processo de fazer um artefato artístico, de como todo mundo envolvido gritava com todo mundo. Eu tenho orgulho de dizer que esse disco foi feito em completa harmonia com todos os envolvidos”, disse Moby, falando por telefone ao jornal O Estado de S.Paulo, na semana passada.

Há uma música sua fazendo um grande sucesso aqui na trilha sonora de uma novela, Perfect Life, que é o tema de uma garota autista, Linda. Você sabia disso?

MOBY – Sim, sabia. Conversei recentemente com alguns amigos que vivem no Brasil e eles me contaram sobre esse surpreendente, e quase acidental, sucesso. É tema de um caso de amor autista, o que me pareceu perfeito.

É um personagem autista. Você acha apropriado com a música?

MOBY – Sim. É engraçado, porque isso me lembra que eu trabalho com uma instituição em Nova York, o Institute for Music and Neurological Function. Você viu o filme Awakenings, com Robert De Niro? Pois bem, o filme é baseado no médico neurologista Oliver Sacks, que é como se dá a origem do instituto. E eles têm vários terapeutas musicais com trabalhos diretamente relacionados em como a música afeta o cérebro. E tem vários resultados muito interessantes em pacientes autistas. Por isso, fez sentido para mim, que minha música tenha ido parar como tema desse love affair no Brasil.

Ouvindo seu disco e vendo sua atuação como DJ, percebo algo curioso. Vi na internet você tocando em Las Vegas outro dia, e você era um homem festa, milhares de pessoas à sua frente em êxtase. Por outro lado, em disco, você é muito introspectivo. Parece um paradoxo o jeito como se manifestam esses dois lados de sua personalidade.

MOBY – Estranho seria se não fosse desse jeito. Em uma conversa com amigos outro dia, a gente falava sobre como certos cineastas, músicos, escritores, artistas são conhecidos apenas por uma coisa. Veja uma banda como o Metallica. Adoro o Metallica. Eles são conhecidos por uma única faceta, a de heavy metal hard rock band. O bom a respeito disso é que a plateia sempre sabe o que esperar do Metallica. Mas o problema para eles é que se quiserem fazer uma outra coisa não poderão, porque sua audiência não vai deixar. Na minha vida, meu background é muito estranho, porque eu comecei tocando música clássica, depois, quando estava na high school, toquei em punk rock bands; então toquei como um DJ de hip-hop, jazz. E nos meus próprios discos tenho sido um estranho paradoxo, o que tem confundido muita gente. Mas também me libera para criar aquilo que eu quero experimentar. Teria sido pior se eu tivesse escolhido fazer apenas um gênero. Veja o Daft Punk, por exemplo. O Daft Punk toca dance music. Quando compram um disco do Daft Punk, sabem o que esperar, e essa é uma das razões pelas quais têm grande sucesso comercial. Eu conheço os caras do Daft Punk, eles podem fazer um monte de outras coisas. Sem querer ser muito filosófico, mas o ser humano é complicado, é cheio de paradoxos. Tenho amigos que, quando acordam de manhã, são pessoas totalmente diferentes das que são quando vão ao bar, saem para dançar, quando jogam vôlei, quando fazem sexo. Ou quando tomam o café da manhã. Alguns artistas, quando se definem em um único caminho, às vezes o fazem por conveniência, mas isso pode ser criativamente limitante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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