ABL elege sucessor de Zélia Gattai na cadeira 23

Nunca houve eleição como esta em 111 anos de história da Academia Brasileira de Letras. Hoje, os 39 imortais escolhem entre 21 candidatos quem terá a honra de ocupar a cadeira 23. Não é uma vaga qualquer. Foi inaugurada por Machado de Assis, que escolheu como patrono José de Alencar. Jorge Amado ocupou-a por quatro décadas. Sua mulher, Zélia Gattai, o substituiu por sete anos. Nas prévias informais, feitas entre um gole de chá e outro, aparece como favorito o jornalista e crítico de música clássica Luiz Paulo Horta. Também estão no páreo os escritores Antônio Torres e Ziraldo, a historiadora Isabel Lustosa e o crítico literário Fábio Lucas. Vence quem conseguir 20 votos.

A contagem informal, feita por um acadêmico, mostra que Horta tem 13 votos, ante 7 de Antônio Torres, 5 de Isabel Lustosa, 4 de Ziraldo e 4 de Fábio Lucas. Dois motivos explicam a disputa acirrada. Desde 2006 não há cadeiras vagas. “Houve uma demanda reprimida. A medicina não deixa mais ninguém morrer”, brinca o imortal Ivan Junqueira, de 73 anos. Além disso, não se candidatou à vaga nenhum medalhão. O sonho da ABL é atrair o crítico literário Antonio Candido, de 90 anos, que não aceita o convite de jeito nenhum. “Ele seria aclamado. É o objeto do desejo da ABL”, admite o presidente da casa, Cícero Sandroni, de 73 anos.

Sem Candido ou outro nome tão forte, a disputa está pulverizada. “Não vai resolver-se facilmente”, acredita Sandroni. O ritual da ABL determina que sejam realizados até quatro escrutínios no dia da eleição. A votação é secreta e todos os votos, escritos em pedaços de papel, são incinerados ao fim da eleição. Quem não puder ir até a ABL envia o voto ao presidente por carta. O candidato que não conseguir 10 votos na primeira ou na segunda votação está eliminado.

Faz-se então o terceiro escrutínio. Se ninguém chegar aos 20 votos, é realizado mais um. Se ainda assim não se chegar às duas dezenas de votos, convoca-se outra eleição para três meses depois. “Esta casa vive de surpresas. Mas, a princípio, Luiz Paulo Horta está bem melhor do que os outros”, aposta Junqueira. Ele fala com a autoridade de quem conhece bem os meandros da casa fundada por Machado de Assis. Não há critério claro que explique os votos de cada um. Os motivos vão de amizade a gosto literário. “Voto no Antônio Torres. Ele faz parte da minha vida literária, da minha história”, explica Nélida Piñon, de 71 anos, há 19 ocupando a cadeira 30. Nélida é exceção. Os outros acadêmicos não revelam abertamente o nome do escolhido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.