| Cenas do cotidiano da tribo |
Não existe uma data exata do aparecimento dos índios caingangues em Palmas-PR Há os que afirmam que eles estão na região antes dos bandeirantes, dos colonizadores. Mas eles não tinham uma reserva, um local próprio, fixo, para residirem. Viviam como errantes, ciganos, nas cercanias de uma comunidade que passou a se desenvolver pouco a pouco. Palmas cresceu e se transformou em cidade, foi emancipada e os índios continuavam sem destino, sem rumo, dormindo nas ruas, alco-olizados sem heira e nem beira. A cidade cresceu, e os silvícolas começara a criar problemas de segurança. Invadiam residência, roubavam. Eles precisavam sobreviver de uma forma ou de outra. As famílias começaram a ter medo, e os índios eram marginais que a qualquer hora poderiam levar pânico, invadir, seqüestram, roubar e matar.
Ocorre que a Comissão considerou os atuais proprietários (todos têm matrícula no cartório de registro de imóveis de Palmas) invasores de terras indígenas. Com essa classificação eles só têm direito a indenização pelas benfeitorias. As terras não são indenizáveis porque, segundo a comissão, foram invadidas. Sou uma das família que tiveram suas terras e casas tomadas pelos índios caingangues no final da semana passada. São 23 alqueires recebidos de herança pelo falecimento de meu sogro José Bonifácio Guimarães de Andrade. Nela mantenho uma casa de empregado (que foi invadida pelos índios e expulso o casal que lá morava) para atender a propriedade e uma lavoura de pinus de 20 mil pés e cercas de arame farpado. Constituída pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Comissão avaliou tudo por 12 mil reais que receberia no prazo máximo de três anos, mas até hoje não recebi nada. Não há nenhuma comunicação oficial sobre o que pode estar acontecendo na área burocrática ou nos escalões de Brasília. À época, membros da Comissão informaram-me que a conclusão do processo se daria em três anos e a partir de julho de 2001, nenhuma benfeitoria feita seria indenizada e a venda de qualquer área caracterizaria juridicamente de "fraude".
É pena que uma tradição entre os primeiros habitantes do Brasil e a civilização esteja terminando assim. Os agricultores despejados estão ingressando com ação judicial de reintegração de posse e antevê-se uma batalha judicial interminável. Na minha vida profissional de jornalista entrevistei muitos índios. Eles defendiam a posição de que teriam que aumentar a população indígena para poder ter força maior para reivindicar mais terras, mesmo que fosse invadindo-as. Tudo parece estar acontecendo agora, sacrificando famílias trabalhadoras, criando problemas sociais, deixando de produzir mais grãos e mais carne; acabando com parte da reserva florestal, diminuindo a arrecadação. Isso tudo sob a tutela do Governo da União.
Arnoldo Anater é jornalista.