O casal William Bonner
e Fátima Bernardes: inovação.

O jornalista William Bonner tinha pouco menos de seis anos quando ouviu seus pais comentarem: “Hoje começa aquele jornal novo na televisão!”. Naquela época, ele jamais poderia imaginar que, um dia, estaria na bancada então ocupada por Cid Moreira e Hilton Gomes. Mas é justamente sob seu comando que o Jornal Nacional comemora 35 anos no próximo dia 1.º de setembro. “Lembro-me da família reunida em frente à tevê. Quando leio sobre as notícias daquele dia, nada me parece familiar. A memória é apenas do ambiente em que se deu a estréia”, confessa Bonner, apresentador e editor-chefe do jornalístico da Globo.

Desde 1999 no cargo, Bonner destaca a objetividade e a abrangência da cobertura jornalística como as grandes qualidades do Jornal Nacional. E, apesar de não minimizar sua responsabilidade – “é imensa” – , garante não sentir o peso dos 35 anos de história ou da marca do pioneirismo em rede nacional de tevê. “A estrutura mais bem montada do Brasil é um aliado tranqüilizador”, valoriza o jornalista. Em 1969, no entanto, não eram muitos os elementos “tranqüilizadores”. Com a missão de implantar o telejornalismo na Globo, Armando Nogueira enfrentava o prestígio do célebre Repórter Esso, da Tupi, exibido às 20 h, a censura exercida pela ditadura militar e a falta de mão-de-obra.

A primeira tentativa foi recrutar profissionais do jornalismo impresso. Mas nenhum deles aceitou largar o emprego para fazer um trabalho que ninguém sabia bem o que era. “Então, fomos às universidades, que estavam começando a formar as primeiras gerações de telejornalistas, e fizemos um recrutamento de calouros”, costuma lembrar Nogueira, atualmente no Sportv. Hoje, o Jornal Nacional é o sonho da maioria. Editora e apresentadora do jornalístico, Fátima Bernardes demorou a acreditar que poderia ter um posto na bancada. “Estava tão acostumada a ver Cid Moreira e Sérgio Chapelin que não me via naquela cadeira. Mas quando as primeiras mulheres, Valéria Monteiro e Líllian Witte Fibe, chegaram lá, botei esta meta na minha cabeça”, conta Fátima.

Repórteres

Longe da bancada, os repórteres também têm no jornalístico de maior audiência da tevê brasileira sua “menina-dos-olhos”. “Emplacar matéria lá significa estar no caminho certo”, define Régis Rösing. O repórter viveu recentemente, em matéria para o Jornal Nacional, o momento que considera o mais marcante em sua profissão: a cobertura da visita da seleção brasileira ao Haiti. “Sou forte, fiz reportagens no Oriente Médio, mas nunca pensei que existisse algo assim”, justifica, surpreso com a recepção do miserável povo haitiano. Já Ana Paula Padrão lembra a primeira vez que entrou ao vivo no jornalístico. “Eu cobria a apuração das eleições, em Brasília, e fiquei muito nervosa”, lembra, aos risos. A atual apresentadora do Jornal da Globo destaca seu período como repórter de economia, nos anos 90s, como um dos mais interessantes de sua carreira. “Foi um período importante para a conscientização da população. Tudo o que se diz no Jornal Nacional tem um efeito multiplicador impressionante”, ressalta.

Antes e hoje

Um pouco das histórias de quem fez os 35 anos de história do Jornal Nacional vai ao ar no próprio jornalístico, a partir do próximo dia 30. Serão exibidas, em duas semanas, várias reportagens especiais sobre as mais memoráveis coberturas do programa. A Globo prepara também o lançamento de um DVD e de um livro sobre a história do Jornal Nacional. Se Bonner tivesse de “editar” as principais transformações de seu período à frente do jornalístico, não hesitaria: “O investimento mais freqüente em séries de reportagens, a possibilidade de realizar entrevistas na bancada, o aumento da participação da editoria de artes e a abertura maior da pauta para cultura”. Já Fátima vê na comunicação com o público sua maior contribuição para o programa. “Acho que ajudo a fazer um cada vez mais próximo dos telespectadores, apresentando de forma natural e criando cumplicidade com o público”, avalia.

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