A resistência da breguice

As Livrarias Curitiba do Shopping Estação sediam nesta segunda-feira, às 19h30, a sessão de autógrafos do historiador Paulo César de Araújo, que estará lançando o livro Eu Não Sou Cachorro, Não, Eu não Sou Cachorro (Editora Record, 460 páginas).

O livro mostra como as figuras mais demonizadas por aderirem à cultura oficial durante os anos de chumbo, na verdade, foram tão ou mais perseguidas pelo regime quanto os artistas de esquerda. “A produção musical brega (ou cafona) faz parte da realidade cultural brasileira, tanto quanto o tropicalismo e a bossa nova e merece ser analisada”, argumenta o autor.

Paulo César de Araújo analisa como muitas das letras trazem a denúncia ao autoritarismo e à segregação social. A música O divórcio, de Luiz Ayrão, por exemplo, -que, a princípio, se chamava Treze anos – pode ser lida tanto como um desabafo de um homem infeliz quanto como um basta ao regime militar. O autor compara a produção musical dentro do contexto histórico, dando especial atenção ao AI5. Paulo lembra, também, que a maioria desses cantores vivenciou o trabalho infantil: Nelson Ned e Agnaldo Timóteo foram engraxates. Paulo Sérgio, alfaiate.

O livro traz, ainda, diversas curiosidades do universo musical cafona. São histórias que só agora chegam a público. Como a vez em que Odair José teve a música A primeira noite – que fala da primeira experiência sexual de um garoto – censurada e, para escapar ao veto, apenas trocou o título. Noite de desejos passou incólome pelas autoridades. Aliás, Odair José era campeão de vetos da censura federal. Suas músicas Pare de tomar a pílula foi proibida de ser executada nas rádios brasileiras e em toda a América Latina. Mas ele não foi o único. Fernando Mendes teve seu Tributo a Carlinhos (o menino Carlinhos desapareceu sem deixar traços na década de 1960, num caso policial célebre e não resolvido até hoje) proibido já que poderia ser interpretado como referência aos presos políticos.

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