A nova fase dos Mutantes

Sem a companhia da colega Zélia Duncan e do irmão Arnaldo Baptista – mas com as participações do norte-americano Devendra Banhart e do baiano Tom Zé no próximo álbum, previsto para sair ainda este ano -, o guitarrista Sérgio Dias apresentou na quinta-feira passada, a primeira música inédita dos Mutantes em mais de 30 anos. Mutantes depois, como o nome sugere, fala sobre essa nova fase da lendária banda formada nos anos 60 e que contava com Rita Lee nos vocais.

Com Bia Mendes, antiga backing vocal que acompanha o grupo desde 1991, e Fábio Recco nos vocais, a banda tocou a nova canção, além de clássicos dos Mutantes Uma pessoa só, Tecnicolor e Baby – para convidados no Salão Nobre do Teatro Municipal, em São Paulo.

Completam a formação Dinho Leme (bateria), Simone Soul (percussão), Henrique Peters (teclados, flauta doce e vocais), Vitor Trida (teclados, flautas, viola, cello e vocal) e Vinícius Junqueira (baixo).

Todos os integrantes estavam de preto, e Sérgio Dias, de cartola e óculos escuros, aproveitou para tocar a sua nova guitarra, feita especialmente para o retorno. Repleta de efeitos psicodélicos, ruídos e sons de risadas, Mutantes depois, disponível para download na internet, lembra a sonoridade do auge do grupo, com espaço para teclados viajantes, linhas de baixo melódicas inspiradas no rock inglês dos anos 60 e uma atmosfera festiva. Além do single, o hot site conta também com uma Rádio Mutantes (executando músicas da banda), publicação de notícias, entrevistas exclusivas, galeria de imagens e história do conjunto.

?Oh ma babe aonde você vai / agora que a onda tropical já se foi / você é a semente que o mundo nos deu / você é a semente do mundo?, diz a letra. ?Oh ma babe venha para mim / com beijos muito loucos e abraços sem fim / eles disseram que eu enlouqueci / na balada do louco da noite?.

?Tomada de posição?

?Vivemos uma época muito rica com os Beatles e o tropicalismo, e isso vai continuar com a gente?, disse o baterista, em entrevista coletiva depois do pocket show, sobre as semelhanças com os trabalhos anteriores dos Mutantes. ?Porém, estamos sempre mudando o andamento, o compasso, a harmonia das músicas.

O rock não é só mesmice. Na primeira vez em que tocamos essa faixa juntos, saímos dando risada. Tem muita coisa bonita ainda pra gente fazer?.

?Essa letra, antes de tudo, é uma tomada de posição nossa?, acrescentou o guitarrista. ?Um dia a gente vai passar a tocha pra vocês. Agora vocês que se virem, essa é a nossa encrenca. Nós precisamos de música nova, senão não temos razão de existir. Precisamos fazer algo que acreditamos ser o futuro. Todo esse tesão é o que move a raça humana?.

Sérgio Dias reforçou ainda que, apesar das controvérsias, ?as portas estão abertas para Rita Lee e Arnaldo?. ?Eu penso que tudo o que pode dar certo dará, é minha lei de Murphy ao contrário. Arnaldo é como esse Teatro Municipal para mim. Quando vi o palco onde minha mãe tocou tantas vezes fiquei emocionado. Minha relação com ele é algo que transcende o motivo pelo qual ele deixou os Mutantes?.

Colocar a música para download gratuito, segundo o músico, ?foi uma atitude de gratidão?. ?A internet é uma ferramenta maravilhosa. Essa música é um presente, para mostrar para onde estamos indo e qual é o nosso horizonte. Agora, se o disco será lançado dessa forma cabe ao departamento de marketing decidir. Sem o vil metal não temos como comprar instrumentos. Precisamos disso pra viver?.

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