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Ale Sater, vocalista do Terno Rei e primo de Almir, lança álbum solo

De Niterói para São Paulo. Filho de um sul-mato-grossense com uma baiana. Viveu em São José dos Campos e entre outras tantas cidades. Ale Sater, vocalista e baixista da banda de power pop viajante Terno Rei, é muito em um só. Da guitarra distorcida, construindo uma parade sonora, camada sobre camada, ele vai para o violão. A versão solo do músico, que pode ser ouvida a partir desta sexta-feira, 12, com o lançamento do EP Japão, é o oposto do ruído. Sater, neste momento solo, é o vazio.

Japão é um projeto nascido há três anos, em paralelo ao trabalho com o Terno Rei – ambos são lançados pelo selo esperto Balaclava Records. Com a banda, Sater já tem Vigília, disco cheio de estreia da trupe, uma reunião de experimentações de texturas e versos curtos. Mais recentemente, no ano passado, veio o EP Trem Leva Minhas Pernas, com a música-título e Neblina, uma canção solar de guitarras pop, quase dançantes – na medida do possível.

Nada poderia preparar para o ar caipira que está contido em Japão. São seis canções que desconstroem até a imagem de Sater como artista. Um processo nascido há três anos, quando o Terno Rei não tinha ainda lançado oficialmente seu disco de estreia. Foi quando começou a nascer A Seca, também a primeira a ser lançada. A Seca é, como seu próprio nome, de uma secura. Como se até a guitarra e a voz de Sater estivessem rachadas depois de dias e meses debaixo do sol intenso. “Foi a música que mais me deu trabalho”, brinca Sater. Era uma canção mais cheia, conta o músico, de versos, estrofes e pontes. E o grande trabalho dessa composição foi limar e limpar a faixa até o resultado final. “É também a canção em que falei menos de mim ou de minha família”, explica ele. A Seca é um sussurro de desespero a respeito das imigrações e dos deslocamentos daqueles que sofrem para sobreviver em condições climáticas desumanas. “É, sim, um disco sobre deslocamentos”, concorda Sater. “Até por isso mesmo o nome dele é Japão.”

Deslocamento e não pertencimento. Desde aqueles que deixam sua terra em busca de algo a mais – vida, água, grama verde, trabalho ou um amor – até as experiências pessoais de Sater sobre as caminhadas ao longo da vida. O sentimento dele de não pertencer ao ambiente é o foco. “Volte para casa. Pela mesma estrada. Pelo mesmo barro. Volte”, diz o verso de Volte Para Casa, uma canção na qual Sater examina a própria noção de onde veio. “Sorte é pisar na terra”, canta ele em outro trecho. Entre vazios de uma guitarra dedilhada como um violão caipira, Sater canta sobre o retorno ao campo, à terra, ao barro. “É a minha infância, de alguma forma”, ele explica. “Falo um pouco desse retorno. De que sou um bicho do mato”, explica o músico. “Vivi no interior, em cidades como São José dos Campos (no interior de São Paulo) e em Mato Grosso do Sul.”

Volta Para Casa, assim como Saída de Bangu, que é a faixa instrumental que encerra Japão, são as canções mais novas da safra de Sater. “É algo que fui construindo ao longo dos anos. Como um livro. Montando pedaços e tal. No momento no qual decidi fazer um EP, fui reunindo as músicas e percebendo que elas conversavam entre si”, ele conta. “Desde o começo, quando comecei a criar essas músicas, achava que elas não funcionariam no Terno Rei. Ou melhor, elas ficariam muito diferentes do que estão agora.”

Japão tem cheiro de mato. O violão caipira não é tão presente quanto se imaginaria – ele está Filha do Dino, uma ótima canção sobre a mãe dele. Sater mostra o lado folk, um gênero pelo qual sua família é nacionalmente conhecida graças a Almir Sater, primo do primeiro grau do pai de Ale. “Os instrumentais dele são nessa mesma linha mesmo. Gosto bastante.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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