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Uênia é suspensa por 4 anos em terceiro caso de doping de ‘clã’ do ciclismo

Das quatro primas do chamado ‘clã Fernandes’, que domina o ciclismo de estrada no País há anos, só uma nunca foi punida por doping. Duas estão suspensas e fora da Olimpíada do Rio. Na terça-feira à noite, Uênia Fernandes foi novamente julgada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do Ciclismo e recebeu quatro anos de suspensão. Ela teve resultado analítico adverso para EPO (eritripoetina) e havia sido inicialmente inocentada pelo tribunal, em julgamento muito contestado pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD).

Em dezembro, o STJD entendeu que supostos erros de procedimento na colheita do exame invalidam o resultado adverso para o hormônio sintético utilizado para produzir glóbulos vermelhos e ajudar na resistência. A ABCD invalidou o julgamento, alegando que não foi intimada a participar dele, como manda o Código Brasileiro Antidoping.

O médico português Luis Horta, um dos maiores especialistas mundiais no combate ao doping, ex-presidente da agência antidoping portuguesa e do conselho dos laboratórios da Agência Mundial Antidoping (Wada), foi quem comandou o exame surpresa realizado na seleção brasileira que viria a disputar os Jogos Mundiais Militares, ganhando o bronze por equipes no feminino, em outubro.

De acordo com ele, o exame começou às 16h e só terminou um pouco antes da meia-noite, “porque muitos atletas propositadamente se hiperidrataram”. A amostra com urina muito diluída não é válida para o antidoping. Ainda segundo Horta, Uênia foi uma das responsáveis por prolongar o exame.

“Ela teve uma série de urinas diluídas, que não foram aceitas. Só a última, colhida às 23h, teve uma densidade adequada, por isso foi enviada para a análise. Todas as amostras diluídas deram negativo e isso demonstra que o controle deveria mesmo ter sido prolongado”, defendeu Horta. O fato de o exame ter demorado mais do que o previsto foi um dos argumentos da defensoria pública para inicialmente conseguir a absolvição de Uênia.

O procedimento para casos de doping por EPO é conhecido do clã Fernandes. Márcia, prima de Uênia, teve resultado analítico adverso para o hormônio sintético após ser campeã brasileira de 2014. Naquela competição, só as campeãs do adulto (Márcia) e do sub-23 (Nayara Gomes Ramos) foram submetidas a exames antidoping. Ambas deram positivo para EPO e foram suspensas por dois anos. Ainda estão cumprindo suspensão e estão fora do Rio-2016.

Clemilda, irmã de Márcia, testou positivo para EPO em 2009, em exame realizado durante o Giro Rosa (versão feminina do Giro D’Itália). Neste ano, Uênia foi quem disputou o Giro, terminando no 42.º lugar. Por conta da participação nesta volta ciclística, ela não esteve nos Jogos Pan-Americanos.

Representante do Brasil em Toronto, Clemilda não teve amostra de sangue colhida no teste surpresa que flagrou Uênia, porque, após três tentativas, o profissional responsável não conseguiu “encontrar” uma veia. “Eu sou médico e posso atestar que, como ela tem umas veias muito muito difíceis, foi mesmo impossível. E o código fala que só pode fazer três tentativas”, explica Horta. O teste de Janildes, que nunca foi pega no doping, deu negativo.

As três fazem parte do programa de alto rendimento das Forças Armadas. Uênia, como as primas, é 3º sargento da Força Aérea Brasileira (FAB). Com a mesma patente, Alex Arseno também testou positivo para EPO no exame surpresa comandado pela ABCD em outubro. O ciclista, que é reincidente, se desculpou por uma rede social e anunciou que vai se aposentar.