Tricolor pronto pra enfrentar pegada do Atlético

Sob o comando do delegado Antônio Lopes, o Atlético soube como explorar o recurso das faltas no Beira-Rio, truncar o jogo e parar o São Paulo. As seguidas infrações do time rubro-negro, sempre numa distância segura da grande área, impediram o Tricolor de impor o seu jogo em Porto Alegre.

Desta vez, no entanto, o time paulista promete que a história vai ser diferente. A ordem no Morumbi é igualar a força e disposição do adversário paranaense para, então, vencer o jogo baseado na superioridade técnica de algumas peças-chave.

"Os times do Sul têm uma pegada muito forte e jogam com bastante disposição.

O Atlético tem exatamente essas características. Se a gente conseguir igualar neste aspecto, a técnica de alguns dos nossos jogadores pode definir a partida", explicou o volante Josué.

Uma das principais virtudes do elenco tricolor que chegou até a decisão da Libertadores é formar um time equilibrado. Ao mesmo tempo em que Lugano, Mineiro e Josué deixam a alma no campo de jogo, os talentosos Júnior, Amoroso e Cicinho podem definir o resultado numa jogada.

O volante lembra da campanha tricolor no torneio continental para provar que o time é raçudo. "O São Paulo pegou isso ao longo do campeonato. Jogamos contra os times argentinos River e Quilmes e não deixamos a desejar. Temos que continuar com essa mesma raça, mas sempre jogando com lealdade", afirmou Josué.

O bom condicionamento físico exibido pelo Tricolor nesta temporada é ingrediente fundamental para atingir o objetivo. "O clube tem uma estrutura muito boa nesse sentido. O Morumbi é um campo grande e nós estamos bem adaptados. O São Paulo está preparado", resumiu Amoroso.

Contratado recentemente junto ao Málaga, o atacante garante que está na ponta dos cascos. "Eu estava em final de temporada na Europa e tive apenas 10 dias de férias, mas estou me sentindo bem preparado. Até porque, jogando no Brasil você

precisa correr mais", afirmou o jogador.

Deslealdade

Enquanto Paulo Autuori classifica o estilo de jogo do Atlético como "musculoso" os são-paulinos acham que o time paranaense atua como um time estrangeiro. Amoroso reclamou da forte pegada do adversário e gostaria que os árbitros ficassem mais atentos. Os trios estrangeiros, acostumados a deixar o jogo correr, não têm se comovido muito com estes apelos.

"O Atlético joga forte e em alguns momentos aconteceram entradas desleais que não foram punidas", reclamou Amoroso, que espera que o árbitro Horácio Elizondo iniba, amanhã, este tipo de jogada perigosa. O argentino, no entanto, também é da escola de árbitros que não marca muitas faltas.

Apesar da reclamação de Amoroso, Josué garantiu não estar preocupado com as jogadas mais violentas do adversário paranaense na Copa Libertadores. "Este tipo de competição é mesmo mais viril. O Atlético tem este estilo de jogo que chega mais junto, mas o São Paulo está preparado para isso e jamais tirou o pé", afirmou Josué.

São Paulo faz tudo pra manter cautela

O maior cuidado do São Paulo para o jogo decisivo da Copa Libertadores, amanhã, no Morumbi, é não dar combustível para o adversário. A ordem entre jogadores, comissão técnica e dirigentes é evitar declarações polêmicas que possam servir de incentivo extra para o Atlético. A diretoria garante que não armou nenhuma festa para o elenco e ordenou vigilância ainda maior sobre os jogadores no dia-dia do clube. "O Atlético é uma grande equipe e teve méritos para chegar até aqui", e "não somos favoritos, quem diz isso é a torcida e a imprensa", são as frases mais ouvidas nas entrevistas.

Até a premiação para uma possível conquista é mantida sob sigilo. Estima-se que o grupo dividirá entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão se vencer a competição continental – quantia que será reforçada com a arrecadação recorde prevista para o confronto: cerca de R$ 2 milhões.

O temor dos dirigentes é que o experiente técnico Antônio Lopes utilize esse tipo de informação para acirrar o ânimo de seus comandados, como já declarou em algumas entrevistas nos últimos dias. Mas o treinador Paulo Autuori é taxativo: o clima no São Paulo é de muito respeito ao adversário. "Aqui não tem nada disso de já ganhou", afirmou Autuori. "Estão tentando plantar notícias, inventando informações", disse.

Precaução

Um dos símbolos do que não se deve fazer numa decisão de Libertadores ocorreu no ano passado, quando o time posou para as fotografias ao lado de uma bandeira do Japão, no primeiro jogo da semifinal contra o Once Caldas, no Morumbi, em alusão à virtual conquista do título e da chance de ir disputar o Mundial de Clubes, em Tóquio. A equipe ficou no 0 a 0 e foi eliminada no segundo duelo, na Colômbia, com derrota por 2 a 1. Por isso, o emblema nipônico está proibido no Morumbi este ano.

"Aquela foi uma idéia realmente infeliz, mas o presidente Marcelo (Portugal Gouvêa) não estava sabendo, ficou muito aborrecido quando percebeu e o responsável por aquilo nem faz mais parte da diretoria", diz o precavido João Paulo de Jesus Lopes, diretor de Planejamento e Desenvolvimento. "O adversário merece sempre respeito."

O Japão também é assunto proibido entre os jogadores. Ninguém pensa sequer em projetar a possibilidade de disputar o Mundial da Fifa, em dezembro. "Não sei nada sobre esse campeonato, nem como vai ser", diz o lateral Júnior. "Só o campeão da Libertadores vai chegar lá, e nós não ganhamos nada ainda."

Sem telão fora do Morumbi

O coronel Luiz Serpa, comandante do Segundo Batalhão de Choque da PM, negou o pedido do São Paulo, que pretendia instalar um telão do lado de fora do Morumbi para que torcedores vissem o jogo de amanhã, a final da Libertadores entre São Paulo e Atlético.

"Já imaginou cinco mil torcedores sem ingresso na porta do estádio? Sairia briga, invasão, tumulto. Lógico que proibi! Na Europa é assim, os torcedores que não têm ingresso ficam a dois quilômetros do estádio", justificou-se Serpa.

Foi o presidente do São Paulo, Marcelo Portugal, quem pediu à empresa Alphavision (responsável pelo telão) para que virasse o equipamento na direção da rua. Serviço inútil.

Segundo o coronel, haverá reforço para a finalíssima. Nos clássicos, o número de policiais chega a 300. No jogo de amanhã, o "número está próximo do dobro". Ainda falta fechar alguns detalhes.

Outra preocupação da PM é a ?praça de alimentação? – o comércio de ambulantes – em frente à Praça Roberto Gomes Pedrosa. "Vou mexer na praça de alimentação. As barracas não serão removidas, não posso antecipar nosso esquema. Elas terão mais atenção", diz.

Os 30 ônibus dos torcedores do Atlético serão conduzidos em comboio. Outra medida para evitar tumulto será abertura dos portões às 18h, bem antes de o jogo começar.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também aumentou o número de fiscais. Serão 55 homens organizando o trânsito na região do estádio.

Força do time aparece no segundo tempo

Parte do sucesso do São Paulo na Libertadores está diretamente relacionada ao desempenho da equipe no segundo tempo das partidas. Em oito oportunidades o time conseguiu sair de uma situação desconfortável e reagir. A última aconteceu no primeiro jogo da decisão, semana passada, no Beira-Rio. O Atlético terminou o primeiro tempo em vantagem e o São Paulo buscou o empate na etapa final – com o gol contra do zagueiro Durval.

Tudo isso é resultado do trabalho realizado pelo restante da comissão técnica, que dá sustentação aos planos do técnico Paulo Autuori. "Quando cheguei, disse que aproveitaria tudo que o São Paulo tem de tecnologia. Tudo de ponta. Uma equipe muito boa que dá respaldo", reconhece o treinador.

É difícil encontrar um jogador do elenco que esteja "baleado" pela maratona de jogos do primeiro semestre. À exceção de Grafite, que faz tratamento para se recuperar da operação no joelho direito, mais ninguém preocupa tanto.

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