Um ano de Furacão pelo Brasil

Há um ano, o Atlético enfeitava a cidade de vermelho e preto e mostrava para o Brasil um novo jeito de se fazer futebol. Um clube moderno, que aliava a estrutura física com a raça dos velhos tempos, arrasando os adversários como o velho Furacão de 1949. Que contagiava o País com sua torcida empolgante e atemorizava qualquer um que pisasse no gramado da Arena da Baixada. Os gritos de ‘ê-ô, ê-ô, Atlético-ô-ô’ deixavam os rivais atordoados enquanto os guerreiros rubro-negros em campo tratavam de completar o serviço. Uma sincronia perfeita que deu a estrela dourada que faltava, deixando o clube “no céu”.

A conquista do Campeonato Brasileiro de 2001 foi um marco para o Atlético. Foi o primeiro título no novo milênio e antecipou ao país a volta do futebol alegre, vibrante e ofensivo, que se viu depois na Copa do Mundo da Coréia e do Japão e no Brasileirão deste ano. Os gols, os dribles, as jogadas, quase todos ainda estão bem presentes na mente do torcedor. O que muita gente não sabe são algumas passagens pitorescas nos bastidores da competição. Na semana passada, o editor de esportes, Armindo H. Berri, e o repórter Rodrigo Sell, da Tribuna, reuniram os dois principais dirigentes da conquista para um jantar. Nele, o presidente e o diretor de futebol na época, Marcus Coelho e Valmor Zimmermann, respectivamente, contaram que teve até a ajuda de pai-de-santo para ser campeão, mas que com um time daqueles, não tinha como perder a competição. Colaborou .

Teve até pai-de-santo e diretoria quase foi presa

“Teve pai-de-santo sim. Quem levou eu não sei, mas no dia da final, contra o São Caetano, nós estávamos lá no hotel e, no café da manhã ou no almoço, aparecia um fulano, te cumprimentava, segurava tuas mãos e te olhava nos olhos. Depois, a gente perguntava quem era a figura e diziam que era um sensitivo que trouxeram aí. Mas que toda ajuda é bem-vinda, é bem-vinda. Você não pode dispensar.”

(Marcus Coelho)

Aeroporto

“O Atlético tinha fretado um avião com a TAM para voltar (de São Caetano). Saímos do estádio e fomos para Congonhas porque decolava de lá. Aí, veio uma tempestade e disseram que a nave não poderia descer em São Paulo. Nós perguntamos: como assim não pode descer? O avião está fretado? Responderam que estava vindo do Nordeste para levar vocês. Tudo bem, tinha que ir para Guarulhos. Pegamos um ônibus para Cumbica, com chuva e tudo. Chegamos lá e cadê o avião? Não poderia descer em Congonhas, mas não tinha descido em Guarulhos também. Não tinha vindo do Nordeste. Aí passa a hora, os caras (a delegação atleticana) começam a se irritar e os caras da TAM começaram a mentir. O Fleury (Luís Augusto, coordenador jurídico na época) ficou louco. Disse que eles estavam mentindo, enrolando e um funcionário ameaçou prender ele. Aí o Fleury quis agredir o cara e quase agrediu. Chamaram a Polícia Federal, ia todo mundo preso, e só acabamos saindo de lá mais de meia-noite.”

Valmor Zimmermann

Pombal estava proibido, mas Cléber ouviu: `Fedido’

“Havia muitas reclamações dos árbitros, dos jogadores do time adversário e até alguns de nossos atletas estavam comentando que tinha muita cobrança daquele lado. Eu levei para votação de diretoria o fechamento do pombal e nós ganhamos. O Mário (Petraglia) foi o único que votou contra, mas aceitou. Fechamos o pombal. No dia do jogo, eu olhei para lá e não acreditei. Estava o Mário e o Marcus (Coelho) gesticulando lá.”

(Valmor Zimmermann)

“Fedido”

“Na partida contra a Portuguesa, aquele Cléber (atacante que fugiu do CT do Caju e acertou com o Coritiba) entrou em campo e o Mário começou a chamar ele de `fedido’. O Cléber lá embaixo respondeu: “Ô, presidente, eu não tenho culpa. Foi o meu procurador.”

(Valmor Zimmermann)

A decolagem

“Na minha modesta avaliação, a coisa começou de dentro de campo para fora. Os profissionais sentiram a possibilidade de ganhar o título, acreditaram nessa situação e foi um movimento crescente. O dirigente, nesse momento, acredita desacreditando. Ele tem sempre um pé atrás e eu achei que os profissionais foram positivos. De todo o momento da campanha do Atlético, o mais marcante foi o 5 a 1 na Ponte Preta, em Campinas. O time fez um jogo magnífico e sem dois titulares. No final do jogo, eu fui ao vestiário e me acendeu aquela luz de que estávamos no caminho do título.”

(Marcus Coelho)

Previsão correta

“Após essa vitória contra a Ponte Preta, conversando com o Geninho sobre o futuro do clube, ele desenhou a trajetória do Atlético até o final. Contra quem ele iria jogar, contra quem ele não queria jogar, contra quem ele queria jogar e como ele iria vencer. Ele só não acertou tudo porque ele não queria jogar contra o São Paulo e o Atlético Mineiro. Ele me disse que a torcida do Galo é terrível e que o São Paulo é um time muito poderoso, mas disse que iria disputar a final contra o São Caetano.”

(Marcus Coelho)

Mário Sérgio

“O Mário Sérgio disse que iria fazer aquilo (pedir demissão). Ele quis mexer com os brios dos jogadores. Foi uma coisa que ele primeiro avisou e depois fez. Em verdade, ele era um daqueles, lá do campo, que achavam que o Atlético iria ser campeão brasileiro. O time tinha a preparação de 45 dias, o Mário ficou lá no CT, foi feita uma pré-temporada muito interessante, e ele nos passava uma confiança muito grande. Ele achava que era uma equipe que tinha muitas qualidades, recuperou o Cocito perante aqueles que não acreditavam no jogador. O Mário Sérgio quis dar uma sacudida no elenco para deixar uma responsabilidade para os jogadores.”

(Marcus Coelho)

Treinador

“Os treinadores, na minha opinião, são quase todos iguais. A diferença é o salário. O cara comete o erro logo no início, na metade ou no final.”

(Valmor Zimmermann)

Melhor técnico

“Para mim tem o Geninho e depois vêm os outros. É o cara que nos levou ao título, é um sujeito sensacional, afável, aglutinador. Se eu for presidente de novo do Atlético, o meu treinador será o Geninho.”

(Marcus Coelho)

Dinheiro

“Não tinha bicho atrasado, não tinha salário atrasado e ninguém nunca pediu, nem insinuou que precisava de mais prêmio. A gente combinava o prêmio no início do ano, nós (diretoria) fazíamos uma reunião e dávamos uma cópia do que era combinado para o capitão do time. Aquilo que estava ali era cumprido.”

(Valmor Zimmermann)

Tristeza

“A coisa mais triste da nossa decisão foi não poder ter voltado cedo para Curitiba para dividir com a torcida a alegria que a gente estava sentindo. Nós sofremos uma pressão muito grande da imprensa nacional para que o Atlético não voltasse para cá e ficasse em São Paulo para participar dos programas gerados lá. Isso custou duríssimas críticas, depois fomos criticados nominalmente por um apresentador porque nós nos recusamos a aceitar um convite do programa. Todo mundo queria chegar para festejar com a torcida.”

(Marcus Coelho)

Diretoria fez “análise”. E segurou Nem

“A Suzy Fleury chegou para nós e disse que precisava fazer um trabalho com a diretoria do clube. Ela falou que precisava colocar em consonância a direção do clube e esse espírito que existia dentro do pessoal profissional (de ser campeão). E foi feito. Não que ela identificasse naquele momento uma situação que estava irradiando um movimento contrário. Nada disso. Ela disse que fez o trabalho dentro do campo, com a comissão técnica e que precisava ouvir a diretoria para saber se a direção estava sintonizada nesse clima. Isso foi no Hotel Rayon, na terceira rodada do brasileiro. A reunião foi muito proveitosa e revelou coisas muitos interessantes.”

(Marcus Coelho)

Geninho salva Nem

“No episódio do Mário Sérgio e a chegada do Geninho houve uma cobrança muito grande em cima dos jogadores, devido àquela situação de que eles estariam fazendo ‘festas’. O Nem estava na corda bamba, prestes a ser desligado do elenco. Quando nós recebemos o Geninho, passamos a ele como estava o elenco, a nossa preocupação em relação à disciplina e, especificamente em relação ao problema do Nem. O Geninho me disse o seguinte: “o Nem é problema meu, eu assumo a responsabilidade sobre o Nem. Se porventura o Nem me decepcionar, aí eu vou ser o primeiro a dizer que ele precisa ser desligado.”

(Marcus Coelho)

Alex Mineiro

“A Suzy Fleury (psicóloga) fez uma trabalho muito interessante. Ela traçava um perfil de cada jogador. Era mais ou menos assim: jogador que afrouxava em momentos de tensão, outros que cresciam e reagiam, alguns que se não existia cobrança não se motivavam e o diagnóstico em relação ao Alex Mineiro era exatamente aquele que se provou dentro de campo. Num momento em que ele é cobrado, quando é requisitado, ele chama a responsabilidade para si.”

(Marcus Coelho)

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