Zagallo, a emoção em décadas servindo a seleção

Rio – Certamente, poucos brasileiros se emocionam tanto quanto Zagallo ao ouvir a execução do hino nacional ou ao presenciar uma vitória da amarelinha – ou melhor, da seleção brasileira.

Mas domingo, o que chamou mais atenção após a dramátiva vitória sobre a Argentina, nos pênaltis, resultado que deu ao Brasil o título da Copa América, foi o desabafo do Velho Lobo diante das câmeras de televisão.

– Já posso morrer.

Felizmente, não é bem assim. O Velho Lobo tratou de consertar seu próprio desafogo, explicando que naquele momento nem sabia que estava sendo filmado.

E, depois, sentenciou em muitos decibéis:

– Pode botar aí: ainda vou me emocionar com a amarelinha por muitos anos.

Zagallo confessou sua surpresa ao chegar em casa.

– O pessoal me disse que o “já posso morrer” tem 13 letras. Pode? – disse ele, que gosta do número 13.

Mas deixou claro:

– Só que não o considero como número da sorte, como se diz por aí. É o número da fé. O dia de Santo Antônio é 13 de junho, o da data de sua morte – coincidentemente, Zagallo nasceu em 1931, ou seja: 700 anos depois.

Zagallo destacou ainda várias coincidências em relação ao número 13.

– Dissera que “Brasil campeão” e “Argentina vice” eram frases com 13 letras. Depois veriquei que a seleção marcara 13 gols. Os nomes Alcina e Zagallo juntos somam 13 letras. Nós nos casamos num dia 13, do ano 58: oito e cinco, 13. E por aí vai…

Zagallo é assim: nacionalista e supersticioso como poucos. Como isso começou? Veio a explicação do Velho Lobo.

– Essa coisa que sinto quando o hino é executado começou ainda criança, quando eu estudava no Institudo de Educação. A gente cantava o hino todos os dias e é claro que isso deve ter contribuído. Ele está ligado à amarelinha.

Guarda até hoje não só as camisas como os uniformes que usou nas suas grandes conquistas. Suas lembranças das Copas de 1958 e 1962 ainda estão vivas em sua memória.

– Me lembro do carinho do povo sueco com nós brasileiros. Da fisionomia das crianças nos olhando em frente à concentração. Das pessoas nos estádios.

Zagallo tem verdadeira relíquia da Copa de 1958: as chuteiras que usou na final contra a Suécia, em Gotemburgo, e que foi vencida pelo Brasil por 5 a 2.

– Quando as tirei do pé, quis guardá-las do jeito que estavam. Eu as queria com o barro do campo daquela final.

E lembrou orgulhoso:

– Com essas chuteiras aqui marquei um dos gols do Brasil na final e dei o passe para outro de Pelé.

Zagallo conta também da sua emoção quando vestiu a camisa do Brasil para disputar aquela partida.

– Em 1950, eu, que era soldado Polícia do Exército e fazia serviço no Maracanã, vi o Brasil perder para o Uruguai. Jamais poderia imaginar que oito anos depois estaria entrando em campo para tentar o primeiro título brasileiro.

O Velho Lobo sente orgulho de ter conquistado quatro títulos mundiais (1958 e 1962, como jogador; 1970, como técnico e em 1998, como auxiliar-técnico de Parreira).

Ele só não admite que brinquem com o futebol brasileiro. E diz que já provou isso em outras ocasiões.

– Lembram do jogo contra a África do Sul, em Johanesburgo? Quando eles chegaram aos 2 a 0, o técnico bancou o aviãozinho. Aquilo ficou atravessado. Fizemos o primeiro, o segundo e quando Bebeto marcou o terceiro, eu entrei em campo e fui até o banco deles imitando aviãozinho.

O único lamento de Zagallo é o fato de o Brasil não ter uma medalha olímpica no futebol. Não se conforma até hoje com a desclassificação do Brasil diante da Nigéria, em 1976, nos Jogos de Atlanta (EUA), quando era técnico da seleção.

– Vencíamos por 3 a 1 até os 32min do segundo tempo. Tínhamos tudo para ganhar. Mas deixa prá lá…

Mas em meio a tantas revelações, o Velho Lobo deixou a bombástica para o final.:

Sabe que a Marseillaise (hino da França) também mexe comigo? Me deixa arrepiado. Só não sei a razão.

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