Trio-de-ferro discute futuro da FPF

A queda de Onaireves Moura mudou pouca   coisa no futebol do Paraná. Após 22 anos, o controvertido cartola foi obrigado pela Justiça Desportiva a deixar o comando da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Porém, os três principais clubes do Estado continuam divididos, em uma feroz disputa política.

Moura foi punido com seis anos de suspensão pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por desvio de recursos e sonegação. Para substituí-lo, seus vice-presidentes escolheram um deles, Aluízio Ferreira, para dirigir a FPF até o final do atual mandato, em abril de 2008.

A saída, que segue o estatuto da entidade, foi recebida de formas distintas pelos presidentes do trio-de-ferro. Para o Atlético, ferrenho adversário de Moura, nada muda. Afinal, a FPF segue sob o comando dos parceiros do ex-presidente, que continuaria dando as cartas por debaixo dos panos.

Já Coritiba e Paraná manifestam apoio a Aluízio Ferreira. Seus presidentes confiam nas promessas de uma nova gestão e saneamento das dívidas feitas pelo novo mandatário. E dizem não acreditar que a entidade esteja sob as ordens indiretas de Moura.

Confira a seguir as opiniões de João Augusto Fleury, do Furacão; Giovani Ginédis, do Coxa, e José Carlos de Miranda, do Tricolor.

Fleury: ?Estrutura é viciada?

Tribuna – Como o Atlético vê a indicação de Aluízio Ferreira para dirigir a FPF até abril de 2008?

João Augusto Fleury – Não o conheço, mas a nossa preocupação não é com o indivíduo. É com o grupo que controla a federação há 22 anos. Ele faz parte desse grupo, dessa política que o Atlético combate.

Tribuna – Existe outra saída legal para substituir Moura neste momento?

Fleury – O que falta é vontade política. Se ele quiser, convoca uma assembléia com todos os filiados, reformula o estatuto da federação e convoca novas eleições. Se não, ele vai até o final do mandato e faz uma nova eleição, com o mesmo estatuto e toda essa estrutura viciada.

Tribuna – Por que o Atlético não quer eleições nos moldes atuais?

Fleury – Estamos trabalhando em uma realidade viciada, em que as ligas amadoras têm o mesmo peso de clubes profissionais. São estatutos elaborados por quem está no poder há 22 anos, com objetivo de se perpetuar. É público e notório que existem ligas fantasmas, com objetivo estrito de dar sustentação eleitoral a esse grupo.

Tribuna – Então, o Atlético só participará com novos estatutos?

Fleury – Essa é a única hipótese que o Atlético aceita. Não podemos participar de um processo onde quem se eleger terá poderes absolutos. Nós não queremos eleições. Queremos uma transformação, uma ruptura institucional na federação.

Tribuna – Existe alguma articulação entre os clubes nesse sentido?

Fleury – O Atlético está isolado. Somos os únicos que têm coragem de se opor. Outros clubes são omissos. E dirigentes, como os de outros clubes da capital, andam de braços dados com o presidente afastado.

Miranda: ?Sou candidato?

Tribuna – O que o senhor achou da indicação de Aluízio Ferreira para presidir a FPF?

José Carlos Miranda – Achei normal. Foi a saída encontrada, de acordo com o estatuto da federação. Se, juridicamente, foi esse o caminho seguido, o Paraná não vai contestar.

Tribuna – Ele é um bom nome para dirigir a FPF até abril de 2008?

Miranda – Não o conheço, só superficialmente. Assim como todos os vices da federação. Alguns, se encontrar na rua, nem conheço. Foi uma decisão tomada entre eles, de acordo com o estatuto.

Tribuna – Comenta-se que o Moura continua dando as cartas, já que a diretoria eleita com ele permanece…

Miranda – Veja, a situação da federação é muito difícil. Todas as suas fontes de renda estão penhoradas. O Aluízio não tem como mudar tudo de uma vez. Não é só chegar dizendo que ?prende e arrebenta?. Tem que fazer uma mudança gradual, para em 2008 assumir uma nova diretoria. E daí o Paraná vai ter um candidato, pois há muito tempo só mandam Atlético e Coritiba.

Tribuna – O senhor é candidato?

Miranda – A princípio, sim. No fim deste ano, termina meu mandato no Paraná e vou continuar no futebol. Se o clube achar que é uma boa… Daí vamos procurar outros apoios, pois só o do Paraná Clube não basta. E também existem outros candidatos muito bons, como o (empresário) Joel Malucelli.

Gionédis: ?Não é a saída, mas é a lei

Tribuna – O Coritiba concorda com a indicação de Aluízio Ferreira para presidir a FPF até abril de 2008?

Giovani Gionédis – É uma indicação normal. Ele é o vice-presidente eleito pelo seus pares. Cabe a nós apoiá-lo para que possa fazer um bom trabalho.

Tribuna – O senhor acredita que essa é a melhor saída para substituir Moura neste momento?

Gionédis – Não é a melhor saída. É a lei. Numa situação como essa, quando ocorre um imprevisto como esse, não se pode rasgar o estatuto. Se ele diz que os vices devem escolher um novo presidente, é isso o que deve ser feito.

Tribuna – Como quase toda a diretoria da FPF foi mantida, comenta-se que Moura continua dando as cartas na entidade…

Gionédis – Acho que isso não acontece. É outra pessoa e cada cabeça é uma sentença. Embora ele seja amigo do Moura, não quer dizer que fará tudo o que o outro quer. Ouvi ele dizer que pretende sanear a federação, quer se aproximar do Atlético… Tem mostrado boas idéias. Temos que confiar e tentar ajudá-lo.

Tribuna – O Coritiba está participando de alguma articulação visando às eleições de abril de 2008?

Gionédis – Por enquanto, o clube está focado em seu objetivo, que é subir para a primeira divisão. Ainda faltam mais de nove meses para a eleição. Todos vão ter tempo para se articular e lançar suas candidaturas. Muita água vai passar por baixo da ponte.

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