A lira do poeta que foi juiz

Não o conheci pessoalmente.

Apenas sabia que poetava e fora juiz de Direito.

Recentemente, li, em um dos nossos jornais, um poema dedicado ao desembargador Costa Carvalho, de saudosa memória.

Eis que seu filho, o emérito Marino Bueno Brandão Braga, magistrado de escól e renomado escritor, brindou-me com o opúsculo Salgueiros, escrito em plena mocidade, em 1985, por Antônio Braga, melhor escrevendo, Antônio Toríbio Teixeira Braga, sobre quem relembro algo, neste momento.

Salgueiros é melodiosa coletânea de poemas, que revelaram o promissor vate, elaborado quando ainda estudante, em São Paulo.

Contém poesias sobre “Sonhos e saudades”, “Apreensões, tortura e cólera”, “Martírio” e “Dor antiga”, destacando, entre outros, “Narcília”, narração de um amor irrealizado, cuja transcrição não é possível fazer, neste curto espaço.

Faço-o, porém, na ortografia original, do poema com rimas cruzadas ou entrelaçadas, MÃE, que muito me tocou:

“Bendita sejas tu entre as mulheres,
Tu que me animas carinhosamente;
Que sofres por teo filho e que preferes
Morrer de dor, a vê-lo descontente!

Bendita sejas tu, que me aconselhas,
As vezes meiga, muitas vezes rude,
Apontando-me as rutilas centelhas
Da sacrosanta estrada da virtude.

Bendita sejas tu que adoro tanto;
Os teos olhos azuis sejam benditos;
Teos olhos que advinham o meu pranto,
Marejados, ternissimos aflictos.

Bendita sejas tu que me socorres,
Arrancando os espinhos do meu peito.
Bem sei, Ó Mãe! que se eu morrer, tu morres;
Por isso a vida, não por mim, respeito.

Bendita sejas tu que por teo filho
Rezas baixinho pela noite afora,
Pedindo a Deus que lhe alcatife o trilho
De gloria, flores e fulgor de aurora.

Mãe! Eis do mundo a única verdade!
Pura, divina, feita com esmero!
És carinho, és perdão, és caridade!
Por teo amor domino o desespero!

Não mais has de chorar, nem ver-me triste
`Não mais eu quero ver-te, assim, aflicta.
A ser verdade, ó Mãe, que Deus existe,
No coração das Mães e que ele habita!

Sim, pois que tem por base e fundamento
Da moral, da justiça – o coração.
Bendita sejas tu, que ao sofrimento
Sabes dar, com amor, consolação!”

Que rara sensibilidade…

Disse-o, muito bem, Leôncio Correia: “Antônio Braga é uma das almas mais sensíveis que conheço: – alma cheia de orvalho ao despertar do dia, cresta-a qualquer raio solar, tornando-a retraída e esquiva”.

E, que dizer do magistrado, que pontificou em Tibagi, não se vergando aos poderosos, tanto que, ao falecer, o intimorato Telêmaco Borba, chamou-o à sua presença e colocando a sua mão ao peito, declarou: “O senhor mora em meu coração”?

Antônio Braga que, anteriormente, fora promotor público, em Castro, também exerceu a judicatura em outras comarcas, a exemplo de Campo Largo, onde faleceu, já aposentado, em 5 de julho de 1941, legando, à Magistratura paranaense, seu amado filho, também literato, mas prosador: Marino Bueno Brandão Braga!

Luís Renato Pedroso

é desembargador jubilado, presidente do Centro de Letras do Paraná.

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