Única saída para Scolari será continuar na seleção

Rio

(AE) – A decisão de permanecer no cargo de técnico da seleção brasileira é um segredo que Luiz Felipe Scolari faz questão de manter até a reunião com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, no dia 30, mas os indícios de que permanecerá no cargo são cada vez mais fortes.

Enquanto Scolari não revela seu destino, os membros da comissão técnica que participaram da campanha de conquista do pentacampeonato Mundial na Coréia e Japão, não escondem suas preferências.

Mesmo sem revelar seu futuro, Scolari declarou em Porto Alegre já ter se decidido. Imprevisível, o treinador que enfrentou vários problemas à frente da seleção e os superou, pode até deixar o cargo, mas fatores como o mercado e a situação financeira vão influenciar em sua decisão.

O empresário e amigo de Scolari, Gilmar Veloz, informou ao treinador que o mercado europeu está fechado e, com isso, o sonho de comandar uma equipe do exterior foi, pelo menos, adiado. Ele ainda garantiu que o treinador não recebeu nenhuma proposta de times estrangeiros, como o espanhol La Coruña e o italiano Parma, como chegou a ser cogitado.

Ao permanecer no Brasil, Scolari dificilmente encontrará, apesar do prestígio com o pentacampeonato, um clube em condições de lhe pagar o que ganha no comando da seleção, cerca de R$ 375 mil. Com a grave crise financeira dos times brasileiros, o treinador será obrigado a, no mínimo, reduzir seu salário a metade.

Teixeira também não escondeu sua satisfação com o desempenho de Scolari na seleção brasileira e, por isso, quer mantê-lo no cargo. O único empecilho para a permanência do treinador pode ser um pedido de aumento e o técnico do Corinthians, Carlos Alberto Parreira.

Parreira, que já deixou claro seu desejo de não voltar para a seleção brasileira neste momento, sempre foi um nome admirado por Teixeira e sabe que as portas da equipe sempre lhe estarão abertas. O dirigente , a princípio, desejava ver o técnico do Corinthians no comando do departamento de Seleções. Sem o treinador responsável pela conquista do tetracampeonato em 1994, o convite foi para o craque e comentarista Paulo Roberto Falcão, que vem protelando sua resposta.

À permanência de Scolari estão vinculadas outras duas: a do auxiliar-técnico Flávio Teixeira, o Murtosa e a do preparador-físico, Paulo César Paixão. Já o coordenador-técnico Antônio Lopes deixa a comissão-técnica.

Lopes assegurou que seu desejo é o de voltar a dirigir clubes. O coordenador-técnico da seleção afirmou já ter recebido, inclusive, dois convites, um do Botafogo e outro do Atlético-PR. Mas, preferiu participar da reunião com Teixeira, antes de anunciar oficialmente sua saída da comissão-técnica.

O supervisor-técnico Américo Faria e o médico José Luiz Runco, não vão deixar a seleção. Faria é o mais experiente da equipe e já trabalhou em quatro Copas do Mundo. A eficiência do profissional é inconstestável, tanto que foi chamado às pressas, para socorrer Scolari e Lopes, inexperientes em mundiais.

Runco é outro que se tornou uma unanimidade na seleção brasileira. O médico, desde a saída do técnico Zagallo, em 1998, vem resistindo a todos os treinadores que passaram pela equipe, como Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão.

“Não tenho mais vínculo com a CBF e dependo de eles me chamarem”, informou Runco, que permanecendo não vai se desfazer do restante da equipe médica. “Mas, dentro de um programa estabelecido, tenho o desejo de seguir adiante com o trabalho. Por enquanto, sigo trabalhando no Flamengo, como sempre foi.”

Com o quadro de permanência dos principais integrantes da comissão-técnica resolvido, ficam faltando apenas um dos mais cobiçados cargos: o de assessor de Imprensa. Atualmente ele é ocupado por Rodrigo Paiva, que dificilmente permanecerá, porque desempenha as mesmas funções para o craque Ronaldo, da Internazionale, de Milão.

Há quem aposte na CBF, que Paiva pode continuar na seleção e, a exemplo dos jogadores, só exercer sua função na época em que a equipe estiver reunida. O que não atrapalharia seu trabalho com Ronaldo, já que o Fenômeno é a principal unanimidade da seleção e sua ausência em qualquer lista, hoje, é impensável. Neste caso um outro profissional seria contratado para cuidar dos assuntos relativos à entidade.

Amistoso

A seleção brasileira vai realizar, em agosto, um jogo comemorativo da conquista do pentacampeonato mundial. A princípio o confronto será contra o México, em Fortaleza, no dia 21, data autorizada pela Fifa para a realização de amistosos.

A única chance de não ser a seleção mexicana é a de que eles exigiam o cachê de US$ 100 mil (cerca de R$ 280 mil) para enfrentar o Brasil. A CBF não aceita pagar esta quantia e ofereceu, em contrapartida, atuar contra os mexicanos em novembro, no dia 20 (outra data da Fifa), no México ou em Miami, nos Estados Unidos.

Neste caso, a CBF estuda a possibilidade de não cobrar o valor de US$ 500 mil (cerca de RS 1.400 milhão), de cachê que vinha cobrando antes da Copa do Mundo, para enfrentar times em fora do Brasil. Além disso, a entidade se dispôs a pagar transporte e hospedagem para o adversário.

Troca de comando: rotina

Antero Greco

São Paulo (AE) – A poeira da disputa do primeiro Mundial na Ásia mal baixou e já começaram as mudanças. Até agora, 19 das 32 equipes que estiveram na Coréia do Sul e no Japão anunciaram troca de comando em suas respectivas comissões técnicas. As substituições mais traumáticas se concentram, por enquanto, nos times de ponta que decepcionaram e saíram na primeira fase. A campanha ruim da França, campeã em 98, deixou a prêmio a cabeça de Roger Lemerre. Como não teve agilidade suficiente para levar o time pelo menos para as oitavas-de-final, o sucessor de Aime Jacquet foi demitido pouco depois de retornar para casa. Os dirigentes ainda procuram nome para substituí-lo.

Marcelo Bielsa é outra vítima da decepção. O treinador da Argentina viveu período de pompa, ao dirigir a equipe com mão de ferro nas eliminatórias. Mas os tropeços contra Inglaterra e Suécia tornaram sua situação insustentável. Não deu outra: soube que havia perdido o cargo.

Situação semelhante à de Antonio Oliveira, responsável pela melhor formação de Portugal nos últimos tempos. Rui Costa, Figo e companhia foram fiasco em campos coreanos, também não validaram bilhete para a segunda fase e provocaram a queda do técnico.

Sobrou também para o vizinho da Península Ibérica. A Espanha chegou às quartas-de-final e foi “garfada” de forma escandalosa diante da Coréia do Sul. A eliminação aborreceu tanto Antonio Camacho que resolveu abandonar o posto.

Carinho foi o que restou para Guus Hiddink. O holandês que comandou a Coréia na histórica campanha do quarto lugar decidiu aceitar proposta do PSV e retornou a seu país. O francês Philippe Troussier, guru do Japão, fez o mesmo – e está cotado para comandar a seleção de casa. Há também aqueles que encerraram ciclo. O sérvio Bora Milutinovic saiu da China com a sensação de dever cumprido – e está aberto a negociações, como bom mercador do futebol. O mexicano Javier Aguirre vai para o Osasuna, da Espanha, e o brasileiro Alexandre Guimarães se sentiu realizado por orientar a Costa Rica, seu país de adoção.

Brasileiros valorizados

Antero Greco

São Paulo (AE) – O título mundial, conquistado duas semanas atrás, começa a reabrir portas para técnicos brasileiros no mercado internacional. O primeiro a sentir os efeitos positivos do pentacampeonato é Zico. O antigo craque do Flamengo foi convidado a assumir o comando da seleção do Japão, dois dias depois de Cafu ter levantado a taça no Estádio de Yokohama. Aceitou e inicia o trabalho em outubro. Renê Simões, que guiou a Jamaica em 1998, nesta semana será apresentado como treinador de uma seleção da América Central, que faz questão de ainda manter em segredo. O nome de Carlos Alberto Parreira está na lista de candidatos a substituto de Antonio Oliveira, em Portugal.

“Essa procura é conseqüência da campanha da seleção”, constata Candinho. Com a experiência de quem trabalhou no futebol árabe – classificou a Arábia Saudita para a Copa de 94 -tem certeza de que surgirão novos convites. O prestígio sobe, as ofertas aparecem, mas o desafio é também desgastante. Para superá-lo com relativa naturalidade, há regras a serem seguidas. “É imprescindível conhecer o país, os jogadores, o modo de jogar”, adverte Candinho, que assumiu a seleção árabe depois de ter passado por clubes locais. “Às vezes, existe resistência das associações de treinadores locais contra estrangeiros”, admite Paulo César Carpegiani, que levou o Paraguai ao Mundial da França, quatro anos atrás. Ambos apostam no sucesso de Zico porque é respeitado pelos japoneses, pelo passado como jogador e pelo trabalho como dirigente do Kashima Antlers. “Mas é bom que leve gente experiente, como o Edu, irmão dele”, observa Renê Simões. “O Zico ainda não tem a vivência do dia-a-dia como treinador e uma comissão formada por profissionais mais rodados só lhe será favorável.”

Renê prepara-se para nova temporada no exterior, com a missão de levar um time médio à Alemanha, em 2006. “Acho fascinante o trabalho com seleções”, reconhece. “Especialmente quando o projeto é de médio e longo prazos”, festeja. “Porque se trata da única maneira de ter tempo de preparar uma geração, sem preocupação com resultados imediatos.”

Quem conhece bem o que significa trabalhar no exterior é Carlos Alberto Parreira. Além de ter sido campeão mundial com o Brasil, em 94, comandou o Kuwait em 82, os Emirados Árabes em 86 e a Arábia Saudita em 98.

Parreira, Renê, Carpegiani fazem parte do grupo de brasileiros que já estiveram em mundiais com equipes de fora. O precursor foi Otto Gloria, terceiro colocado com Portugal, em 66. Daqui a quatro anos, alguns podem repetir a experiência, na Alemanha. Por conta do pentacampeonato.

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