A simpática América Almeida conta como foi dedicar parte da vida como radioamadora

Um misto de cansaço e satisfação. São estas as sensações de uma senhora muito simpática, de 79 anos, moradora de Curitiba, que dedicou parte de sua vida ao trabalho de radioamadora. Com os equipamentos instalados em sua casa, América Almeida foi um verdadeiro anjo da guarda dos navegadores, até mesmo dos mais famosos, como Amyr Klink e a família Shurmann.

Com o rádio, América comunicava a eles tudo que se passava em terra, sempre com a maior sutileza possível, pois não era só de notícias boas que as mensagens eram formadas. Foi assim durante cerca de 40 anos. O problema é que hoje parte dessas ricas histórias estão se perdendo porque, por conta do cansaço, Amélia está fazendo uma verdadeira faxina em seus armários e jogando fora este precioso acervo, composto por fotos, vídeos, fitas, bonés, camisetas, medalhas e placas de homenagens.

?Tudo que foi de bom eu fiz. Não me arrependo. Mas mesmo assim sinto um enorme cansaço. Cruzei com muita gente invejosa na vida?, afirma ela. O seu apartamento, localizado no bairro Juvevê, em Curitiba, é uma preciosidade por conta de todo o material que ela ainda guarda. Mas é uma pena que os rádios já tenham sido vendidos. ?Comecei a produzir um livro sobre minha vida, mas parei. Não tenho mais vontade de fazer?, diz ela.

Apesar da aparente desilusão, América se esforça em relembrar as coisas boas de tantos anos de radioamadora. Tudo começou com o marido, Arsênio de Almeida (já falecido), que largou o comércio e deu o pontapé inicial para a carreira da esposa. ?Lembro da época em que os Odebrecht estavam na África construindo pontes. Não tinha nenhum tipo de comunicação, era eu quem repassava as mensagens para a família deles. Não esqueço de nenhum falecimento ou nascimento que eu comunicava?, lembra.

A guerra na Angola, na década de 90, também é lembrada com saudades por América. Quando a família Shurmann passou por um temporal horrível na Nova Zelândia, lá estava América dando apoio. ?Eu tinha que manter a calma, não passava as informações para os familiares para não criar pânico. O que adiantava eu dizer que alguém tinha morrido se não dava mais pra fazer nada??, diz ela. Com Amyr Klink, conta América, ela conversava três vezes por dia.

Hoje, a vida de América é só lembranças. Com um filho, três netos e três bisnetos, a senhora tão simpática, mas desiludida, não quer mais saber nem de dar entrevistas. Foi com muito custo que América recebeu a reportagem de O Estado em sua casa. Mas quem vai a seu apartamento nunca mais esquece. Tanto pela riqueza de seus objetos, como pelo orgulho, ainda que implícito, de ter sido o porto seguro dos navegadores. 

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