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Vinte anos após começo difícil, Jaílson vive dias de glória no Palmeiras

Quando tinha 15 para 16 anos, Jaílson só tinha uma calça de goleiro para treinar. Nacife Marcelino, sua avó, lavava todo dia a peça preta, que só era grossa nos joelhos por causa dos remendos. Para dar tempo de secá-la, usava o ferro ou a traseira da geladeira. Após 20 anos, o jogador vive o outro lado da moeda. Depois que se tornou um dos destaques do Palmeiras no Campeonato Brasileiro, as vendas dos uniformes com seu nome aumentaram 20% na Academia Store, loja oficial do clube.

Após construir uma carreira em clubes menores, o arqueiro vive o auge. E a família acompanha essa transição. “Não repara que é casa de pobre”, pediu dona Nacife na chegada da reportagem do jornal O Estado de S.Paulo a uma das residências mais simples da rua, na periferia de São José dos Campos (SP).

Foi ali que o goleiro cresceu, criado pela avó, pois os pais tinham de trabalhar. A mãe, Maria Antonia, é empregada doméstica e “ex-corintiana”, já que agora torce para o Palmeiras; Gerson trabalhava na construção civil e foi goleiro na várzea – hoje, os dois não vivem mais juntos. Dona Nacife, também doméstica, dava seu passe de ônibus para que o neto fosse treinar. Com isso, voltava a pé, uma hora de caminhada do centro até o Jardim Satélite.

Como saía cedo e ficava com medo de o primeiro neto ficar com anemia, ela caprichava na mamadeira e batia no liquidificador fígado, beterraba, ovo de codorna e cenoura. Deu no que deu: um “armário” de 1,86 metros e 84 kg. “Até hoje ele é mimado”, cobrou a irmã Lucimara.

Essa proximidade está mesmo intacta. Vale a pena reproduzir o diálogo dos dois quando ele foi contratado pelo Palmeiras. “Vó, tenho uma grande notícia”, disse o goleiro, então no Ceará. “Ganhou na loteria?”, brincou a octogenária. “Mais que isso, vó”, disse o arqueiro.

Jailson acompanhava o pai na várzea do interior. Prendia suas ataduras e cultivava o sonho de também ser goleiro. Sua vida mudou em julho. Depois que o titular Fernando Prass precisou ser submetido a uma cirurgia no cotovelo direito, o técnico Cuca apostou no reserva Vagner, mas se deu mal. Voltou ao banco de reservas.

Jailson assumiu a vaga no final do primeiro turno. Era uma redenção depois de ter sofrido uma lesão no tendão de Aquiles que o afastou por quatro meses em 2015. Foi tão bem que acabou chamado de “São Jaílson” pelo ídolo Marcos nas redes sociais e promete retribuir a homenagem neste domingo.

A torcida também gosta dele. Os líderes de vendas de camisas ainda são Fernando Prass, Gabriel Jesus e Dudu, mas o arqueiro já é um dos mais queridos. Ele aproveita os viés de alta dos produtos do clube, cujas vendas cresceram 15% segundo a administradora Meltex. Dona Nacife sente orgulho do neto e quase chora ao falar que Jaílson nunca reclamou dos uniformes mil vezes lavados e que, por isso, merece chegar onde chegou.

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