A Uefa desafiou a Fifa ao decidir manter Michel Platini como seu candidato à presidência da entidade máxima do futebol e não escolher sequer um novo presidente, apesar da suspensão de 90 dias imposta pela comissão de ética da associação mundial. Os europeus ainda prometem levar a Fifa à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês), a instância máxima. A atitude é uma demonstração de força do bloco que controla boa parte das finanças do futebol mundial e que já não exclui a ideia de esvaziar a influência da Fifa.

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Depois de um dia todo de reuniões na sede da Uefa em Nyon, os cartolas europeus anunciaram que darão “apoio total” ao francês. Platini foi suspenso depois que o Comitê de Ética da Fifa estimou que ele não teria dado explicações suficientes sobre 2 milhões de francos suíços recebidos das contas da entidade dirigida por Joseph Blatter, em 2011.

O pagamento levou o Ministério Público da Suíça a abrir uma investigação contra Blatter e questionou Platini na condição de “pessoa de interesse”. A Uefa insistiu que ele teria sido ouvido apenas como testemunha, o que foi negado pelas autoridades de Berna. O francês alegou que o dinheiro teria sido um salário atrasado, relativo a serviços prestados nove anos antes. Mas sua explicação não convenceu o Comitê de Ética da Fifa que o suspendeu. Na prática, isso implicaria em seu afastamento de qualquer tipo de campanha para a presidência e sua postulação poderia inclusive ser rejeitada. O afastamento também significaria que a Uefa teria de buscar um novo presidente.

Mas a entidade do futebol europeu optou por esnobar a Fifa. Platini continua sendo o candidato dos 54 países do continente e não haverá por enquanto um novo presidente da Uefa. O espanhol Angel Villar Llona, o atual vice-presidente do bloco europeu, passará a ter poderes para assinar documentos e administrar a entidade. Mas não ganhará o título de presidente interino. “Villar não é o presidente interino nem o atual presidente”, explicou Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa.

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O espanhol, porém, comandou as reuniões, mas ainda na condição de vice-presidente. “No estatuto da Uefa, não há nada que diga que alguém precisa ocupar esse cargo enquanto o presidente não estiver”, disse.

Advogados de Platini explicaram a questão dos pagamentos aos 54 membros da Uefa, que, ao final, emitiu um comunicado. “Apoiamos o direito de um processo justo e para que Platini possa limpar seu nome”, declarou. “Pedimos a todas as instâncias na Fifa e na Corte Arbitral do Esporte para trabalhar rapidamente para que haja uma decisão em um mês”, insistiu.

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Infantino garantiu que houve um amplo apoio ao francês e a não condenar alguém “por conta de artigos de imprensa”. “Todos apoiaram Platini como um indivíduo, o que fez pelo futebol europeu”, declarou o secretário-geral. “Quem definirá isso será uma corte”, insistiu, sem dar detalhes sobre a origem do dinheiro.

RACHA – A atitude é considerada como uma demonstração de rejeição às decisões tomadas pela Fifa, o que abre a especulação sobre um eventual racha no futebol mundial. Apoiada pela Conmebol, a Uefa não esconde que a crise na Fifa poderia levar as duas entidades continentais a buscar um entendimento para esvaziar o grupo com sede em Zurique e comandado até pouco tempo por Blatter.

O racha já preocupa patrocinadores que, por contratos milionários, estão ligados aos Mundiais de 2018 e 2022. Televisões ainda tem contratos com a Fifa para a Copa de 2026. Agora, querem saber o que ocorrerá com seus compromissos e investimentos.