A guerra pelos desenhos

A disputa entre a Globo e o SBT pelos pacotes de filmes dos grandes estúdios de cinema norte-americanos chega também aos desenhos animados. A partir do dia 5 de julho, Os Simpsons volta a ser exibido na Globo, depois de cinco anos na programação da emissora de Sílvio Santos. Além da excêntrica família – formada por Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie -, o SBT perdeu ainda o Pica-pau, um de seus desenhos mais tradicionais – na grade há cerca de duas décadas – e que estréia na Globo em 30 de junho na TV Globinho. Para compensar essa perda, o SBT adquiriu o Novo Pica-pau, uma versão mais moderna do clássico desenho.

A aquisição de Os Simpsons e Pica-pau é, na verdade, um troco da Globo à compra, pelo SBT, dos direitos de Scooby-Doo e de Os Flintstones. “A Globo não exibia há tempos esses desenhos. É natural que os distribuidores possam negociá-los com outras emissoras. Compramos Os Simpsons e Pica-pau por achá-los adequados à nossa grade”, minimiza a direção de programação da emissora, através da Central Globo de Comunicação. Distribuidora de Scooby-Doo e de Os Flintstones, a Warner foi pressionada pelo SBT a tirá-los da Globo. O argumento da emissora foi o contrato de exclusividade para o fornecimento de filmes e séries para o SBT até 2008 – um negócio em torno de R$ 20 milhões por ano para a exibição de filmes de sucesso, como Harry Potter, por exemplo, além das versões para cinema de Scooby-Doo e de Os Flintstones.

Como resposta, a Globo usou a mesma arma com a Universal, distribuidora de Pica-pau, e com a Fox, produtora de Os Simpsons. A emissora tem contrato com esses dois estúdios para a aquisição de longas-metragens. No caso de Os Simpsons, o SBT oficialmente afirma que a própria emissora abriu mão da série animada para privilegiar as produções da Warner. “Não há razão para tanta polêmica. O SBT já tem os desenhos animados da Warner e da Disney. Não é possível ter tudo”, esquiva-se a direção de programação. Nesta disputa de bastidores pelos conteúdos dos estúdios, a Globo já assedia a Disney, que tem parceria com o SBT até o final de 2004. Já o SBT tirou da Globo os acervos da MGM – que detém os filmes de James Bond – e da Paramount.

Bons números

Criada no ano de 1989 pelo desenhista e roteirista Matt Groening, a série Os Simpsons estreou no Brasil em 92 através da própria Globo. Em 98, o desenho foi adquirido pelo SBT e passou a ser utilizado como um trunfo, sendo remanejado de horário de acordo com a conveniência da emissora. Percorreu as mais diversas faixas da programação e, ultimamente, aparecia na faixa das 18h e vinha registrando médias de 10 pontos – o que significava a segunda audiência do horário, atrás apenas da novela Agora É Que São Elas, da Globo, com cerca de 28 pontos. Porém, ficava à frente dos programas policiais Cidade Alerta, da Record, e Brasil Urgente, da Band – ambos na casa dos 7 pontos. Segundo o SBT, Scooby-Doo e os Flintstones vêm mantendo os mesmos índices que Os Simpsons obtinha.

Na volta à Globo, Os Simpsons será exibido aos sábados, às 11h30, antes da primeira edição dos telejornais locais. Para o retorno, a emissora programa uma série de episódios, batizados de Feitiço de Lisa. Nela, a família viaja para lugares como Canadá, África, Japão e Brasil – onde a pragmática Lisa procura um órfão para quem enviava uma ajuda mensal. A repercussão ficou por conta de uma reclamação formal da Riotur contra algumas passagens no episódio sobre o Rio como mostrar Homer sendo seqüestrado no Bondinho, Bart sendo comido por uma cobra gigante e macacos circulando pelas ruas.

Amanhã, na 14.ª temporada no canal por assinatura Fox, da Net e TVA, Os Simpsons detém marcas importantes na tevê norte-americana. Com a exibição do 167.º episódio, em 97, tornou-se a série de animação a ocupar por mais tempo o horário nobre nos Estados Unidos – título que era de Os Flintstones. E como a Fox programa o desenho até maio de 2005, Os Simpsons bate o recorde de duração de uma série nos Estados Unidos. Antes disso, Ozzie e Harriet -programa sobre uma família de classe média – foi transmitida por 14 anos, pela rede ABC, de 1952 a 1966.

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