A arte por um poeta

Um dos maiores poetas e críticos de arte do Brasil, Ferreira Gullar lança, pela Cosac & Naify, a coletânea de textos Relâmpagos – Dizer o ver, compilação ilustrada de seus escritos sobre arte e artistas plásticos. Relâmpagos é o primeiro livro de ensaios de Ferreira Gullar em dez anos. Escrito ao longo de quase 50 anos de atividade crítica e literária, a obra reúne um total de 48 textos que atravessam a história da arte no mundo e no Brasil.

Marcadas pela clareza na argumentação e por um embate sem intermediários com a obra de arte, que são marcas da crítica de Gullar, as análises vão de Michelangelo a Leonardo Da Vinci e Picasso e Matisse, passando por Rembrandt, Rodin, Cézanne, Renoir, Van Gogh, Bonnard e Chagall, entre muitos outros artistas. No Brasil, Gullar se detém sobre a produção plástica de Vieira da Silva, Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo, Franz Weissmann, Arcângelo Ianelli e Siron Franco, entre outros. “Toda obra de arte atinge nosso olhar como uma inesperada fulguração, um relâmpago. Atrevi-me algumas vezes a tentar fixar este relâmpago em palavras”, escreve o autor no prefácio do livro.

Em Relâmpagos, Gullar – que redigiu o Manifesto Neoconcreto (1959) e é autor de obras importantes como Cultura em questão (1965), Vanguarda e subdesenvolvimento (1969) e Argumentação contra a morte da arte (1993) – se aproxima dos trabalhos de maneira muito particular, criando textos que ficam entre a crítica, o ensaio e a poesia – ele que é autor de clássicos da poesia nacional, como A luta corporal (1954), Dentro da noite veloz (1975) e Poema sujo (1976).

Quase todos os textos de Relâmpagos são inéditos, e alguns foram produzidos especialmente para esta edição da Cosac & Naify, caso de “A plurilinguagem de Siron Franco”, sobre o artista goiano, e “Manto”, centrado na criação de Arthur Bispo do Rosário Gullar, um dos críticos mais duros da arte conceitual, sempre insistiu que a experiência de se relacionar com uma obra passa necessariamente pela visão. “É claro que existem os contextos social e histórico, mas o que é decisivo é a obra de arte. O que importa e o que é rico na arte é a personalidade do artista e sua individualidade criadora”, afirma Ferreira Gullar, em entrevista à Cosac & Naify.

Cada texto é acompanhado pela reprodução da obra analisada. “No exercício da crítica de arte sempre busquei, de uma maneira ou de outra, falar da obra enquanto materialidade significante, experiência sensorial, sensual, afetiva. Se também tentei às vezes situá-la cultural e historicamente, ou vê-la como continuidade ou ruptura do processo artístico, procurei sempre apoiar tais avaliações na obra enquanto experiência fenomenológica”, explica Gullar, que pretende passar para o leitor parte da experiência que ele próprio teve ao deparar com as obras.

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