A ressaca depois da saideira

As modelos Maryeva Oliveira e Luize Altenhofen podem ser os últimos exemplares de uma espécie: a de modelos transformadas em celebridades depois de protagonizar comerciais de cerveja. Maryeva foi a garota da gotinha da Brahma e Luize, a louraça que seduzia o ET da Skol. O Conar -Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária – fez uma revisão nas normas para a publicidade de bebidas alcoólicas e passa a proibir que pessoas com menos de 25 anos ou apenas pareçam ter menos de 25 anos façam publicidade e o uso de mensagens sexualizadas. As regras só entram em vigor em dezembro, mas já divide as opiniões dos profissionais envolvidos.

Entre os barrados no baile, estão também bichinhos animados, como tartarugas e caranguejos que, segundo o Conar, atraem a atenção da criançada. “Graças a Deus já fiz tudo que podia fazer como garota de cerveja”, suspira, aliviada, Bárbara Koboldi, que usava as tampinhas das garrafas para cobrir os bicos dos seios num comercial da Schincariol.

Há uma clara discordância entre diretores das agências de publicidade e modelos. Estas, condenam, com veemência, as medidas do Conar. Empresária de Maryeva Oliveira e Luize Altenhofen, Cláudia Helena Santos, da Mega Celebrity, lamenta a decisão. “Elas ganharam visibilidade com os comerciais de cerveja, mas hoje são apresentadoras de tevê”, explica, lembrando que Maryeva comanda o Super Surf, da MTV, e Luize é uma das apresentadoras do Zona de Impacto, do canal por assinatura Sportv. Já Hélio Passos, diretor da Elite – que conta com Pietra Ferrari e Bárbara Koboldi no seu elenco -, destaca que a mudança fecha um filão para as chamadas “loura-cerveja”. “Isso até virou jargão nas agências. Vai ser preciso criar outras alternativas, mas elas vão estar sempre ligadas à sensualidade”, comenta.

Prós e contras

Os publicitários, por sua vez, mostram-se favoráveis às restrições. “A associação entre sensualidade e cervejas é um atalho conveniente para as agências de publicidade. Chamam a atenção dos consumidores, mas não diferenciam as marcas”, pondera Luiz Alberto Marinho, presidente da agência PubliBrandWorks. Outros diretores de agências apontaram razões de ordem política para aprovar a revisão das normas. A preocupação dos profissionais de propaganda era que um dos projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional viesse a criar empecilhos ainda mais severos, como aconteceu com a propaganda de cigarros. “A decisão evita ações de grupos que não vivem o mercado publicitário. E não limita o nosso trabalho. As agências só terão de ser ainda mais criativas”, argumenta Antônio Fadiga, diretor do Grupo Total, do qual faz parte a Fischer América – agência que tem a Schincariol como cliente.

A polêmica causa divergências até entre as modelos. Pietra Ferrari, que teve seu corpo comparado a uma garrafa de cerveja num comercial da Kaiser – em que contracenava com Marcos Palmeira e Murilo Benício -, discorda das medidas. “As modelos com menos potencial de passarela tinham nessas campanhas uma boa chance de se destacar”, opina, reclamando do fim de um mercado de trabalho. Bárbara Koboldi, por sua vez, vê as mudanças com bons olhos. “Álcool é uma porcaria. Também acho maldade usarem símbolos infantis para vender bebida”, diz. Capa da revista Sexy de setembro, ela admite que o comercial deu um empurrão em sua carreira. “Com a cerveja, os trabalhos multiplicaram e a conta bancária aumentou”, revela. Luize Altenhofen faz coro: “Eu voltei a receber muitos convites para desfilar justamente por causa do sucesso na tevê”.

Sérgio Mattos, diretor da agência Mega, mostra-se indignado. Para ele, isso vai criar mais uma limitação ao trabalho das modelos, mas que é possível abrir espaço para mulheres com mais idade para suprir o mercado. Em tom de deboche, Sérgio faz uma sugestão inusitada aos publicitários. “Se eu fosse o anunciante, colocava umas velhinhas de biquíni tomando cerveja na praia”, diz, aos risos.

Modelos usam como trampolim

A campanha de lançamento da cerveja Nova Schin traz as belas Fernanda Lima e Aline Moraes comportadíssimas. Mas a presença de Aline, que tem 20 anos, levaria à retirada do comercial no ar.

As campanhas de conscientização devem ganhar ainda mais espaço na publicidade de bebida alcoólica. O mais recente comercial da Skol traz um rapaz que reproduz, com a boca, batidas eletrônicas e sugere que os consumidores bebam na boate, mas depois peguem um táxi.

Ellen Roche passava quase despercebida como dubladora do Qual É a Música?, do SBT, quando foi convidada para estrelar um anúncio da Skol. O comercial a transformou num símbolo sexual e lhe rendeu um ensaio na Playboy e o ingresso na Casa dos Artistas 2.Ana Luiza Castro já trabalhava na tevê há três anos antes de ganhar notoriedade numa propaganda da Brahma, em 2001. Ela deixou o Sportv, onde apresentou o zona de Impacto e o Extra, e foi para a Band comandar o Esporte Total. Ficou menos de um ano na emissora e voltou a atuar apenas como modelo.

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