Álbuns desvendam a Amazônia

Valdir Cruz, fotógrafo paranaense há 18 anos morando em Nova York, retorna ao Brasil em tempos de férias trazendo na bagagem o livro Faces of the Rainforest e dois projetos imediatos: a edição brasileira do trabalho resultante de três expedições nas terras dos ianomâmis e a publicação de um outro álbum, desta vez sobre sua terra natal, Guarapuava.

Faces of the Rainforest – The Yanomami é o primeiro de uma série de livros que pretende editar, trazendo as fotos dos povos, entre os quais os Macuxi, Ingariko, Kaxinawa, Matis e Korubos, que vem conhecendo desde 1995, data da primeira expedição. Valdir Cruz fez as viagens sob patrocínio da Fundação John Simon Guggenheim, também avalizadora do álbum editado pela Power House.

Ao ser lançado nos Estados Unidos, a aclamação foi imediata, com direito a largos espaços na imprensa, como o dado pelo New York Times – meia página.

Foi através do líder ianomâmi Davi Kopenawa que o fotógrafo fez sua primeira incursão amazônica. O contato aconteceu em Nova York, onde se conheceram. A confiança mútua possibilitou fotos colhidas na intimidade de um povo que pede socorro. Um dos momentos interessantes do trabalho são as imagens de Yarima, a índia que se casou com um antropólogo americano mas que retornou à tribo após ter quatro filhos com ele.

“Yarima agora tem um quinto filho, mas vive apenas com dois. Os demais estão com o pai, em Nova York”, conta Valdir Cruz, lembrando que eles foram ao lançamento de Faces of the Rainforest.

Ao todo são 87 fotos em p/b, obtidas de uma Leica com filmes Kodak. Agora, Valdir Cruz busca patrocínios para a edição brasileira e exposição, a mesma que a Galeria Throckmorton Fini sediou em Houston.

Do cenário paranaense, Valdir Cruz pretende ainda extrair imagens para dois livros, um deles sobre Guarapuava. Com a bagagem cheia de sonhos, ele viaja também a Salvador, idealizando fotos sobre o Carnaval da Bahia. Depois, vai a Brasília, para obter apoio para outro projeto: retornar à Floresta Amazônica, desta vez embrenhando-se no interior do Pará, com o objetivo de conviver com outra nação indígena, o povo Zoë. (Desde a queda das torres gêmeas, em que seu irmão, no 80.º andar, conseguiu sobreviver, Valdir Cruz tem urgência na vida.)

O esplendor dos contrários

A natureza e o homem da Amazônia vistos sob a ótica do artista Arthur Omar – multimídia do experimentalismo brasileiro, diretor do filme Tristes trópicos – compõem o poético álbum O esplendor dos contrários – Aventura da cor caminhando sobre as águas do Rio Amazonas (Cosac & Naify, 208 páginas, com 190 fotos). Antes do álbum, as imagens foram expostas, recebendo em 2002 o título de melhor mostra do ano, conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.

Arthur Omar, neste novo trabalho, trabalha os temas amazônicos de maneira absolutamente autoral e original. Ecoando clássicos da literatura mística persa que se referem a um “jardim secreto” – não um lugar físico, mas um percurso interior que conduz a uma percepção original e transformadora -, constrói uma espécie de “lugar secreto” a partir da revelação de sentidos ocultos na ampla paisagem amazônica.

O livro combina fotos e textos do próprio artista, porém essas expressões são totalmente destituídas dos sentidos ecológico, turístico ou jornalístico, tão comuns quando se aborda essa região. A palavra assume importância no volume, pontuando e esclarecendo as imagens e tecendo reflexões sobre o caráter do homem da Amazônia. Por outro lado, os textos refazem os percursos associativos poéticos do artista e analisam os diversos recursos fotográficos utilizados. Com freqüência o artista associa imagens de troncos de árvores a formas de animais, aproximando sua narrativa da psicologia dos povos ditos primitivos, que há milênios adotaram esse habitat.

Enfim, nas páginas de seu novo livro, Arthur Omar faz da Amazônia um lugar de ressonâncias míticas e magnéticas e propõe uma completa renovação de sua iconografia. O objetivo principal, conforme o autor, é “afirmar uma crença na arte e a busca de um significado, ou a busca da Metáfora, com ?m? maiúsculo”.

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