A leitura adolescente e a valorização do folhetim

Em que pese a leitura descompromissada feita por crianças e adolescentes quando colocam as pernas para o ar deitadas de bruços no chão ou no sofá da sala, observadas atentamente pelos pais, pergunta-se: o que estarão lendo com tanto interesse? Gibis? Livros de bolso? Pode ou não pode? O que é a leitura? Existe um padrão determinado que possa influir na formação deste leitor?

Certamente que estas são interrogações constantes de pais e educadores e o livro Leituras à Revelia da Escola, do Prof. Nubio Dellane Ferraz Mafra, publicado pela Editora da Universidade Estadual de Londrina-Eduel, tem por objetivo responder a estes questionamentos, ou mais importante que isso, lançar para discussão este assunto quase proibitivo.

O autor é professor da área de Metodologia e Prática de Ensino de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Londrina e doutorando em Educação pela UNICAMP e reuniu neste livro, 7 artigos que refletem sobre a leitura de textos considerados muito aquém do desejável pelos padrões mais convencionais. O prefácio, assinado pela Profa. Lilian Lopes Martins Silva da Faculdade de Educação da UNICAMP, traz uma citação de Roger Chartier o qual se manifesta, em linhas gerais, “contra a representação, elaborada pela própria literatura, do texto ideal, abstrato e estável”. Além disso, salienta que o presente livro “quer chamar a nossa atenção para a existência possível de objetivos, textos, maneiras de ler, motivos e práticas envolvidas na leitura”.

Os textos abordam a leitura de romances de banca, best-sellers, coleções de paradidáticos em literatura infanto-juvenil, revistas e sites da internet associados aos animes japoneses, além da análise da formação e condições de leitura dos professores de Língua Portuguesa nos diferentes ciclos do ensino fundamental e médio.

O primeiro artigo intitulado “A literatura de massa como iniciação à leitura adolescente”, indica que o desinteresse do adolescente nas aulas de Literatura é reflexo de impasses conceituais e metodológicos, ressaltando que os jovens lêem às escondidas do professor, textos que estes desconsideram. Já o aspecto profissional do professor é contemplado no texto “O professor perde a face”, o qual aponta o processo de proletarização docente.

Intitulado, “Literatura dentro, fora e à revelia da Escola”, o terceiro artigo enfatiza que, independentemente do tipo de leitura realizada, a trajetória de leitura pelos jovens não deve ser desprezada. O quarto texto da coletânea. “No ser e no ler, desconforto: literatura infanto-juvenil e adolescente leitor”, enfoca a diversidade das características da literatura infanto-juvenil que se vê incompreendida dentro de conceitos que ora apontam para um aspecto mais pedagógico e moralizante e em outros momentos é resultado da literatura de massa.

Apontando para a formação cidadã do jovem integrada ao mundo do trabalho, o quinto texto “Parâmetros e apontamentos em ensino médio, leitura e docência”, objetiva identificar personagens e concepções que se colocam em jogo. Já o artigo “O Professor de Ensino Médio e seu trabalho com a leitura” discute entre outras questões, as atividades de leitura com os textos escolares e não escolares e a recepção por parte dos adolescentes. O sétimo e último texto, intitulado “Digivolução na sala de aula: as abordagens do animes”, analisa aspectos da Revista Oficial Digimon, provocando a necessidade de uma maior discussão deste tipo de publicação por parte do educador e a consequente formação de leitores mais críticos.

Assim, a proposta do livro vem de encontro a ansiedade dos professores do ensino médio e fundamental, os quais com certeza, se vêem permanentemente em dúvida sobre qual a melhor forma de trabalhar com textos para leitura. Acrescentando ainda que o mesmo indica que a história de leitura dos adolescentes não deve ser desprezada, mesmo tratando-se de literatura de massa. Ou seja, esta deve ser compreendida como ponto de partida, pois esta literatura renegada pela escola, como bem lembrado pelo autor, supõe o folhetim moderno o qual, da mesma forma que o folhetim do século XIX, teve que passar inicialmente pelas páginas de jornais para, somente depois de obter o sucesso e a aprovação popular, conquistar uma publicação em livro. Maiores informações sobre o livro “Leituras à Revelia da Escola”, podem obtidas pelo site www.uel.br/editora, ou pelo telefone (43) 3371-4691.

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